ESTREIA | Tudo pra Mim é Viagem de Volta, com concepção e performance de Podeserdesligado e direção de João Turchi |
Podeserdesligado estreia espetáculo sonoro-afrofuturista com direção de João Turchi
Performance Tudo pra Mim é Viagem de Volta cria um mundo submerso habitado pelos filhos das mulheres escravizadas que se lançaram ao mar durante as travessias
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Crédito: Renato Mangolin
Obra faz estreia no Teatro Cultura Artística e segue em temporada na Casa do Povo
Mesclando tradição oral e música, a performance-instalação Tudo pra Mim é Viagem de Volta cria um mundo a partir das sonoridades dos equipamentos de gravação e reprodução construídos pela artista Podeserdesligado, idealizadora da iniciativa. A estreia acontece no Teatro Cultura Artística dia 6 de novembro às 20h30 e reestreia na Casa do Povo dia 20 de novembro, às 20h30. A temporada de seis apresentações segue até o dia 28, com sessões às 20h30.
O trabalho tem direção e dramaturgia de João Turchi e é inspirado na ficção de um continente submerso habitado pelos filhos de mulheres escravizadas que se lançaram ao mar durante as travessias.
“Eu queria falar de uma arte negra, mas longe do trauma. Para isso, me baseei no trabalho do duo de música eletrônica norte-americano Drexciya, que elaborou a mitologia de pessoas que pularam dos navios durante o período da escravidão. Elas criam um mundo subaquático e é através dele que viajam por fendas bidimensionais”, conta Podeserdesligado.
Em cena, a investigadora sonora vai construindo um continente submerso, habitado por seres que já não são mais humanos. “Como diz Gilberto Gil na canção ‘Futurível’, ‘você foi chamado, vai ser transmutado em energia. Seu segundo estágio de humanóide hoje se inicia. Fique calmo, vamos começar a transmissão, meu sistema vai mudar sua dimensão’”, acrescenta.
O som é entendido na performance como um meio de transporte cósmico. Ele não só é a base para outros mundos possíveis, como também abre portais. Ainda mais porque, de acordo com Podserdesligado, nas práticas negras de criação, ele funciona como uma tecnologia especulativa, uma ferramenta vibracional de produção de realidade, de tempo e de espaço.
Criando uma história por meio dos sons
Esse novo espaço é conceitual e apresenta uma realidade totalmente afastada do violento sistema escravocrata. E, por se tratar de um universo imaginado, Podeserdesligado dedicou-se a pesquisar sonoridades fora do comum.
“Comecei a criar equipamentos e instrumentos musicais pensando no corpo humanóide nascido a partir dessa mitologia. Eu gosto sempre de usar o exemplo da guitarra para um povo tocar: se é um povo que vai tocar, então ela não é uma guitarra como estamos acostumados”, afirma.
Segundo o diretor, o continente submerso mistura presente, passado e futuro. “Fitas cassete, microfones, subwoofers, fios e inteligência artificial estão presentes na obra, reconstruindo uma história que, na verdade, nunca foi escrita”, explica.
Ainda como parte da equipe estão Iara Izidoro, artista da dança e da luz com quem Podeserdesligado já colaborou em outros trabalhos, responsável pelo desenho de luz do trabalho e Fabio Riff e Juliana Bucaretchi pela construção dos objetos cênicos.
Acessibilidade como ponto fundamental
O público é, ao mesmo tempo, testemunha e morador desse território. Por isso, está livre para acompanhar a performance de qualquer lugar. Os artistas desenvolveram um espetáculo totalmente acessível com o apoio de Laysa Elias, da empresa alíngua.
Gráficos, símbolos, espectrogramas e audiodescrição fazem parte da estrutura artística e dramatúrgica do trabalho. Utilizando as próprias telas, a iluminação, as cores e as automações já inseridas em Tudo pra Mim é Viagem de Volta contribuem para a montagem ser organicamente acessível.
“Considerando que criamos um mundo para novos seres, faz muito sentido explorar outras linguagens, trazendo a materialidade e a visualidade do som para quem escuta de outra forma, e a sonoridade das matérias e imagens para quem enxerga de outra maneira”, conclui Turchi.
Ficha técnica:
Concepção e performance: Podeserdesligado
Dramaturgia e direção: Joao Turchi
Desenho de luz: Iara Izidoro
Visuais: laysa Elias
Figurino: Marina Dalgalarrondo
Dispositivo Viseira: Vinicius Pinto Rosa
Objetos Cênicos: Bio Riff e Juliana Bucaretchi
Produção executiva: Francesca Tedeschi
Duração: 60 minutos | Classificação: Livre
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