Governo Federal, Ministério da Cultura, Política Nacional Aldir Blanc, Estado do Rio de Janeiro e a Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa, Edital Fluxos Fluminense, apresentam o projeto Lágrimas Retintas
Entre os dias 30 de julho e 6 de agosto, a cidade do Rio de Janeiro e a Região Metropolitana serão palco para o projeto Lágrimas Retintas, uma tríade focada no debate sobre masculinidades pretas. “Lágrimas Retintas” consiste em apresentações do inédito espetáculo homônimo ao projeto, a exposição fotográfica “MiMover - Masculinidade e Afetividade Preta”, e rodas de conversas que possam ampliar e difundir a discussão sobre o tema proposto.
Com o intuito de desmistificar e questionar os padrões de masculinidade impostos por uma cultura que esteriotipa corpos negros, a peça busca mostrar situações que homens pretos vivem e fala também da raridade do choro negro, como é difícil ver um homem negro chorar, mostra seus atravessamentos. Todavia, o espetáculo não é sobre tristeza, mas sobre a possibilidade de construir relações mais profundas, afetos positivos e autocuidado.
O espetáculo de dança e música é interpretado e vivido por Wagner Cria, Zulu Gregório, Gian Saru e Pablo Carvalho; Salasar Junior assina a direção e conta com Dandara Patroclo como assistente de direção. A obra traz à cena o atraso na discussão do homem negro se enxergar e várias outras perspectivas sobre a masculinidade negra.
“O espetáculo conta com homens negros em cena que não são considerados ‘padrão’, são negros retintos, com traços negroides, e essa estética muitas vezes tem um olhar diferente do grande público. Esse olhar diferenciado que queremos repassar para quem assiste o espetáculo e acompanha a exposição”, afirma Wagner Cria.
Contemplado no Edital Fluxos Fluminense da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa, o espetáculo é uma realização do Coletivo DeBonde e conta com a produção da Elabore.Kom, e evoca a compreensão de Afrografia, onde o corpo, gesto, voz e tamborilar, como acrescenta Leda Maria Martins, vivem a encruzilhada do tempo. Em cena, dois dançarinos, um beatmaker e um músico colocam na roda as questões e tabus que circundam as subjetividades de homens negros.
“A obra apresenta desde as performances cobradas de seus corpos, no esporte, na arte e no sexo, as violências sofridas e reproduzidas, as paternidades, muitas vezes substituídas por mães, e a fragilidade que os são negada. Para isso, esses homens recorrem às heranças que atravessam suas ancestralidades para contrapor aos arquétipos estereotipados de homens negros”, explica o diretor Salasar Junior.
Exposição “MIMOVER - Masculinidade e Afetividade Preta”
Dando vazão a essas subjetividades o projeto Lágrimas Retintas apresenta a exposição “MIMOVER - Masculinidade e Afetividade Preta”, do fotógrafo Wagner Cria. A mostra fotodançada visa expandir o olhar para mostrar e demonstrar gestos de afetividade entre homens e, ao fundir movimento e imagem, a obra constrói um “terceiro corpo” híbrido, revelando novas formas de existir, sentir e expressar a experiência preta.
Segundo Wagner Cria, a escolha do tema condutor da exposição vem da vivência de ser homem preto, filho de uma mulher preta, que gerou apenas homens. O afeto foi uma construção diária, pois, muito se espera que socialmente homens, em especial homens pretos, com os traços e estruturas comuns do estereótipo no imaginário social de pretos, não sejam potencializadores de afeto, pelo contrário, corpos pretos são em maior escala projetados a agir/receber violência.
“Com essa dinâmica procuramos também incentivar a reflexão da importância e da valorização dos afetos como condutor da transformação das relações, corroborando para um novo olhar de mundo. Será que, se nós homens fôssemos ensinados a demonstrar nossos afetos e sentimentos, seríamos ainda assim potencializadores de guerra? Por que o afeto é condicionado apenas para o feminino?”, questiona Wagner Cria.
Wagner Cria acrescenta ainda que nasceu em um ambiente onde o afeto entre homens, irmãos, sempre foi incentivado, e ele foi se tornando um homem que se permite chorar, emotivo, sensível ao todo, com presença conectada, não de forma romântica, mas em um lugar de conexão, da estrutura que acolhe.
“Na rua, quando somos expostos a dinâmicas de violência, somos endurecidos, e adoecemos. Homens são ensinados que há limites para expressões de carinho entre si. Qualquer demonstração de afeto, seja através de abraços ou beijos, são questionados, principalmente no que diz respeito à sexualidade. Com isso são legitimados a serem ridicularizados e agredidos”, contrapõe o artista.
Rodas de conversas
Dentro do projeto também estão previstas rodas de conversas, para trazer o tema ao centro do debate e elas serão realizadas juntamente com as apresentações, abrindo dialogo para o tema masculinidades e afetividade pretas, tendo em vista que muitos homens, sobretudo negros, não são incentivados a se abrir, o que contribui para a continuidade de uma série de comportamentos que afetam toda sociedade.
Na abertura da exposição, haverá uma roda de conversa que vai falar sobre afetividade entre homens pretos, um tema ainda considerado tabu social e tão necessário para que esses indivíduos se vejam como humanos e queridos entre seus pares.
“O objetivo principal é fomentar um espaço seguro para os homens negros conseguirem se expressar, se reconhecer e conversarem sobre o que te atravessam e sobre suas afetividades”, finaliza Kirce Lima, fundadora da eLabore.kom.
Acessibilidade e geração de renda
O plano de acessibilidade desta proposta se concretiza em duas ações, focadas em atender pessoas portadoras de deficiências auditivas e visuais. Para isso, os locais escolhidos possuem acessibilidade arquitetônica, facilitando o acesso aos espaços por pessoas com mobilidade reduzida.
Para contemplar as pessoas surdas, as rodas de conversa terão um intérprete de LIBRAS. Já para pessoas cegas ou com perda visual, o projeto prevê uma apresentação exclusiva com audiodescrição, onde também será feita articulação cultural para formação dessa platéia, dialogando com órgãos e instituições que atendam esse público. Pensando em geração de renda, praticamente todo corpo técnico do projeto é formada por homens negros retintos e não padrão.
SERVIÇOS:
Projeto Lágrimas Retintas - Espetáculo | Roda de conversa
30 de julho, às 10 horas
Departamento Geral de Ações Socioeducativas (DEGASE) - R. Olavo Batista, 40-258 - Redentor, Belford Roxo - RJ
1º de agosto, às 18h
Centro Coreográfico da Cidade do Rio de Janeiro - R. José Higino, 115 - Tijuca, Rio de Janeiro - RJ - com acessibilidade
5 de Agosto, às 13 horas
Lona Cultural Gilberto Gil - Av. Marechal Fontenele, 5000 - Realengo, Rio de Janeiro - RJ
6 de agosto, horário a confirmar
Frente Cavalcanti Rua Ingá 52 - Cavalcanti, Rio de Janeiro - RJ
Classificação: Livre
Exposição “MIMOVER - Masculinidade e Afetividade Preta”
30 de julho a 18 de agosto
Nos espaços que a peça for apresentada
Classificação: Livre
Entrada: Gratuita
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