Confirmada na FLIS, em Saquarema (RJ), Escritora Eliana Alves Cruz defende regulação de IA para a literatura

 Confirmada na FLIS, em Saquarema, Escritora Eliana Alves Cruz defende regulação de IA para a literatura

 

Autora acabou de lançar Meridiana, sobre ascensão social em uma família negra. Eliana participa da Feira Literária Internacional de Saquarema nesta quarta-feira (12)


Eliana Alves Cruz - Crédito: Tomaz Silva/Agência Brasil

Um dos maiores talentos da literatura brasileira contemporânea, Eliana Alves Cruz tem uma biblioteca de realizações na carreira. A jornalista e escritora venceu o Jabuti de 2022, na categoria contos, com o livro “A Vestida”. Foi indicada ao International Emmy Awards 2024, pelo roteiro da minissérie “Anderson Spider Silva”. É também autora de “Milena e o Enigma do Pássaro Antigo”, lançado em junho deste ano com Maurício de Sousa. Agora, acabou de lançar “Meridiana”, um romance que narra dilemas e conquistas no processo de ascensão social de uma família negra durante três gerações.
 

Nesta quarta-feira (12), participa da Feira Literária Internacional de Saquarema (FLIS), na Região dos Lagos do Rio. Durante o evento, organizado pela Prefeitura de Saquarema e que ocorre até o dia 20, com a presença de escritoras como Conceição Evaristo, José Eduardo Agualusa, MV Bill e shows como os de Lenine e Tiago Iorc, a autora estará em um bate-papo aberto ao público.
 

Nesta entrevista, defende a explicitação de que algum livro tenha usado auxílio de inteligência artificial. Mas afirma que nenhuma máquina copia o propósito dos humanos para escrever. A autora também defende a literatura como instrumento para questionar “insanidades que nos cercam”. Confira a íntegra:


Qual o tipo de impacto você acha que a Inteligência Artificial pode ter na literatura? E como os escritores podem reagir? Você já usou auxílio da IA para escrever?
 

Nunca utilizei IA para escrever. Ainda não entrou na minha rotina e credito a isso algo da falta de hábito mesmo, não vai aí nenhum juízo de valor. A inteligência artificial já tem um impacto. Agiliza e facilita por um lado e, por outro, tem limites éticos no mínimo questionáveis. Acho que em breve precisaremos de alguma regulação, selos indicando o que foi e o que não foi feito com I.A. É curioso, que o mercado e capitalismo não considerem que haja quem escreve porque gosta, porque ama e tem prazer com isso, sem sentir necessidade de delegar tal atividade para uma ferramenta fora de si. Como podemos reagir? Resgatando em nós os propósitos que nos compelem a escrever. Isso máquina nenhuma copia.
 

Neste momento, o país discute a preservação do meio ambiente com a COP30. Qual o papel da literatura nesse sentido?
 

Existem vários autores que tem na questão ambiental o principal mote de escrita, mas acredito que a maior contribuição da literatura ao planeta é servir como uma espécie de "academia para treino das consciências", ou seja, ler é um exercício poderoso de pensamento, letramento sobre temas variados, expansão da mente e isso nos leva a um inevitável questionamento das insanidades que nos cercam, que nos aprisionam e matam. Ailton Krenak, Daniel Munduruku, David Kopenawa, Trudruá Dorico, Morgana Kretzmann, Sérgio Abranches e muitos outros são autores que vêm, há muito tempo, falando da distopia em que estamos mergulhados e do aprofundamento dela.


Você escreveu com Maurício de Sousa “Milena e o Pássaro Antigo” e acabou de lançar Meridiana. Quais são as principais diferenças para escrever obras consideradas infantis e para adultos?
 

A principal diferença é como se escreve. O conteúdo pode até ser o mesmo, mas para a criança é preciso respeitá-la em suas fases, sua forma de apreensão do mundo e, principalmente, preservando essa fase irrecuperável da vida. Irrecuperável porque passa rápido demais e nunca mais volta.

 

Saquarema é uma cidade de pouco mais de 90 mil habitantes. Qual é a importância de trazer o debate da mobilidade social para uma feira literária em uma cidade pequena?
 

Acho que é preciso falar sobre os sonhos de mudança e suas implicações. Uma cidade pequena, mas tão próxima de um grande centro pode gerar em muita gente um desejo de mudança que, geograficamente, está muito perto. No entanto, existem distâncias a percorrer que extrapolam a quilometragem. Há abismos históricos, culturais e sociais que nem sempre levamos a sério quando começamos essa transição. E eles cobram a conta. É legítimo pensar em mudar para um grande centro, mas essa mudança será menos traumática se for acompanhada de consciência das questões que afligem a nossa sociedade.





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