Grupo Xingó traz o espetáculo de dança Estado Escuro para
o Sesc Belenzinho
Só começaremos a enxergar alguma coisa
quando não houver mais nada a ver.
É preciso tempo para adentrar nos escuros das corpas.
Tempo de investigar minuciosamente quais
ferramentas nos servem e quais podemos abrir mão
O espetáculo
Uma amizade não seria também guardadora de memórias? Testemunhar de distintos pontos de vista as mesmas histórias e, décadas depois, revivê-las pelas profundezas do encontro: relacionamentos, filhos, mortes, mudanças, infância, velhice. Estado Escuro, essa zona abissal que abriga ancestralidades, medos e profundidades, é o nome do novo espetáculo do Grupo Xingó, com estreia para dezembro no Sesc Belenzinho, que narra sem preocupação com a linearidade temporal, a vida de duas mulheres, artistas e inquietas. Do enlace entre elas, a recriação do mundo.
Erika Moura e Gisele Calazans, depois de uma década afastadas, voltam à cena nesse enlace entre vida e obra. As duas intérpretes, referências na linguagem do Contato improvisação, transitam com facilidade entre a dança e o teatro, num improviso que reflete a pesquisa na Cia. Nova Dança 4 e Estúdio Nova Dança, com mestras como Tica Lemos e Cristiane Paoli Quito. Na maturidade e menopausa do agora, investigam com radicalidade as suas movimentações. Estados de presença múltiplos nessas corpas completamente entregues ao inevitável risco desse funeral dos desejos que é a improvisação.
A equipe, convidada a dedo, é composta pela direção jovem e ousada de Ana Carolina Marinho e Dandara Azevedo, ambas do Estopo Balaio, trazendo as pautas indígenas urbanas mais recentes e trespassando a criação numa delicadeza de olhar que escuta as intérpretes e as convoca. Para o diálogo permanente desse improviso, a atriz/mc e DJ Dani Nega, traz em seu set musical elementos eletrônicos em diálogos com instrumentos do bumba-meu-boi: tambor onça, matracas e pandeirão, criando uma atmosfera, criando viva e pulsante.
“Durante o processo, buscamos construir intimidade com o escuro, cultivar a capacidade de se aproximar do desconhecido – de si, des outres, dos tempos passados em comum, dos afastamentos.” Ana Carolina Marinho
Com produção e projeto de Natália Siufi, que recupera, pela poética da oralidade, as vozes das avós, as ladainhas do bumba-meu-boi de Cajari, no Maranhão e os aboios da Mestra Lourdes de Tanquinho, do interior da Bahia, a obra pretende elaborar esse rastro da memória de uma amizade que, de tão particular, torna-se universal. Na luz, Marisa Bentivegna, uma das maiores referências nessa linguagem que arquiteta, em tempo real, o cenário e a narrativa, dentro da obra.
“Será possível que as experiências de mais de vinte anos de nossas próprias danças, nos deem coragem de criar para além dos padrões conhecidos e que estão grudados em nossas musculaturas?” Gisele Calazans.
As referências para composição vêm de diferentes territórios: as complexas flechas do tempo da plataforma Ciclo Selvagem; as reflexões de Castiel Vitorino, Carlos Papa e Nego Bispo; o material para coluna de Steve Paxton; as “tuning scores” de Lisa Nelson; o “underscore” de Nancy Stark Smith; o Body-Mind Centering da Bonnie; e as matrizes brasileiras das danças maranhenses, ressignificadas por Dandara Azevedo. Estado Escuro é um convite a um mergulho, nessa dramaturgia de entrelaçamento que põe em diálogo as memórias, rompendo as fronteiras de tempo-espaço. Tem estado escuro entre nós. Há quanto tempo?
Sinopse
Tem estado escuro entre nós. Como se estivéssemos que nos apresentar. Qual foi a morte que te trouxe aqui? Você lembra? Os tempos movem as memórias de lugar, a química das células caminha. Tem estado escuro entre nós. Há quanto tempo?
Xingó – O Grupo
“Não há lugar seguro. Nada garante o improviso da intérprete, a certeza da obra, a funcionalidade dos passos. Não temos o que vender. DANÇAMOS! Não como latas na prateleira de cores, a qual os senhores brancos escolherão a de melhor aparência. Dançaremos JUNTES. Como as labaredas, como os trovões, como restos de estrelas cadentes, que só servem para fazer verrugas!”
O Grupo Xingó existe, teimosamente, há 17 anos, como grupo de dança e teatro, na zona leste da cidade, produzindo e circulando arte, sistematizando metodologingas do seu fazer, buscando parcerias dentro da categoria e para além dela, em movimentos, fóruns e redes. Nosso processo foi construído por meio de uma poética que inclui a dança à vida e que, portanto, se constrói nela. Seja por meio das tarefas aplicadas ao coletivo em relação à “casa-sede”, seja nas inúmeras participações estéticas em cenários sociais de luta, seja no encontro com o público, na festa, no debate intenso, na itinerância, incansável batalha pelas práxis... Nosso teatro ganhou corpo na vida em movimento, não no isolamento.
A experiência de vinte anos de trajetória com as mestras Cristiane Paoli Quito e Tica Lemos, criou como referência a prática do contato improvisação e da palhaçada aliados à dança-teatro e à consciência corporal e educação somática. O intercâmbio com o Grupo Parlendas, em 2012, agregou as experiências do teatro de rua, da militância como prática, das vertentes e matrizes populares do mamulengo e do bumba-meu-boi, e de um circuito de territórios de resistência que enriqueceram e deram um recorte mais específico para o trabalho das corpas. Em 2013 o Grupo muda o nome para Xingó, que é água que corre entre pedras. Xingó é também região do rio São Francisco percorrida pelo movimento do cangaço nordestino, atual pesquisa da cia., que nos últimos anos tem verticalizado o estudo sobre mulheres brasileiras inseridas em processos de disputa contra o capitalismo.
A casa-sede Tekoha, criada há 9 anos, já recebeu aulas e cursos gratuitos de danças brasileiras, balé, teoria teatral, orixalidades, contato improvisação, aikidô, sonoridades populares, teatro de rua, teatro de bonecos popular do nordeste, Body Mind Centuring, Pilates, Dança-Teatro e outras formações, sempre patrocinadas por projetos públicos. Nos últimos 6 anos temos verticalizado os estudos em referências de-coloniais, negras, africanas da diáspora, indígenas, camponesas, traçando entre literaturas invisibilizadas e corpas esquecidas novas histórias. Um grupo que prioriza as pessoas lgbtqiapn+, entre intérpretes, convidades, artistes visuais e em cada possibilidade de parceria e trabalho.
Ficha técnica:
Direção: Ana Carolina Marinho e Dandara Azevedo
Atuação intérpretes-atuadoras: Erika Morais e Gisele Calazans
Dramaturgia Sonora, MC e DJ: Dani Nega
Criação de Luz: Marisa Bentivegna
Dramaturgia: Ana Carolina Marinho, Dandara Azevedo, Erika Moura e Gisele Calazans
Preparação Vocal: Priscila Magella
Vozes off: Fátima Azevedo, Mestra Lourdes de Tanquinho, Ladainha do Boi Brilho de Ouro de Cajari, Encontro dos Bois de Baixada de Matinha (MA).
Projeto, Captação de Vozes e Produção: Natália Siufi
SERVIÇO
Espetáculo: Estado Escuro
De 6 a 8 de dezembro de 2024.
Sexta e sábado, às 20h, aos domingos, às 17h
Sesc Belenzinho - R. Padre Adelino, 1000 – Belenzinho
Ingressos: R$ 50,00 (inteira) / R$ 25,00 (meia) / R$ 15,00 (credencial plena).
Classificação etária: A partir de 12 anos
Duração: 50 minutos
Estacionamento
De terça a sábado, das 9h às 21h. Domingos e feriados, das 9h às 18h.
Valores: Credenciados plenos do Sesc: R$ 8,00 a primeira hora e R$ 3,00 por hora adicional. Não credenciados no Sesc: R$ 17,00 a primeira hora e R$ 4,00 por hora adicional.
Transporte Público
Metro Belém (550m) | Estação Tatuapé (1400m)
Comentários
Postar um comentário