Malungagem: encontros gratuitos celebram a herança das macumbas na música popular - dia 20 de setembro
Entre setembro e novembro, três encontros gratuitos celebram a herança das macumbas na música popular, com shows de Alè e rodas de conversa em espaços históricos do Rio
Cantor carioca lança o EP IGBÀ em projeto que valoriza a cultura de terreiro, promove debates e transforma a música em ferramenta de memória e resistência
No chão batido de um terreiro em Higienópolis, um tambor começa a soar. É o ponto de partida do Malungagem – A influência das macumbas na música popular, projeto que estreia em setembro no Rio de Janeiro e que promete transformar a relação do público com a música afro-brasileira. À frente da proposta está o cantor e compositor carioca Alè (@ale.compositor), que aproveita a ocasião para lançar seu primeiro EP, IGBÀ, obra que reverencia a ancestralidade e traz a herança dos cânticos dos terreiros para o centro da cena contemporânea.
“Malungagem não é só um show. É um chamado para reconhecer que a música brasileira é, em sua essência, atravessada pelas macumbas”, explica Alè, herdeiro da tradição Banto/Yorubá e Yawô do Ilê Omo Iya Ade Omin, terreiro de candomblé da tradição Jeje onde será realizada a primeira edição.
Alè – foto de Pedro Kiua (@pedrokiua)
Produzido pela Ubuntu Cultura e Arte (@ubuntu_cultura_e_arte) em parceria com a Neggra Sim (@neggrasim), a proposta do Malungagem é simples e profunda: aproximar os terreiros da sociedade, não pela lente do preconceito, mas pelo reconhecimento da força cultural que eles irradiam. Cada encontro começa com os toques de Ngoma (o tambor) ecoando passado, presente e futuro – seguida de uma roda de conversa entre especialistas, líderes de terreiro e convidados. No fim, a música de Alè assume o protagonismo, entrelaçando tambor, poesia e canto. O projeto percorre três espaços simbólicos da cidade: dia 20 de setembro, o Ilê Omo Iya Ade Omin, em Higienópolis; em 11 de outubro, o Centro de Cultura Única, no bairro da Saúde, em plena Pequena África; e, no dia 7 de novembro, o MUHCAB - Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira, na Gamboa, onde acontecerá o grande encerramento. Para o primeiro encontro, a mesa debatedora terá o tema ‘A influência dos candomblés na música contemporânea afro-brasileira’. O projeto Malungagem foi contemplado pelo edital ‘Fluxos Fluminenses’, da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa - Secec - RJ. Em todas as apresentações haverá intérprete de libras.
Foto: Bruno Bastos (@brunobvstos) – Alè
O EP IGBÀ – que em yorubá significa “cabaça”, símbolo da vida – foi gestado coletivamente. Em 2024, Alè mobilizou uma campanha de financiamento que deu origem a cinco canções autorais: Veste teu branco, Reis Malunguinho, Ayabá, Losi Losi, Agayú. Para ouvir IGBÀ: Cliqui Aqui
Entre as músicas que ganham força no palco está “Pretas e Pretos Novos”, uma homenagem ao Cais do Valongo, porto de chegada de milhares de africanos escravizados no Rio. “É uma canção para honrar as marcas de quem desembarcou ali e transformou dor em cultura”, explica Alè, que apresenta as faixas de IGBÀ, que percorrem caminhos de resistência, fé e celebração. O repertório do show se expande ainda mais na parceria com Luiz Antonio Simas, na música “O Canto das Folhas (A Sassanha)”, poema publicado no livro Sonetos de Birosca e Poesia de Terreiro, e em releituras de mestres da tradição afro-brasileira, como Jorge Benjor em “Santa Clara Clareou” e Mestre Môa do Katendê com “Exú Onã” e “Exú Elegbara”.
(foto: arquivo pessoal)
Parceria Luiz Antonio Simas e Alè: a música ‘O Canto das Folhas (A Sassanha)’ está no set list do show
A urgência do projeto se explica em números: só no primeiro semestre de 2024, o Brasil registrou 91% das denúncias de intolerância religiosa de todo o ano anterior. Mais da metade dos casos foram contra religiões de matriz africana, sendo o Rio de Janeiro o estado mais atingido. “Cada tambor que ressoa é um ato político. Malungagem é uma resposta à violência simbólica e material que nossos terreiros sofrem todos os dias”, afirma Alè. Além do caráter cultural, o projeto também apoia economicamente as casas de axé, que poderão comercializar comidas típicas durante os eventos. “Não é só sobre música, mas sobre fortalecer a vida comunitária”, resume o artista.
Entre as contrapartidas, está o projeto “Cantando e Contando Histórias com Alè”, que leva às crianças da Ocupação Benjamim Filho, no Centro do Rio, histórias dos Orixás narradas em música. Inspirado no livro Conhecendo os Orixás, de Waldete Tristão, o projeto se alinha às Leis 10.639/03 e 11.645/08, que tornam obrigatório o ensino da cultura afro-brasileira nas escolas. “Educar é também cantar. É mostrar que Exu, Ogum, Yemanjá e Oxum não são demônios, mas pilares da nossa identidade cultural”, destaca o artista.
A palavra “malungo” vem da tradição banto e significa “companheiro de viagem”. É esse espírito coletivo que guia o projeto. Mais que um ciclo de informações e shows, o Malungagem propõe um espaço seguro de memória, pertencimento e celebração. Como cabaça que guarda a vida, o EP IGBÀ e o projeto que o apresenta são sementes de um futuro em que os tambores de terreiro não sejam alvo de preconceito, mas reconhecidos como parte essencial da música brasileira. Malungagem é, antes de tudo, um encontro: de vozes, de histórias, de resistência e de fé.
Serviço
Primeiro encontro
20/09 - Sábado
Local: Ilê Omo Iya Ade Omin
End: Rua Dr. Tavares de Mecedo, 112 – Higienópolis
13h – abertura do evento
15h - Inicio da mesa de conversa com os convidados Pegigan Anderson de Bessem e Sonia de Giku e Pai André de Oxalá. Tema: ‘A influência dos candomblés na música contemporânea afro-brasileira’
18h – Show de lançamento IGBÀ com Alè
Entrada Gratuita
Classificação livre
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