Jornada da Acessibilidade forma multiplicadores e reforça a urgência de políticas inclusivas na cultura
Projeto capacitou mais de 100 agentes culturais e alcançou produtores do Distrito Federal, Bahia, Pará, Amapá, Pernambuco, São Paulo e Rio Grande do Sul
Com formações em acessibilidade cultural, audiodescrição e Braille, o projeto Jornada da Acessibilidade encerrou suas atividades no primeiro semestre de 2025 com resultados que reforçam a importância de iniciativas voltadas à inclusão no setor cultural. Realizado pela Guia Acessibilidade Inclusiva com apoio do Fundo de Apoio à Cultura do DF (FAC-DF) e da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do DF, o projeto ofereceu três cursos gratuitos e alcançou participantes de 13 estados brasileiros, de norte a sul, formando uma rede de multiplicadores conscientes e preparados para transformar suas práticas.
Ao todo, foram 359 inscrições realizadas e 140 pessoas matriculadas nas turmas online e presenciais. Mais da metade deste público (76%) é formado por mulheres, e 32% dos inscritos são pessoas com deficiência, números que refletem não só o potencial de alcance das ações, como também o impacto direto na ampliação e democratização do acesso.
As aulas, voltadas a educadores, profissionais da cultura e pessoas interessadas em acessibilidade, aconteceram entre maio e junho e tiveram aprovação expressiva dos participantes: 85% disseram que o curso atendeu ou superou as expectativas. Os módulos abordaram desde práticas inclusivas na mediação cultural até ferramentas de acessibilidade como a audiodescrição e o sistema Braille. Além do DF, o projeto atingiu estados como Bahia, Pará, Amapá, Pernambuco, São Paulo, Rio Grande do Sul, entre outros.
Para a terapeuta ocupacional e produtora cultural Camila Ferreira, de Belém do Pará, o projeto representou uma ampliação de horizontes: “atualmente, atuo com foco em acessibilidade cultural. Participar do Jornada foi uma experiência enriquecedora, que ampliou minha visão e reforçou que estamos no caminho certo ao lutar por espaços realmente inclusivos. A terapia ocupacional nos ajuda a entender que o lazer também é um direito e precisa ser acessível.”
Camila, que integra a equipe de um dos maiores festivais do país, o Psica, realizado em Belém, afirma que os conhecimentos adquiridos no curso de Acessibilidade Cultural serão aproveitados no evento.
“Foi muito inspirador conhecer novas possibilidades e pensar em acessibilidade como algo natural no nosso dia a dia. No trabalho, tenho certeza que o aprendizado vai contribuir nos processos de acessibilidade e inclusão, principalmente no que se refere a comunicação. Sou grata pela oportunidade e espero participar de outras ações como essa”, conclui.
De acordo com a Produtora de Acessibilidade, CEO da LC Eventos, Lory Couto, que atua na Bahia, a Jornada da Acessibilidade é um projeto que tem grande importância para produtores culturais, produtores de festivais, festas e eventos em geral.
“Todo mundo que trabalha com projetos de eventos precisa pensar nas pessoas com deficiência e, para além disso, nas pessoas também que precisam de um acesso acessível, como os idosos, as gestantes e outros tipos de diversidades que também são atendidas com a acessibilidade”, destaca.
Um direito garantido por lei, mas ainda longe de ser realidade
Dados do Censo 2022 apontam que mais de 14,4 milhões de brasileiros vivem com algum tipo de deficiência — número que representa 7,3% da população com dois anos ou mais. No Distrito Federal, são 113 mil pessoas, segundo o Instituto de Pesquisa e Estatística do DF (IPEDF), o que equivale a 3,8% da população local. Apesar da dimensão desses dados, o acesso à cultura para essa parcela da população ainda enfrenta barreiras cotidianas.
Em vigor desde 2015, a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (nº 13.146) estabelece que é dever do Estado, da sociedade e da família assegurar com prioridade os direitos das pessoas com deficiência, incluindo o acesso à cultura (Art. 8º).
Para a diretora do projeto, Cássia Lemes, “o Jornada da Acessibilidade surge como resposta direta a nossa legislação, promovendo formação, debate e práticas efetivas de inclusão. A cultura é um direito universal, e garantir que esse direito seja pleno e acessível é um desafio que precisa seguir em pauta”.
Com mais de 100 alunos capacitados diretamente, o projeto contribuiu não só para a formação de profissionais mais preparados, mas para o fortalecimento de uma rede articulada em torno do direito à cultura como um bem comum.
“O que esperamos agora é que esse conhecimento seja multiplicado, levado adiante, e que mais pessoas percebam: acessibilidade é responsabilidade de todos,” finaliza a diretora.
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