Professor da UFRJ denuncia racismo em exclusão de banca. Audiência está marcada para AMANHÃ - dia 1º de outubro, às 14h, na Justiça Federal, localizada na Av. Venezuela, no Rio de Janeiro.
Professor da UFRJ denuncia racismo em exclusão de banca; caso será analisado amanhã pela JF
Uma audiência está marcada para o dia 1º de outubro, às 14h, na Justiça Federal,
localizado na Av. Venezuela, 134, no Rio de Janeiro.
O cientista político e historiador Wallace dos Santos de Moraes, professor do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS) da UFRJ, denuncia ter sido vítima de discriminação racial ao ser excluído de uma banca de concurso público que iria escolher um novo professor adjunto para o instituto.
· O episódio ocorreu em 11 de agosto de 2021, durante uma reunião virtual do Departamento de Ciência Política.
· O acusado já foi punido por uma sindicância na UFRJ, o caso seguiu também para a Justiça Federal, onde será analisado em audiência marcada para 1º de outubro. Francisco Josué Medeiros figura como acusado no processo.
Único professor negro do departamento, Wallace havia sido indicado por cinco colegas para integrar a banca. No entanto, sua participação foi vetada pelo então chefia do setor e pelo professor Francisco Josué Medeiros, que, à época, ainda estava em estágio probatório. O argumento apresentado foi de que o docente seria “brigão”, “desequilibrado” e que “se vitimizava por ser negro”, o que, segundo Wallace, caracteriza racismo institucional.
"O colega do departamento não chegou a me chamar de ‘macaco’, nem a jogar uma casca de banana em cima de mim. Mas usou argumentos subjetivos para me desabonar, apesar de eu preencher todos os requisitos acadêmicos e técnicos para estar ali. Isso não cabe na administração pública. Quando se usa esse tipo de argumento contra um professor negro, trata-se de discriminação racial sim. Há coisas que não precisam ser ditas para serem entendidas", afirmou o professor.
Wallace, que é professor associado do Departamento de Ciência Política e atua nos Programas de Pós-Graduação em Filosofia e História Comparada da UFRJ, entrou com uma representação administrativa pedindo sindicância sobre o caso. A universidade confirmou a abertura de investigação. Após análise, a sindicância resultou em advertência formal ao professor acusado, anulação da banca e aprovação de uma moção de desagravo em favor de Wallace pela congregação da UFRJ.
O episódio gerou forte reação na comunidade acadêmica. Um abaixo-assinado foi lançado pelo Coletivo de Docentes Negras e Negros da UFRJ, que pedia a apuração da denúncia, alcançou mais de 2 mil assinaturas ainda na primeira semana de divulgação. O documento questiona por que o único professor negro do departamento, com a qualificação necessária, foi excluído da banca: Os pronunciamentos de alguns professores em contrário a esses atos de discriminação não surtiram efeito, e a maioria vetou sua participação, registra o texto.
Para Wallace, o caso simboliza não apenas um ataque pessoal, mas um reflexo do racismo estrutural presente nas instituições brasileiras: “Costumo dizer aos meus alunos que o negro e o indígena são bem-vindos desde que obedeçam, desde que sejam dóceis. Se você não se submete a esse padrão, criam adjetivos como ‘desequilibrado’ para desqualificá-lo. Isso acontece muito em nossa sociedade. Humilhar um corpo negro faz parte do cotidiano do Brasil", afirmou.
O professor ressalta que sua luta extrapola o âmbito individual - “Se eu, doutor e professor, fui alvo desse tipo de ataque, é importante refletir sobre o que enfrentam técnicos, alunos, terceirizados e outros trabalhadores da universidade e do país inteiro".
O caso será acompanhado por movimentos sociais negros e entidades de combate ao racismo, que veem na ação judicial um precedente importante para a responsabilização de práticas discriminatórias dentro da academia.
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