Fonte: Lau Francisco
Grupo formado por quatorze viajantes,
influenciadoras digitais negras almeja a ruptura de estereótipos e paradigmas
estabelecidos à mulher que viaja sozinha.
No filme “Estrelas
além do Tempo”, quatro mulheres negras desafiam o apartheid ao provar sua
competência profissional na realização que levou o homem à lua, lutando contra
o preconceito arraigado na hierarquia da NASA. Sem medo de errar, podemos fazer
um paralelo desta conquista com a luta das mulheres do BITONGA TRAVEL.
Elas reconstroem estereótipos na junção de suas experiências pessoais viajando
sozinhas pelo mundo, com objetivo de compartilhar vivências pessoais, impactar
e proporcionar mudanças no setor do turismo. O lançamento do projeto
acontece dia 09 de janeiro, às 20h, no Aparelha Luzia (Rua Apa,78 – São Paulo).
Idealizado pela
viajante Rebecca Aletheia, o projeto tem o objetivo de incentivar mulheres
negras a conhecer não só o vasto mundo como também suas próprias cidades,
empoderando-as, desta forma, a engrandecer sua visibilidade e
autoestima. Em dezembro de 2018, na praia da Guaiuba, Guarujá, litoral sul de
São Paulo, ocorreu o primeiro encontro das mulheres deste projeto. Quatorze
viajantes de diferentes lugares transformaram a viagem à praia no seu grande
escritório, pautando questões de negritude feminina no espaço turístico.
Bitonga é uma língua bantu, de tronco nígero-congolês, falada mais
especificamente na região do Inhambane, no Moçambique. Acentuada e belíssima
traz consigo traços fonológicos semelhantes aos sons do português brasileiro.
Uma questão comum entre todas as
participantes foi o fato de que as mulheres negras não se sentem representadas
pelo turismo, sendo muitas delas por vezes excluídas e desconsideradas no meio
turístico hoteleiras.
“Reunir mulheres negras viajantes da
América Latina e Caribe têm muito significado para outras mulheres. Muitas
vezes elas se vêem sozinhas no espaço de viagem. Isso acontece porque é difícil
encontrar mulheres negras viajando por conta da própria economia. Uma mulher
negra recebe menos que uma mulher ou homem branco, elas estão nas periferias,
não têm acesso ao centro da cidade, cuidam das casas, dos filhos, da família,
da mãe, pagam aluguel, ou seja, são vários os fatores que impedem”, explica
Rebecca Aletheia, que já viajou por diversos países, como Argentina, Peru,
Bolívia, Venezuela, Moçambique, Àfrica do Sul, Uzbequistão, Turquia, Portugal,
França, Espanha, entre outros.
A condição da mulher negra citada por
Rebecca justifica-se em números. Em março de 2018, o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que se para
as mulheres brancas a queda na ocupação de postos de gerência foi de 1,2 ponto
percentual entre 2012 e 2016 — passando de 39,7% para 38,5% dos cargos —, para
as negras foi de 4,7 pontos no mesmo período — caindo de 39,2% para 34,5%. As
mulheres negras também têm salários menores, tanto em relação a homens e
mulheres brancos quanto em relação a homens negros. Segundo estudos, as
mulheres que conseguem delegar mais as tarefas domésticas são as de classes
sociais mais altas, em sua maioria mulheres brancas. Portanto, uma mulher negra
viajar pelo globo terrestre, sozinha, é uma forma de estreitamento das
fronteiras e também de ascensão social.
Entretanto o projeto lembra que viajar
não é somente se deslocar para o exterior, fazer um plano de viagem,
hospedar-se num hotel de prestígio. Viajar vai muito além disso. Viajar é sair
da própria região e ir para o centro da cidade, viajar é visitar nossa tia na
cidade vizinha, ou quando visita-se o bairro em que cresceu. Segundo Rebecca,
outros encontros acontecerão e as experiências e vivências dessas mulheres
poderão ser conferidas pelas redes sociais. O projeto vai unificar essas
vivências e reforçar o conceito de mulher negra circulante que quer
ocupar os lugares que lhe foram negligenciados.
Serviço
Lançamento Projeto Bitonga Travel - Dia
09 de janeiro, às 20h, no Aparelha Luzia
(Rua Apa, 78, Santa
Cecília – São Paulo)
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