Império de
Casa Verde anuncia “balangandãs” como enredo de 2026
“Império dos Balangandãs: Joias
Negras Afro-Brasileiras” é o enredo da Escola de Samba Império de Casa Verde
O enredo
assinado pelo carnavalesco Leandro Barboza, com a pesquisa do enredista Tiago
Freitas, tem a missão de celebrar o empoderamento de mulheres escravas do
século XVIII, que viviam em Salvador e eram conhecidas como escravas de ganho.
Esbanjando
luxo e poder, através das joias e balangandãs, essas negras compravam suas
alforrias através do trabalho das vendas de quitutes, turbantes, tecidos,
peixes e comércio em geral. Com o que ganhavam, além de pagarem os senhores de
mando, guardavam o excedente no corpo, cravando-o de joias em ouro e prata. Na
história da joalheria brasileira esses elementos são conhecidos como “joias de
crioulas”.
O presidente
da Império de Casa Verde, Alexandre Furtado, promete “um desfile muito luxuoso,
de forte impacto, emocionante e com muitas surpresas”. O carnavalesco Leandro
Barboza disse que o enredo nos levará para uma imersão por Salvador e revela
que “viajaremos por uma Salvador pouco contada. Esse Brasil baiano que vamos
retratar, em 2026, será alegre, imponente e celebrativo. Queremos exaltar essas
mulheres afro-baianas que abriram tantos caminhos de empoderamento para a pauta
das mulheres do nosso país”.
A Império de
Casa Verde será a primeira escola a se apresentar no sábado de Carnaval e
promete levar ao sambódromo do Anhembi um desfile histórico e original.
Assessoria
Sinopse:
Presidente:
Alexandre Furtado | Carnavalesco: Leandro Barboza | Enredista: Tiago Freitas
Sopro de tudo: o fogo ancestral [introdução]
Século XVIII, 1760, Salvador.
Salvador me chamou. Eu sou Dona Fulô, a escrava
que comprou a liberdade.
Nos idos de 1760, eu e muitas mulheres éramos
escravas de ganho. Ganhar era comercializar com tabuleiros de quitutes, peixes,
tecidos e turbantes a mando dos senhores brancos. Quando atingíamos o lucro de
mando, o valor que passava, ficava em nossos bolsos, ou melhor, em nossos
corpos negros.
A gente subvertia a ordem e adornava de ouro
nossos corpos negros.
Nos ventos de clandestinidade, procurávamos
ourives de axé que, escondidos, faziam joias para nós, mulheres negras que
sonhavam em guardar o ganho em joias de adornos. Assim, as joias eram como
roupa e o nosso corpo, era como um cofre ancestral que exalava poder e um sonho
de liberdade.
Os ourives moldavam nossos corpos com ouro em
anéis de talha dourada, figas, pulseiras de placas, argolas que se pareciam com
pitangas, braceletes de ouro e outros artefatos mais.
Assim andávamos por Salvador. Negras. Negras
douradas.
Nossas joias também eram como amuleto espiritual.
Nós pedíamos dos ourives negros, colares de ouro em formato de fio de contas,
balangandãs que atraiam sorte, saúde e força. Juntos, são penduricalhos de axé
que traziam símbolos como alimentos, correntes, sol, lua, espadas, machados e
outros elementos da nossa ancestralidade.
Nossas joias também eram adornadas como acarajés
de ouro, bolinhos de fogo que pulsavam como nossa joia-amuleto de corpo, alma e
espírito.
Um delírio de emoções explodia na Salvador que eu
e muitas outras negras, em busca da liberdade, chamávamos de Salvador do
Império das nossas joias negras, as joias das crioulas que queriam viver a paz
de seu axé em voo livre.
Quando a saudade de África transbordava e nossos
olhos não suportavam o mar de lágrimas, além dos tambores de axé, íamos à
igreja rezar para aclamar mais força de espírito. Também tratamos de fazer
joias com símbolos católicos, adornamos joias com a pomba do divino, a cruz, o sino
e o terço de Santa Maria. Maria nos atendia, por isso, eu e outras mais
fundamos e ajudamos a manter a Irmandade da Boa Morte, movimento que pregava a
morte digna de negros e negras que sofriam no suor da escuridão e do
esquecimento.
Salvador me chamou. E chamou outras negras mais!
Salvador da maior balangandeira, Tia Ciata, que batucava seus quadris com a
sonoridade desses amuletos de joias de nossa gente.
Salvador me chamou. E chamou outras negras mais!
Salvador das negras Amas de leite, que empreendiam, mesmo forçadas, doses de
amor e afeto. Em troca, eram alimentadas de doses de ouro.
Salvador. Minha Salvador, de Fulô e todas as
negras de ganho que faziam da sua força de trabalho a realização de viver um
sonho: de ser livre!
Salvador, de Dona Fulô, de Florinda Anna do
Nascimento!
fizemos força,
fizemos vida,
SALVADOR ME SALVOU.
Presidente:
Alexandre Furtado | Carnavalesco: Leandro Barboza | Enredista: Tiago Freitas
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