ESTREIA | Tapajós, com direção de Gabriela Carneiro da Cunha estreia dia 28/08, no Sesc Av. Paulista

 Em novo trabalho, Gabriela Carneiro da Cunha trata da contaminação do rio Tapajós por mercúrio

 

Após circular por países europeus, Tapajós faz sua estreia brasileira no Sesc Avenida Paulista 



 


Foto do Tapajós : ©Anouk_Maupu

 

 

Gabriela Carneiro da Cunha há mais de dez anos conduz o projeto de pesquisa em arte Margens sobre Rios, Buiúnas e Vagalumes , em que mergulha nas histórias que cercam os rios brasileiros em situação de catástrofe, em particular os da região Norte do Brasil, para escutar e ampliar seus testemunhos. Tapajós , seu novo trabalho, estreia dia 28 de agosto de 2025, no Sesc Avenida Paulista (Av. Paulista, 119 - Bela Vista), e discute a contaminação de mercúrio de suas águas e dos corpos dos humanos e não humanos que habitam o rio. A temporada acontece até 28 de setembro , com sessões de quinta a sábado, às 20h, e, aos domingos, às 18h . 

 

Tapajós é uma produção da Aruac Filmes e Corpo Rastreado, e produção associada da Associação de Mulheres Munduruku Pariri e Associação Sairé. O trabalho foi realizado em coprodução com as seguintes instituições: Théâtre Vidy-Lausanne, Wiener Festwochen, Frei Republik Wien, Festival d'Automne à Paris, Les Spectacles vivants – Centre Pompidou (Paris), Halles de Schaerbeek, Kunstenfestivaldesarts (Bruxelas), La rose des vents – scène nationale Lille Métropole – Villeneuve d'Ascq / Next festival, Théâtre Garonne (Toulouse), Festival Internacional de Verão Kampnagel. O apoio à pesquisa e desenvolvimento é do Festival Internacional de Manchester.

 

A peça, terceira etapa do projeto, também foi imaginada como uma possível resposta ao conceito de “Antropoceno”, definido pela jornalista Eliane Brum como “o momento em que os homens deixam de temer a catástrofe para se tornarem a própria catástrofe”. “A pesquisa é uma tentativa de devolver aos humanos a capacidade de escutar outras vozes”, afirma Gabriela Carneiro da Cunha. “O projeto propõe a criação de trabalhos artísticos no teatro, que é de onde eu venho, mas também no cinema, artes visuais, além de publicações, oficinas, uma rede entre mulheres, rios e arte, chamada Rede Buiúnas”, completa.

 

A primeira e segunda etapas deram origem às performances Guerrilheiras ou Para a Terra Não Há Desaparecidos (2015), em torno do rio Araguaia e as mulheres que lutaram na Guerrilha do Araguaia, e Altamira 2042 , criada a partir da escuta do testemunho do rio Xingu sobre uma catástrofe causada pela usina hidrelétrica de Belo Monte. As duas primeiras partes do projeto também geraram filmes, oficinas, debates, publicações, livros.

 

Tapajós nasceu da escuta do testemunho do rio Tapajós sobre a contaminação de suas águas pelo mercúrio proveniente do garimpo de ouro ilegal. "A pesquisa começou em 2022, durante a Assembleia do Mercúrio na terra indígena Munduruku Sayuré-Maibã, quando recebeu uma equipe da Fiocruz, liderada pelo doutor Paulo Basta, que foi entregar os resultados da pesquisa sobre a contaminação de mercúrio desse povo. Eles fizeram a pesquisa anos antes, mas não puderam entrar na terra indígena por causa da pandemia e também por causa do governo na ocasião também, que na época dificultava a entrada deles", contou Gabriela.

 

De acordo com o levantamento, os peixes estavam comprometidos e cerca de 57,9% dos habitantes locais com níveis de mercúrio acima de 6 microgramas por grama , o limite máximo de segurança estabelecido pelas agências de saúde.


Para Gabriela, a escuta da Assembleia se tornou o coração da peça. A partir desse momento, o trabalho foi criado. “São as vozes que mais ouvimos na dramaturgia, na ´tramaturgia´da peça, como prefiro chamar, porque é uma trama de vozes que vão se tecendo”, coloca a diretora.

 

A performance, então, opta por seguir o rastro desse elemento químico, transformando-o em um agente para a construção de novos mundos. Gabriela divide a cena com Mafalda Pequenino , atriz, diretora, ativista e parceira do projeto margens há 10 anos. Também no centro de encenação estão os técnicos de fotografia e performers João Freddi e Vicente Otávio.

 

O desenho sonoro é assinado por Felipe Storino . A trilha é composta por orações, músicas da Festa do Sairé, coro, sons de água do rio Tapajós e de água do útero. 

 

As duas atrizes conduzem o público, recontando esta história em uma espécie de ritual: o espaço teatral se transforma em um laboratório de revelação fotográfica analógica e depois em uma exposição de arte. A plateia é convidada a participar das duas etapas. "O mercúrio, capaz de revelar o ouro e produzir uma tragédia tão grande, também pode revelar as imagens de uma fotografia. A mesma substância tem potencial de fazer existências desaparecerem ou aparecerem e se ampliarem", diz Gabriela.

 

Mafalda Pequenino completa que nesse processo de escuta, do testemunho do velho ancestral rio Tapajós, é fundamental destacar a importância da energia feminina como potência revolucionária. “Ela nos convoca a ir pra luta com a força transformadora das águas. Não só para denunciar a violência anunciada e seus feitosres coloniais, mas para conexão das tecnologias ancestrais de cura. É urgente corporificar o encantamento nos igualando às crianças, dançando a continuidade e cantando a Terra”, coloca a atriz.

 

Mãe do rio

 

No final da Assembleia, uma conversa com a liderança Ediene Munduruku trouxe outro elemento norteador na construção do Tapajós . “Quando quis como iríamos curar o rio Tapajós, ela disse que teríamos que trabalhar com a Mãe do Rio”, conta Gabriela. Para Ediene, tudo que existe tem mãe: o rio, a floresta, o peixe. "A partir disso, essa personagem Mãe do Rio se torna um eixo central da peça, não só a Mãe do Rio, mas todas as mães. A peça vira também uma aliança multiespécie entre mães", completa.

 

Ao longo da peça, as atrizes fazem um convite às mães do público que ajudam-las no manejo das revelações e em outros processos. "Falamos da expansão do termo mãe, do que significa ser mãe, entendendo que todo corpo pode habitar uma mãe. Não se trata de conceber, de engravidar, de ter um filho, mas de criar mais vida", coloca as atrizes.

 

Como parte da escuta de território, a equipe participou do Festival Sairé, em Alter do Chão, uma das festas populares mais antigas do Brasil, com um encontro sincrético entre a cultura indígena e a cultura católica. 

 

Em 2023, acontecia uma escuta no ATL – Acampamento Terra Livre, o maior encontro indígena na capital do Brasil. Por fim, em 2024, uma pesquisa voltou a Santarém e a Alter do Chão com o objetivo de aprofundar a conversa em torno da dimensão da maternidade trabalhada na performance e a aliança com a figura da mãe do rio. “Focamos mais na questão da mãe do rio, dessa encantaria, em todo aspecto esse outro lado do mundo, que também é uma camada importante da peça, que é a dimensão espiritual sempre junto da luta”, diz Gabriela.

 

Para as atrizes, criar imagens é também uma tecnologia de encantaria e, ao longo da encenação, elas produzem um líquido revelador de fotografia feita de ervas. “Distribuímos esses materiais para a plateia macerar, principalmente as mães, e revelamos fotos que depois ficaram expostas”, conta a artista idealizadora.  

 

Sobre Gabriela Carneiro da Cunha

 

A artista brasileira atua nas áreas de performance, direção, pesquisa e ativismo artístico ambiental. Sócia da Aruac Filmes, é idealizadora do projeto Margens – Sobre Rios, Buiúnas e Vagalumes, uma iniciativa multidisciplinar dedicada à criação artística a partir da escuta de testemunhos de rios brasileiros em situação de catástrofe.

 

O projeto originou performances como Guerrilheiras ou Para a Terra Não Há Desaparecidos (2015), Altamira 2042 (2019) e Tapajós , além de documentários, publicações, debates, oficinas e a Rede Buiúnas — uma articulação entre mulheres, rios e arte. Mais recentemente, descobri a aquisição de um território às margens do rio Xingu, destinado à criação de um espaço de residência artística.

 

As obras Altamira 2042 e Tapajós vêm construindo uma trajetória de circulação internacional, integrando a programação de importantes festivais e teatros, como Théâtre Vidy Lausanne, Festival d'Automne à Paris, Centre Georges Pompidou, Wiener Festwochen (Viena), Kampnagel (Hamburgo) e Kunstenfestivaldesarts (Bruxelas), entre outros.

 

Gabriela também co-dirigiu, ao lado de Eryk Rocha, o filme “A Queda do Céu”, baseado na obra homônima do xamã Yanomami Davi Kopenawa e do antropólogo Bruce Albert. Produzido pela Aruac Filmes e pela Associação Hutukara Yanomami, o filme estreou na Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes, em 2024.

 

Sinopse

Tapajós é uma performance nascida da escuta do testemunho do rio Tapajós sobre a contaminação de suas águas pelo mercúrio proveniente do garimpo de ouro ilegal. Essa é a terceira parte do Projeto Margens sobre Rios, Buiúnas e Vagalumes que dura mais de dez anos pela artista Gabriela Carneiro da Cunha. Uma performance emerge de uma aliança multiespécie entre mães - mães da região do Tapajós, mães Munduruku, mães do Sairé, a mãe do peixe, a mãe da floresta, e, por fim, a mãe do rio - propondo que todo corpo pode ser habitado por uma mãe. Não se trata apenas de conceber, mas de criar e sustentar a vida. Gabriela segue desenvolvendo sua linguagem artística alimentada pela escuta profunda dos rios amazônicos, pela investigação das fronteiras entre ritual e performance, pela participação ativa do público e pela conexão simbólica entre o mercúrio, que revela o ouro na água, e o processo fotográfico - com o teatro transformado em laboratório.

Ficha Técnica

Concepção e direção: Gabriela Carneiro da Cunha e o Rio Tapajós
Com: Gabriela Carneiro da Cunha e Mafalda Pequenino
Criação em processo: Sofia Tomic, João Freddi, Vicente Otávio, Mafalda Pequenino e Gabriela Carneiro da Cunha
Assistência de direção: Sofia Tomic
Fotografias: Gabriela Carneiro da Cunha, Vicente Otávio e João Freddi
Técnica fotográfica: João Freddi e Vicente Otávio
Edição de imagens: Gabriela Carneiro da Cunha, João Freddi, Marina Schiesari, Sofia Tomic e Vicente Otávio
Edição de texto: Manoela Cezar, Gabriela Carneiro da Cunha, João Marcelo Iglesias e Sofia Tomic
Dramaturgia: Alessandra Korap, Maria Leusa Munduruku, Ediene Munduruku, Cacica Isaura Munduruku, Ana Carolina Alfinito, Paulo Basta, Julia Ferreira Corrêa, Rosana Farias Mascarenhas, Dalva de Jesus Vieira, Osmar Vieira de Oliveira, Celiney Eulália de Oliveira Lobato, Rodrigo Oliveira, Mauricio Torres e Eric Jennings
Tradução Munduruku-Português: Honesio Dace Munduruku
Direção técnica e iluminação: Jimmy Wong
Assistente de iluminação: Matheus Espessoto
Som: Felipe Storino
Técnica de som e criação multimídia: Bruno Carneiro
Figurinos: Sioduhi
Cenografia: Sofia Tomic, Ciro Schu e Jimmy Wong
Cenografia da exposição: Marina Schiesari
Consultoria: Raimunda Gomes da Silva, Dinah de Oliveira e Tomás Ribas
Apoio e parcerias: Associação Fotoativa e Clube do Analógico

Assessoria de imprensa: Canal Aberto - Márcia Marques, Daniele Valério e Flávia Fontes

Administrativo/Financeiro: Alba Roque e Tárik Puggina

Produção Associada: Associação de Mulheres Munduruku Pariri e Associação Sairé
Produção no território: Carolina Ribas
Produção: Ariane Cuminale e Yara Ktaish
Produção geral: Gabi Gonçalves
Realização: Sesc 

Produção geral: Corpo Rastreado, Aruac Filmes, Théâtre Vidy-Lausanne e Projeto Margens
Distribuição na Europa: Théâtre Vidy-Lausanne
Coprodução: Théâtre Vidy-Lausanne, Wiener Festwochen | Frei Republik Wien, Festival d'Automne à Paris, Les Spectacles vivants – Centre Pompidou (Paris), Halles de Schaerbeek, Kunstenfestivaldesarts (Bruxelas), La rose des vents – scène nationale Lille Métropole – Villeneuve d'Ascq / Próximo festival, Théâtre Garonne (Toulouse), International Summer Festival Kampnagel
Apoio à pesquisa e desenvolvimento: Manchester International Festival

 

Serviço
Tapajós
Dados: 28 de agosto e 28 de setembro, de quinta a sábado, às 20h, e, aos domingos, às 18h. Sessões com acessibilidade: 18, 19 e 20/9 Libas; 21/9 audiodescrição
Local:
 Sesc Avenida Paulista - Av. Paulista, 119 - Bela Vista
Entrada:
 R$ 50,00 (inteira), R$ 25,00 (meia), R$ 15,00 (credencial plena)
Telefone:
 (11) 3170-0800
Duração:
 90 minutos | Classificação: 16 anos

 

Comentários