A Palavra que Resta tem apresentações gratuitas em Niterói, Ramos e Nova Iguaçu

  

Montagem que celebra os 33 anos da companhia recebeu o 19º Prêmio APTR na categoria Atriz em Papel Coadjuvante (Valéria Barcellos)


 


Crédito Divulgação/Ricardo Brajterman


 

As dores e os dilemas de um homem que precisou ocultar a própria sexualidade por décadas, para sobreviver em meio a uma sociedade provinciana e heteronormativa, são levadas para o palco em "A Palavra que Resta", versão para o teatro do premiado livro do escritor cearense Stênio Gardel — vencedor do National Book Awards na categoria literatura traduzida —, que realizará apresentações gratuitas nas Unidades do Sesc em Niterói (11/09), Ramos (12/09) e Nova Iguaçu (13/09), através da Convocatória Sesc RJ Pulsar Palavra Líquida 2025. Sob a direção de Daniel Herz, a peça já realizou apresentações em Itaguaí e Mangaratiba, temporadas no Rio de Janeiro no Teatro Correios Léa Garcia e Teatro Laura Alvim e participação na FITA (Festa Internacional de Teatro de Angra).

 

O potente romance de estreia de Gardel percorre os conflitos familiares do protagonista, Raimundo Gaudêncio de Freitas, e as relações que ele estabeleceu depois de fugir de casa e cair na estrada, bem como as catarses e ressignificações impostas pelo destino. A encenação de Herz, que também assina a adaptação, inova na condução das vozes dos personagens: os seis atores em cena se revezam em todos os papéis. O espetáculo da Cia Atores de Laura, que celebra 32 anos de existência, traz no elenco Ana Paula Secco, Charles Fricks, Leandro Castilho, Paulo Hamilton e Verônica Reis — e a atriz convidada Valéria Barcellos, ganhadora do prêmio APTR na categoria Atriz em Papel Coadjuvante.

 

"Somos todos Raimundo. Tem uma roupa base do Raimundo, que é um macacão — entre os figurinos lindos que o Wanderley (Gomes) criou. Temos aqui uma pluralidade. Quando trabalhei na adaptação já fiz as divisões todas. Existe uma unidade em todos que o interpretam: a angústia. Raimundo experimenta a vida para poder adquirir coragem para vivê-la. Ele tem dificuldade de reconhecer o seu desejo, esconde a homossexualidade, tenta gostar de mulher, finge, trabalha com caminhoneiros, procura se proteger em meio a uma sociedade heteronormativa", conta Daniel Herz. "A forma com a qual Stênio conta essa história e a descreve com suas palavras e metáforas é tocante, profunda. Há uma beleza na tragicidade", observa o ator Paulo Hamilton.

 

Nascido no sertão nordestino, o personagem trabalha desde cedo na roça e não teve a oportunidade de ir à escola. Durante a fase de descoberta do sexo na juventude, apaixona-se pelo melhor amigo, Cícero. Após serem flagrados juntos, são demonizados e separados pelas duas famílias. "Raimundo é chicoteado pelo pai e a mãe faz ainda pior: o coloca para fora de casa, contrariando o senso comum de que as mães são mais acolhedoras. Como somos uma companhia, e teatro é brincar de ser outro, o nosso rodízio exige uma atividade cerebral do público, até porque a história vai e volta no tempo", continua Herz. . "Desta forma, o revezamento ganha também uma agilidade que a trama precisa ter em cena", acrescenta a atriz Verônica Reis.
 

Para o ator Charles Fricks, essa dinâmica cênica proposta pelo diretor humaniza a todos. "Podemos ser tanto o que oprime como o que é oprimido. Podemos ser a mão que afaga como também a que chicoteia, em nome de Deus. É importante contar histórias como essa: as pessoas precisam saber que não estão sozinhas no mundo", avalia Fricks.

 

Nesse caminho de pedras, Raimundo conhece o acolhimento justamente ao desenvolver uma amizade com uma mulher trans, vivida por Valéria Barcellos, e também por Verônica Reis e Ana Paula Secco. "Ele é transfóbico inicialmente, mas se permite se aproximar dessa pessoa. Tenho muito em comum com a Susany: já fui agredida assim como ela -- inclusive. Mas nunca lancei mão da prostituição", conta Valéria. "Acredito que a mensagem que fica é: não tenha medo de se aproximar, permita-se olhar para o outro, mas não por cima do muro. Convide-o para tomar um café. Saia dessa superficialidade", propõe.

 

Ana Paula Secco festeja o reencontro da Cia Atores de Laura, que há 6 anos não se encontrava completamente em cena, nesta montagem cuja direção de produção é uma parceria da CultConsult Produções com a Escudero Produções. "A experiência de estarmos contando essa história está sendo muito boa. A adaptação do Daniel Herz ficou muito fiel ao livro. Sinto que a peça é, no fundo, uma história de família e, por isso, nos faz passearmos pelas nossas próprias origens", diz.
 

Depois que são defenestrados e separados na trama, Cícero desaparece, deixando apenas uma carta a Raimundo, que era analfabeto. Uma vez expulso de casa pela mãe, ele passa mais de 50 anos sem saber ler ou escrever. Aos 71 anos, resolve ser alfabetizado para poder saber o que, enfim, o seu amado do passado havia lhe escrito.

 

"Infelizmente, ainda vivemos em meio a uma sociedade homofóbica e racista. O que mais me encantou nesta obra do Stênio é que ela fala de pessoas à margem da sociedade, da ideia de que a diferença produz o medo que, por sua vez, acaba levando ao ódio. Fiquei muito arrebatado ao ler o livro. Se o espetáculo mostrar quanta dor desnecessária a gente produz na sociedade, se a gente tivesse mais empatia para lidar com o outro, já valeu", torce o diretor Daniel Herz.


 

Sobre a Cia Atores de Laura

Fundada em 1992, sob a direção de Daniel Herz, a Cia Atores de Laura dedica-se desde o início ao trabalho coletivo, com o objetivo de pensar e realizar o ator como força principal do jogo cênico, em torno do qual são construídas, paralela e posteriormente, a direção, a cenografia, a vestimenta e a iluminação. Em mais de 30 anos de trabalho, a Cia já se apresentou em várias cidades do Brasil e no exterior (festivais na França e na Argentina). Tem no seu repertório 21 montagens teatrais e 23 premiações. Dentre seus últimos espetáculos, destacam-se as montagens de "Absurdo -- Pandemia" (texto: Cia Atores de Laura / direção: Daniel Herz); "Fronteiras Invisíveis" (texto: Cia Atores de Laura / direção: Daniel Herz e Luis Felipe Sá); "O Pena Carioca" (da obra de Martins Pena / direção e concepção: Daniel Herz), "Absurdo" (criação coletiva: Atores de Laura / direção: Daniel Herz), "O Filho Eterno" (do romance de Cristovão Tezza / adaptação: Bruno Lara Resende / direção: Daniel Herz), "Adultério" (criação coletiva: Atores de Laura / direção: Daniel Herz), "O Enxoval" (criação coletiva: Atores de Laura / direção: Luiz André Alvim), "As Artimanhas de Scapino" (de Molière / tradução: Carlos Drumond de Andrade / direção: Daniel Herz), "Beatriz" (do romance de Cristovão Tezza / adaptação: Bruno Lara Resende / direção: Daniel Herz).


 

Ficha técnica

Texto original: Stênio Gardel

Adaptação e direção: Daniel Herz

Com: Ana Paula Secco, Charles Fricks, Leandro Castilho, Paulo Hamilton, Valéria Barcellos e Verônica Reis

Cenário e figurinos: Wanderley Gomes

Iluminação: Aurélio de Simoni

Trilha sonora: Leandro Castilho

Programação visual: Luciano Cian

Direção de Produção: CultConsult Produções e Escudero Produções

Produção executiva: Clarah Borges

Realização: Cia Atores de Laura

Assessoria de imprensa: Dobbs Scarpa


 

Serviço

Sesc Niterói

11 de setembro / 19h

Rua Padre Anchieta, 56, São Domingos, Niterói
 

Sesc Ramos

12 de setembro / 19h

Rua Teixeira Franco, 38, Ramos
 

Sesc Nova Iguaçu

13 de setembro / 18h

Rua Dom Adriano Hipólito, 10, Moquetá, Nova Iguaçu

Classificação indicativa: 14 anos

Duração do espetáculo: 100 minutos


 

Ingressos gratuitos distribuídos por cada unidade do Sesc.

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