No dia 29 de Janeiro de 2004, um grupo de ativistas trans foi ao Congresso Nacional exigir respeito por todas as pessoas trans e travestis, esse foi o marco para o Dia da Visibilidade Trans.
Mas o que é a Visibilidade Trans?
Infelizmente vivemos numa sociedade machista, misógina e é exatamente o que alimenta a transfobia, que causa o apagamento, a invisibilidade e a violência contra existências trans.
Somos existências, temos deveres sociais mas nossos direitos são negados, desrespeitados. Somos existências, precisamos comer, trabalhar, nos vestir, nos divertir, ter relações interpessoais e amorosas, mas isso tudo nos é negado.
99,9% das pessoas trans no mundo estão na prostituição, e não é por opção, é imposição. Não conseguem terminar os estudos por causa das violências emocionais que sofrem nas escolas e até mesmo violências físicas, são expulsas de casa, não conseguem ter um emprego no mercado de trabalho formal.
Hoje mesmo li um monte de pessoas contestando sobre o Brasil ser o país que mais assassina travestis no mundo, não tem como negar, é fato, todos os anos a Antra - Associação Nacional de Travestis e Transexuais - traz dados assustadores sobre esses crimes.
E muitos tentam relativizar, dizem que morrem pessoas todos os dias, mas essas pessoas morrem só porque existem, alguém morre só por ser héterossexual, cisgênero?
Sabemos que não, assassinatos trans são pra acabar com existências!
Sempre lembro do texto da socióloga Berenice Bento que faz uma leitura sobre como essas mortes são ritualizadas e a intenção é assassinar o feminino, sim, o feminino é odiado... As mortes precisam incluir a dor, é ódio, por isso as multilações, os espancamentos antes de finalmente arrancar a vida.
" ... Se o feminino representa aquilo que é desvalorizado socialmente, quando este feminino é encarnado em corpos que nasceram com pênis, há um transbordamento da consciência coletiva que é estruturada na crença de que a identidade de gênero é uma expressão do desejo dos cromossomas e dos hormônios. O que este transbordamento significa? Que não existe aparato conceitual, linguístico que justifica a existência das pessoas trans. Mesmo entre os gays, é notório que a violência mais cruenta é cometida contra aqueles que performatizam uma estilística corporal mais próxima ao feminino. Portanto, há algo de poluidor e contaminador no feminino (com diversos graus de exclusão) que precisam ser melhor explorados...
... A pessoa é assassinada porque além de romper com os destinos naturais do seu corpo-generificado, faz isso publicamente..
... A morte ritualizada. Não basta um tiro fatal, ou uma facada precisa ou um
atropelamento definitivo. Os corpos são mutilados por dezenas de facadas, por inúmeros tiros. Os corpos são desmembrados pelo peso do carro que o atropela várias vezes... "
Infelizmente somos invisíveis para a sociedade, ou quando nos percebem é para excluir, violentar, assassinar.
Hoje até temos aliados héterossexuais, cisgêneros no combate a transfobia, mas precisamos de mais, precisamos que pessoas trans sejam socializadas, precisamos que donos de empresas ofereçam empregos para população trans, precisamos que cursos, escolas ofereçam acesso a educação para essas pessoas, precisamos que tenham acesso a saúde, precisamos que suas necessidades básicas sejam supridas como as de qualquer ser humano.
O Dia da Visibilidade Trans é um grito para que pessoas trans sejam humanizadas!
Vida longa aos transfóbicos, para que assistam a ascenção do Império Trans!
Laylah El Ishtar é Ativista Trans e Beauty Stylist.
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