Músico denuncia show em que negro é alvo de piada racista


Por: Redação - Fonte: Afropress


S. Paulo - “Quando o Gianechini ficou doente, só porque ele é viado, falaram que ele tem AIDS. Se fosse Aids seria normal porque ele transa globais. Dizem que a Aids vem do macaco, o que não é verdade, porque senão eu teria Aids. Afinal eu sempre como macaco, não é mesmo?”, pergunta Felipe Hamachi ao músico negro Raphael Lopes, 24 anos, tecladista da Banda Frigazz, encerrando a participação com mais uma das piadas infames do show “Proibidão do Stand-up" promovido pelo Kitsch Club, casa de espetáculos da Zona Sul de S. Paulo.

No momento seguinte, Hamachi se afasta da frente do palco e as luzes recaem sobre o tecladista que fica sem ação, enquanto cerca de 250 pessoas reagem aos gritos e gargalhadas.

Foi isso o que aconteceu no show “Proibidão do Stand-up Comedy" (Comédia de pé, na tradução livre do inglês), que teve como mestre de cerimônias, o ator pornô Alexandre Frota e, entre os comediantes, Danilo Gentili, apresentador do “Agora é Tarde”, da TV Bandeirantes. Os ingressos foram vendidos a R$ 60,00.

O tecladista, alvo da piada - conhecido no meio artístico como Rapha DanTop - disse que ficou sem saber o que fazer. “Pensei em reagir, mas refleti: vou perder minha razão. Esperei um pouco, fiquei uns cinco minutos no palco, liguei para minha esposa e depois chamei a Polícia”, relata.

Já na rua, outros participantes do show, entre os quais, Rodrigo Capella, o procuraram para conversar e ainda o acusaram de ser ele o racista. “Se fosse o Marrom [Marcelo Marrom, que é negro] você não estaria fazendo isso, o preconceituoso é você”, afirmou ao músico ainda trêmulo.

“O gerente da casa, cujo primeiro nome é Edson, falou que eu não era profissional. Um dos donos da casa, o Marcelo Skykman, também ficou contra mim”, continua.

Polícia

Segundo Raphael, com a chegada da viatura da PM, as pessoas passaram a se aglomerar em frente a casa, mas os policiais alegaram que tinha se tratado de um mal entendido. Hamachi, o autor da piada racista, chegou a se dirigir a ele para pedir desculpas e afirmou que não tinha tido intenção de ofender.

O show “Proibidão”, que tem Gentili como estrela maior, porém, não usa como alvo apenas negros, segundo o músico. “A piada contra mim foi uma das mais leves”, comentou ele ao jornalista Felipe Oliveira, do Jornal Folha de S. Paulo e para a Afropress.

Além de negros, crianças, gays, portadoras de deficiência, mulheres também são vítimas de agressão. "Só namorei com mulheres com defeito - cega, muda -, mas a pior foi uma cadeirante", foi uma das mais "amenas" que integram o repertório bizarro dos auto-proclamados comediantes.

Numa delas, Bruninho Mano, faz apologia da pedofilia e agride portadores de deficiência física. “É melhor comer uma criancinha de 5 anos do que uma cadeirante porque a cadeirante não tem firmeza nas pernas”, falou para delírio da platéia.

Admissão

O Kitsch Club é especializado em festas temáticas, e fica na Avenida Vergueiro, Vila Mariana, Zona Sul de S. Paulo. Na entrada do "Proibidão", além do termo que os frequentadores tinham de assinar, os seguranças proibiam a entrada com câmeras e celulares numa tentativa de evitar a produção de provas.

Nesta sexta-feira, 16/03, às 14h, o músico se reúne com seu advogado, Dojival Vieira, e com pessoas que tem manifestado solidariedade nas redes sociais, para anunciar as medidas que serão tomadas no âmbito administrativo, criminal e civil.

Segundo o advogado, além da representação pedindo instauração de Inquérito Policial, serão tomadas providências nos âmbito administrativo - com base na Lei 14.187/2010, que pune na esfera administrativa, os crimes de discriminação - e na área cível, por meio de uma ação de indenização por danos morais.

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