'Mural da Memória' questiona heranças da ditadura militar e estreia temporada popular em SP | de 20 a 30/11 no Teatro Manás
Com dramaturgia de Ave Terrena, Mural da Memória faz estreia de temporada popular no Teatro Manás
O mais recente trabalho do LABTD reflete sobre os impactos permanentes da ditadura
Mural da Memória, do LABTD - Foto de Renato Mangolin
Mural da Memória, novo trabalho do LABTD - Laboratório de Técnica Dramática, tem dramaturgia de Ave Terrena e direção de Diego Moschkovich, e mergulha nos efeitos da ditadura militar na sociedade brasileira e seu impacto ainda hoje. O espetáculo faz a estreia da temporada popular no Teatro Manás (R. Treze de Maio, 222 - Bela Vista, São Paulo), entre 20 e 30 de novembro, de quinta a sábado, às 20h30, e domingo às 16h e às 19h. Os ingressos custam de 15 a 30 reais, disponíveis pela Sympla e na bilheteria do teatro.
Com mais de dez anos de pesquisa, a peça retrata a Lei da Anistia, que é revogada e os desaparecimentos ocorridos durante a ditadura começam a ser julgados. Acusado de sumir com o corpo de três vítimas, um General 4 Estrelas é o primeiro a responder diante do tribunal. A peça dialoga com os espetáculos anteriores do grupo: E Lá Fora o Silêncio, O Corpo que O Rio Levou e As 3 Uiaras de SP City.
Em cena, enquanto o militar responde às perguntas de uma juíza, da Promotoria e da Defesa, ele tenta se contrapor aos depoimentos das sobreviventes, que comparecem como testemunhas. “Estamos propondo uma dramaturgia muralista, no sentido de uma pluralidade de registros e pontos de vista. Por isso, foi muito importante retratar personagens com identidades e origens sociais distintas que foram brutalmente impactados pela ditadura”, comenta Ave.
A peça é ficcional, construída a partir de relatos e pesquisa: o LABTD, ao longo desses anos, entrevistou ativistas, guerrilheiras e sobreviventes; leu os arquivos da Comissão da Verdade; pesquisou sobre os times de várzea e sobre a Copa de 70 no Museu do Futebol, visitou o Acervo Bajubá para pesquisar sobre as operações de perseguição às travestis e sobre a noite LGBT paulistana durante décadas de 1970 e 1980 e ainda pesquisou sobre as rádios independentes.
Desse material, nasceram três figuras emblemáticas, desaparecidos políticos: um locutor de rádio comunitária, uma travesti, prostituta e aspirante a atriz, e uma guerrilheira. Queremos mostrar que a violência faz parte do cotidiano em um regime opressor, e qualquer um pode ser uma vítima. Por isso é tão importante fazermos justiça”, acrescenta a dramaturga.
A peça simboliza a busca por um encerramento digno para quem foi fortemente impactado pela ditadura. “Os personagens cujos corpos não foram encontrados são retratados como pessoas vivas. Quer dizer, eles continuam existindo enquanto os viventes não descobrirem onde eles estão”, comenta o ator Diego Chilio.
“A partir da dramaturgia, a encenação também busca o procedimento muralista, o que cria uma série de desafios. Um mural é uma obra estática, que permite um tempo de olhar e apreciar suas diferentes partes e criar correlações lentas entre as imagens. No teatro, estamos limitados pelo tempo do espetáculo, e nesse sentido exploramos diferentes maneiras de criar a sensação da simultaneidade e de uma temporalidade superposta ao manter o elenco todo em cena, o tempo todo”, conta o diretor.
Mural da Memória remete a uma mesa redonda de programas de debate sobre futebol. Para complementar a experiência, o espetáculo explora vários recursos audiovisuais. Acontecem projeções de documentos da ditadura, de vídeos, de fotos, de cenas da Copa de 70, de documentos pessoais da equipe, registros de travestis fichadas na Lei de Vadiagem, e também as pioneiras na cultura e na política brasileiras: as divas Valeria, Rogeria, Aloma, Marcinha do Corinto, Neon Cunha e Thais Azevedo
A trilha sonora também contribui para a ambientação do público, com canções compostas exclusivamente para o trabalho. Os músicos estão em cena e cantam ao vivo, operando a sonoplastia junto a performances vocais, utilizando instrumentos convencionais e outros, inesperados, como ossos de animais.
Destaca-se também o trabalho de direção de movimento, assinado por Danna Lisboa, atriz do espetáculo e figura emblemática das danças urbanas no Brasil, com grande reconhecimento no movimento Hip Hop, no Waacking e na comunidade Ballroom. Em seu trabalho de composição corporal, destaca-se por trabalhar de forma cênica os elementos criativos dessas culturas, propondo uma síntese entre elas e a linguagem teatral.
Sinopse
Quando a Lei de Anistia é revogada, os desaparecimentos ocorridos na Ditadura começam a ser julgados e um General 4 Estrelas é o primeiro a responder diante do tribunal. Pelos depoimentos das testemunhas, conhecemos histórias de três pessoas completamente diferentes entre si: um locutor de rádio, uma militante da luta armada e uma prostituta travesti. Suas vidas se entrelaçam numa dramaturgia muralista que conclui a pesquisa de 11 anos do LABTD.
Direção: Diego Moschkovich
Elenco: Andréa Sá, Danna Lisboa, Diego Chillo, Diego Moschkovich, Jessica Marcelle, Maria Emília Faganello
Direção Musical, Composição e Música em Cena: Gabriel Barbosa e Felipe Pagliato
Cenografia e Desenho de Luz: Wagner Antônio
Figurinos: Diogo Costa
Assistente de Direção: Vladimir Bocharov
Criação em Vídeo: Vic Von Poser
Preparação Vocal: Palomaris
Direção de Movimento: Danna Lisboa
Operação de Vídeo: Ricardo Kenji
Direção de Produção: Igor Augustho
Produção Executiva: Lydia Arruda
Assistentes de Produção: Mariana Pinheiro, Rafaela Gimenez e Rebeca Forbeck
Financeiro: Ivanes Mattos
Estagiários de Produção: Hanon Arthur e Pedro Oliveira
Design Gráfico: Alan Amorim
Assessoria de Imprensa: Canal Aberto - Márcia Marques, Daniele Valério e Flávia Fontes
Estratégia Digital e Video Creator: Gabi Berbert
Fotografias (Divulgação): Fabrício Augusto
Maquiagem e Cabelos (Divulgação): Magô Tonhon e Alice Guél
Fotografias (Registro): Renato Mangolin
Transporte: Izildo Tadeu e TELopes Transporte
Produção: Pomeiro Gestão Cultural e Centelha Produções
Realização e Criação: LABTD - Laboratório de Técnica Dramática
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