Ancestralidade em festa: Atabaque de Ouro transforma a Portela em terreiro da cultura negra

 Ancestralidade em festa: Atabaque de Ouro transforma a

 Portela em terreiro da cultura negra

 


No último domingo, 7 de setembro, a Quadra da Portela, em Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, foi tomada pela força dos tambores, pelo canto ancestral dos terreiros e pela vibração das tradições afro-brasileiras durante a 19ª edição do Prêmio Atabaque de Ouro. Reconhecido como o maior encontro de curimbeiros do Brasil, o evento reuniu representantes do Maranhão, Minas Gerais, Amapá, Mato Grosso, Rio Grande do Sul e diversos municípios do estado do Rio de Janeiro, reafirmando a importância da música e da religiosidade como expressões vivas da cultura afro-brasileira.

Criado pelo ICAPRA,  Instituto Cultural de Apoio às Pesquisas de Tradições Afro, o prêmio celebra há quase duas décadas a ancestralidade e a resistência dos povos de terreiro. Sob a direção de Marcelo Fritz, a premiação destacou grupos que venceram festivais ao longo de 2024 ou que compõem a chamada “elite dos festivais”, por sua excelência e contribuição artística. Além das apresentações musicais, o evento contou com uma feira de artesanato e gastronomia que ocupou os arredores da quadra, reunindo expositores de comidas típicas, produtos religiosos, roupas, acessórios e arte afro-brasileira, fortalecendo a economia criativa e valorizando o empreendedorismo negro.

Apresentado pela atriz Rhai Xavier e pelo influenciador Igor Benatti, também conhecido como Gorbernati, o evento teve momentos de forte emoção e celebração coletiva. “Está mais um ano na Atabaque de Ouro. Para mim é um privilégio muito grande. A Atabaque de Ouro hoje está completando o 19º aniversário, a 19ª premiação. Durante todos esses anos, o Marcelo, que é o organizador, sempre esteve ali à frente do palco, e há três anos ele deu uma oportunidade para eu estar ali também. Então, é uma responsabilidade muito grande. Eu estou muito feliz. É muito bom ver que os jovens, os que vieram antes, está todo mundo junto em prol de um único objetivo, que é a Umbanda, que é a religiosidade. E eu que canto, sou muito grato aos festivais, que são uma tradição muito antiga, e que a Atabaque de Ouro resiste com muita honra, com muita vitória”, declarou o apresentador durante o evento.

O júri técnico foi composto por nomes de grande relevância na cultura afro-brasileira e nas tradições de matriz africana: Mãe Fernanda de Obaluayê, o Babalorixá de Omoloko Carlos Sampaio, o pesquisador da cultura Bantu Euandilo, Pai Sid Soares, Beatriz Nascimento, o coreógrafo Fabio Baptista, Mãe Miriam d’Oyá, Kaio Ventura e Sebastião Casemiro. Foram premiadas as seguintes categorias: Melhor Curimbeiro, Voz Veterana, Revelação, Melhor Coreografia, Melhor Intérprete, Campeão de Títulos, Melhor Torcida, Melhor Figurino, Melhor Letra e Melhor Maquiagem. Os três primeiros colocados receberam os troféus Atabaque de Ouro, Atabaque de Prata e Atabaque de Bronze.

Entre as torcidas e grupos presentes, destacaram-se nomes como Grupo Afro Iyá Mi Dunda (Volta Redonda), Alexandre d’Ogum, Ogãs Luz do Caminho, Wellington Oliveira (Barra do Piraí), Maurício Magu, Carlinhos d’Xangô, Axé Curimba, Marcelo Passos e Grupo Baobá Music, Rômulo d’Xangô, David Tupinanmá e Axé Canto Brasil, além do Grupo Ylu Raiz Ty Alafin.

A noite foi marcada também por importantes homenagens. O tradicional bloco Cacique de Ramos e Bira Presidente foram os padrinhos desta edição e representaram a força do samba como linguagem de resistência e identidade cultural. Além deles, foram homenageados o Grupo Afro Tafaraogi, que completa 35 anos de atuação e militância cultural, e a sacerdotisa Mãe Selma de Omolú, reconhecida nacionalmente por sua luta em defesa dos direitos humanos e da liberdade religiosa.

“A cultura afro-brasileira ainda enfrenta resistência e descaso, mesmo sendo um dos pilares da identidade nacional. Este prêmio é uma forma de dizer que estamos aqui, com dignidade, história e potência. O Atabaque de Ouro não é só uma premiação, é um grito coletivo de valorização da nossa existência, da nossa música, da nossa fé”, afirmou Marcelo Fritz, diretor do ICAPRA e idealizador do evento.

Com 26 anos de atuação, o ICAPRA firmou este ano uma parceria simbólica e histórica com a Escola de Samba Portela, marcando o retorno do evento ao Rio de Janeiro em um espaço emblemático da cultura afro-brasileira. A parceria foi selada em encontro entre Marcelo Fritz e o presidente da agremiação, Fábio Pavão, reforçando os laços entre o samba e os terreiros.

A 19ª edição do Prêmio Atabaque de Ouro consolidou-se como um dos principais eventos de valorização da cultura afro-brasileira no país, reunindo tradição, inovação e resistência em uma só noite. Muito mais do que troféus, o que se viu na Portela foi um verdadeiro encontro de gerações, de cantos, de axés e de histórias que seguem sendo escritas com força, beleza e ancestralidade.










Comentários