Fotos : Paulo Barbuto
Peça une linguagens artísticas diversas para colocar em cena um encontro fictício ocorrido em Viena, em maio de 1933, entre Freud e Einstein. A montagem tem dramaturgia adaptada por Rodrigo Matheus a partir do texto original de Allain Didier Weill, psicanalista, dramaturgo e escritor francês
A montagem põe em cena uma trupe circense ensaiando o texto Freud-Einsten, Maio de 1933 com pirâmides, malabares e subidas, com discussões sobre ciência, política e semelhanças perigosas entre o passado e o presente
O espetáculo Freud-Einstein, Maio de 1933 tem como mote uma troca de cartas real ocorrida em 1932 mas ambientado em um encontro fictício entre Sigmund Freud (1856 – 1939) - o pai da psicanálise -, e Albert Einstein (1879 – 1955), físico teórico responsável por propor a Teoria da Relatividade Geral. A partir deste ponto nasce a nova peça da companhia Circo Mínimo, que estreia dia 23 de janeiro de 2021, com exibição gratuita nas redes sociais de diversas unidades de CEUs. Adaptada por Rodrigo Matheus, a peça foi escrita pelo psicanalista, dramaturgo e escritor francês Alain Didier-Weill (1939 – 2018). O projeto foi contemplado pela 9ª Edição do Prêmio Zé Renato de Teatro para a cidade de São Paulo - Secretaria Municipal de Cultura.
Após cada uma das exibições, Rodrigo faz uma conversa ao vivo com o público sobre os conceitos abordados no texto e a situação política do ano de 1933, em paralelo com os dias atuais. O trabalho foi concebido já no âmbito digital, com direção assinada pela cineasta Lygia Barbosa, diretora de Larte-se, Lutando para vencer e Haenyeo - A Força do Mar, entre outros. Rodrigo Matheus está em cena como Albert Einstein ao lado de Karen Nashiro (Anna Freud) e Joca Andreazza (Sigmund Freud), além do músico Leonardo Padovani.
Sobre o texto de Alain Didier-Weill
‘Freud-Einstein: Maio de 1933” foi escrito pelo psicanalista e dramaturgo francês Alain Didier-Weill e foi baseado na troca de cartas que realmente ocorreu entre Einstein e Freud, em 1932, cartas estas que foram publicadas mais tarde com o título de “Por que a guerra?”. Além do dado real da correspondência entre as duas figuras emblemáticas do século XX, o autor insere em seu texto dramatúrgico um encontro ficcional, supostamente ocorrido em 10 de maio de 1933, no dia em que Joseph Goebbels, então Ministro de Propaganda de Hitler, fez um importante pronunciamento à nação alemã.
Na troca de cartas, Freud buscou compreender os movimentos subjetivos, os sintomas e sofrimentos daquela sociedade em que estavam inseridos e acabou por elencar elementos fundamentais da trama social e dos principais impasses civilizatórios da contemporaneidade. Nessa dimensão, as questões que Einstein lhe endereçara acerca da destrutividade e malignidade do homem, exacerbadas desde a Primeira Grande Guerra e pela significativa insegurança vivida no entreguerras, ecoou menos apaixonante em Freud do que Einstein imaginou. E isto elevou o tom das cartas, o que faz com que o encontro se torne uma troca de acusações, situação que vai se tornando cada vez mais insustentável. Ana Freud, filha do psicanalista, exerce o papel de contraponto, questionando as duas figuras e incitando outros temas para o debate.
Segundo Rodrigo, é possível traçar um paralelo entre esse período anterior à Segunda Guerra ao que vivemos hoje em dia. “Nestes dois momentos da história há um cenário de negacionismo, polarização política e líderes políticos tiranos”, afirma o artista. A questão prossegue bastante atual e evidencia as (de)formações sociais e os encaminhamentos políticos da atualidade no mundo e, em nosso caso específico, no Brasil.
A MONTAGEM
A relação com a arte circense, especialidade do Circo Mínimo, está presente de um modo bem peculiar na peça: os artistas interpretam uma trupe que irá ensaiar o texto Freud-Einstein, Maio de 1933. O recurso potencializa tanto o aspecto teatral quanto o circense. Ao longo do espetáculo, há movimentos como pirâmides, malabares e subidas. “Nós estamos encenando artistas mambembes, o que também é uma citação ao circo feito no começo do Século XX, em que havia textos ensaiados poucos dias antes da apresentação”, conta Rodrigo.
A estética precária foi reforçada pelo trabalho do cenógrafo e figurinista Marco Lima, que trouxe à cena elementos de um circo abandonado, como roupas velhas, cordas, trapézios e lixeiras de palhaço. O acompanhamento musical de Leonardo Padovani ajuda a dar o tom da discussão entre os dois cientistas. A gravação do espetáculo foi realizada em três noites e a captação de vídeo está registrada por meio de longos planos-sequência e cortes de câmera fixa.
EINSTEIN
O que você escreveu sobre a natureza humana governada por duas pulsões sem dúvida é algo muito penetrante. Mas isso diz respeito apenas ao que é eterno no homem. Você não deixou que se escutasse uma única palavra do que você teria a dizer sobre o que se passa, aqui e agora, em maio de 1933, quando triunfam Hitler, o antissemitismo, as ideias sobre a arte degenerada, sobre a grandeza dos arianos... Estou começando a me irritar.
FREUD
É verdade, você está prestes a perder a calma.
EINSTEIN
Como você consegue manter a calma nessas circunstâncias?
FREUD
Isso não é uma qualidade Albert, é o meu maior defeito. Não me deixo levar pela emoção.
EINSTEIN
Por que não quer ou por que não pode?”
ALAIN DIDIER-WEILL (1939 – 2018)
Psicanalista e dramaturgo. Foi membro da École Freudienne de Paris, fundada por Jacques Lacan. Um dos idealizadores do Inter-Associatif de Psychanalyse, criou a Association Insistance (Paris/Bruxelas). Autor de vários livros, entre os quais Lacan e a clínica psicanalítica, Nota azul: Freud, Lacan e a arte, Os Nomes do Pai e Un mystère plus lointain que l’inconscient. Entre suas peças de teatro, destacam-se Pol, Les trois cases blanches e Vienne 1913.
SOBRE A COMPANHIA
Companhia de espetáculos de circo/teatro e referência no circo contemporâneo brasileiro, o Circo Mínimo foi fundado em 1988 por Rodrigo Matheus, com o espetáculo de mesmo nome, em parceria com Alexandre Roit e Camila Bolaffi (Espetáculo indicado ao prêmio MAMBEMBE - Categoria revelação, pela pesquisa de linguagem). Produziu Prometeu (Prêmios de Melhor Espetáculo do Festival de Curitiba de 1996, prêmio do público, e de Melhor Espetáculo de Rua, prêmio da crítica, no mesmo Festival), Deadly (Vencedor do III Festival de Teatro Físico e Visual da Cultura Inglesa e em 1999, do Total Theatre Awards - People's Choice, Melhor Espetáculo de Teatro Físico, na opinião do público do Fringe Festival de Edimburgo, Escócia), Gravidade Zero, História de Pescador, NuConcreto, João e o Pé de Feijão, Simbad, o Navegante (Em 2015, foi o espetáculo mais premiado no Prêmio São Paulo de Incentivo ao Teatro Infantil e Jovem; recebeu o prêmio de Melhor Espetáculo do ano, segundo o jornal O Estado de São Paulo, e de segundo melhor espetáculo, pelo jornal Folha de São Paulo), entre outros. Já apresentou espetáculos na Espanha, Inglaterra, Escócia, Alemanha, Colômbia, México e Argentina, além de diversos estados brasileiros.
SINOPSE
Freud-Einstein, Maio de 1933 explora um encontro fictício entre dois ícones da ciência livre, Sigmund Freud e Albert Einstein, logo após ambos terem tido a oportunidade de atacar a ascensão do Terceiro Reich em correspondência patrocinada pela Liga das Nações (o embrião da ONU), e o que os leva a discutirem suas falhas e inseguranças.
FICHA TÉCNICA
A partir do texto original de Allain Didier Weill, tradução de Cristiane Cardoso Lollo
Direção: Lygia Barbosa
Elenco: Karen Nashiro (Anna Freud), Joca Andreazza (Sigmund Freud), Rodrigo Matheus (Albert Einstein) e Leonardo Padovani (Músico)
Concepção e adaptação do texto: Rodrigo Matheus
Consultoria Dramatúrgica: Alexandre Roit
Direção de Fotografia: Paulo Gambale (Maká)
Direção de Arte (Cenografia e Figurinos): Marco Lima
Iluminação: Gabriel Greghi
Trilha sonora: Leonardo Padovani
Direção de Atriz e Atores: Carla Candiotto
Coordenação Geral: Rodrigo Matheus
Produção: Marcela Marcucci
Assistência de Produção: Priscila Guedes e Ulisses Dias (Bará Produções)
Programação Visual: Fernando Sato – CasadaLapa
SERVIÇO
FREUD-EINSTEIN, MAIO DE 1933
Após cada sessão, Rodrigo Matheus entra ao vivo para um bate-papo com o público
CEU Parque Bristol
23 de janeiro de 2021
Sábado, 10h e 14h
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CEU Aricanduva
29 de janeiro de 2021
Sexta-feira, 15h e 18h
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CEU Alvarenga
30 de janeiro de 2021
Sábado, 10h e 14h
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CEU Navegantes
6 de fevereiro de 2021
Sábado, 10h e 14h
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CEU Paraisópolis
11 de fevereiro de 2021
Quinta, 14h e 16h
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CEU Inácio Monteiro
12 de fevereiro de 2021
Sexta, 10h e 14h
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Duração: 60 min. | Classificação: 14 anos
Redes Sociais do Circo Mínimo
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