Resistência: os amores de Benjamin Britten e Tchaikovsky sob a lente do Orgulho LGBT+

 

Música, afetos e resistência: os amores de Benjamin Britten e Tchaikovsky sob a lente do Orgulho LGBTQIA+

 

Durante o Mês do Orgulho, Rafael Fonseca, do Guia dos Clássicos, reflete sobre duas histórias de compositores que viveram intensamente suas emoções em tempos e contextos muito distintos, uma marcada pela liberdade e parceria, outra pela repressão e silêncio.
 



27 de junho de 2025- No mês que é celebrado do orgulho LGBT+, o criador do Guia dos Clássicos, Rafael Fonseca, lança um olhar sensível e provocador sobre a

vida íntima de dois gigantes da música erudita: Benjamin Britten e Piotr Ilitch Tchaikovsky. Dois compositores, dois contextos históricos, e uma mesma verdade: o afeto também compõe.

 

Britten viveu no século XX e se destacou como o principal compositor inglês de sua geração. Escreveu obras marcantes, como a ópera da coroação da Rainha Elizabeth II, e teve uma relação afetiva e artística profunda com o tenor Peter Pears. Não era segredo: eles dividiam palco, casa e vida. Há vídeos tocantes dos dois juntos no YouTube, Britten ao piano, Pears interpretando canções de Schubert. A parceria foi tão marcante que, na cidade natal de Britten, existe até hoje um festival de música de câmara batizado com o nome dos dois: Britten-Pears Arts.

 

Mas nem sempre foi possível amar com liberdade. Cem anos antes, na Rússia czarista, Tchaikovsky viveu sua sexualidade sob sigilo e tensão. Em um país onde a homossexualidade era criminalizada, ele manteve relações com jovens músicos e escreveu cartas a familiares sobre seus sentimentos, muitas delas escondidas por décadas. Uma dessas relações foi com Yosif Kotek, violinista com quem compartilhou uma viagem à Itália e para quem chegou a compor seu famoso concerto para violino. Por medo do escândalo, desistiu da homenagem.

 

Em 1877, pressionado pelas normas sociais da época, Tchaikovsky casou-se com uma admiradora, Antonina Miliukova, um casamento que durou semanas e quase o levou a um colapso. No mesmo ano, iniciou uma troca intensa de cartas com sua patrocinadora, a aristocrata Nadezhda von Meck, que financiou sua produção artística com uma única exigência: que nunca se encontrassem pessoalmente.

 

No fim da vida, o compositor se aproximou do sobrinho “Bob” Davydov, a quem dedicou sua última e mais melancólica obra: a Sinfonia nº 6 – Patética, que termina com um Adagio Lamentoso, desafiando o final triunfante esperado de uma sinfonia. Poucos dias após a estreia, Tchaikovsky morreu. Por muitos anos, especulou-se que Tchaikovsky teria cometido suicídio ao contrair cólera de forma proposital, ao beber água contaminada durante um jantar. No entanto, documentos revelados a partir dos anos 1990 indicam que ele realmente contraiu a doença, em um local sem as devidas condições sanitárias.

 

“A vida desses compositores mostra que, mesmo em tempos adversos, o afeto encontra formas de se expressar, às vezes publicamente, às vezes nas entrelinhas das partituras. A música sempre foi um espaço onde emoções silenciadas pela sociedade podiam soar com força e beleza.” Rafael Fonseca, criador do Guia dos Clássicos

 

Duas histórias, dois tempos, e um mesmo desejo de viver e criar com verdade. Enquanto Britten e Pears puderam transformar amor em música com liberdade, Tchaikovsky compôs sob a sombra do silêncio. Ainda assim, ambos deixaram legados que transcendem o tempo. Porque, como lembra Rafael Fonseca, “a música sempre soube falar do que não se podia dizer em voz alta”.

 

O Guia dos Clássicos, criado por Fonseca, busca promover a escuta consciente da música clássica, incentivando os ouvintes a se conectarem com a história por trás das obras e a encontrarem paralelos com suas próprias vidas e desafios. "A música é cultura, afeto e, mais do que tudo, uma ferramenta de desenvolvimento humano", diz Fonseca, convidando empresas e profissionais a explorarem esses aprendizados em suas práticas diárias.

 

Sobre Rafael Fonseca e o Guia dos Clássicos:

Rafael Fonseca é o criador do Guia dos Clássicos, uma plataforma dedicada a tornar a música clássica acessível e relevante para o público contemporâneo. Com quase duas décadas de experiência no cenário musical, Fonseca acredita no poder transformador da música e em como ela pode ser vivida de forma mais humana e consciente. O Guia dos Clássicos propõe uma escuta que vai além do simples ato de ouvir, convidando os ouvintes a se aprofundarem na história e na interpretação das grandes obras da música clássica.

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