Nova edição da revista ZUM será lançada nesta quarta, em conversa com Ivi Maiga Bugrimenk e Erika Palomino

  

Revista ZUM #28 reúne série clássica de Lenora de Barros, texto e relato visual do rapper Rico Dalasam da infância passada em orfanato, entrevista com Paula Sampaio e imagens do Acervo Digital do Museu Palestino

 

Nova edição da revista de fotografia do IMS será lançada na quarta (7 de maio), às 19h, na Biblioteca de Fotografia do IMS Paulista, com uma conversa entre Ivi Maiga Bugrimenko, autora de ensaio sobre festas da cena LGBTQIAPN+, e a jornalista Erika Palomino




 

28ª edição da ZUM, revista de fotografia contemporânea do Instituto Moreira Salles, chega às livrarias com destaque para a fotógrafa paulistana Ivi Maiga Bugrimenko, cuja obra também ilustra a capa e a quarta capa da edição, e a artista Lenora de Barros, que apresenta dois trabalhos na publicação. Bugrimenko fotografa há mais de dez anos festas da cena LGBTQIAPN+, como a Mamba Negra, em São Paulo, lugar de resistência e afirmação da nova cena trans.. Performers e personagens anônimos de uma noite hipnótica são apresentados no ensaio Êxtase, acompanhado de um ensaio do escritor Leo Felipe que reproduz literariamente a energia das fotos. Em 2024, seu livro Vidacobra, que celebra a festa como um universo coletivo, de experimentação e liberdade, foi um dos premiados na convocatória de fotolivros da ZUMTambém é dela o pôster da edição (apenas para os assinantes).


Bugrimenko é uma das convidadas para o evento de lançamento da revista, na quarta-feira (7 de maio), às 19h, na Biblioteca de Fotografia do IMS Paulista. Ela conversará com a jornalista Erika Palomino, autora de Babado forte, livro sobre a cena clubber no eixo Rio-São Paulo nos anos 1990, que acaba de ganhar nova edição.
 

Uma das mais importantes artistas contemporâneas brasileiras, Lenora de Barros está no abre da revista com uma série clássica, Poema (1979), performance da artista registrada fotograficamente por sua irmã, Fabiana de Barros. Na sequência de seis imagens, publicada pela primeira vez em 1981 na revista Zero à Esquerda, sua língua trava uma espécie de duelo com uma máquina de escrever. Lenora participa ainda da edição com …Umastítulo da coluna que manteve no Jornal da Tarde de 1991 a 1996. O espaço do jornal era usado para experimentações artísticas, poemas visuais, uma miscelânea de informações que casava de forma rara, na época, arte contemporânea e cultura de massa. A curadora e pesquisadora Pollyana Quintella escreve sobre este acervo.

 

Outro destaque da ZUM #28 é a série Estar láque o artista senegalês Omar Victor Diop realizou com o The Anonymous Project, do cineasta estadunidense Lee Shulman. Eles inserem a imagem de Diop em fotografias de famílias dos subúrbios norte-americanos nos anos 1950/60. Desta forma, inscrevem a presença negra na vida burguesa dos Estados Unidos, em situações como um bucólico piquenique, uma piscina lotada de um clube ou uma confraternização da firma, ou ainda escolhendo um disco de Aretha Franklin, numa evidente ironia ao modo como a cultura negra era consumida por pessoas brancas. A pesquisadora francesa Taous Dahmani escreve sobre o trabalho, e afirma: “a leveza do tom não impede Estar lá de ser uma crítica social feroz, uma sátira sem receio nem medo".

 

Fotografias que poderiam fazer parte de um álbum de família estão presentes em outro ensaio desta edição, O medo de ser devolvido, de Rico Dalasam. O rapper paulistano revisita suas fotografias da infância vivida num orfanato, uma família possível, e junta a elas um bonito texto em primeira pessoa em que conta de maneira direta e crua os laços de afeto formados no local. As memórias, apesar de doídas, revelam uma infância com um cotidiano em que a expectativa de adoção era entrecortada com celebração de aniversários e construção de amizades. O trabalho é um desdobramento do podcast Último Dia no Orfanato Tia Gugalançado no ano passado pelo rapper. O texto publicado na revista foi apresentado por ele no Festival ZUM em novembro de 2024.

 

O cineasta Lincoln Péricles participa da revista com um material inédito, em que apresenta o processo de construção de seu novo filme, Trabalho. Por meio de inteligência artificial, ele suprime trabalhadores de imagens de arquivo do cinema brasileiro, libertando-os da repetição de seus papéis no cinema. São cenas icônicas de cineastas como Humberto Mauro ou Leon Hirszman que registravam garimpeiros, operários e lavradores. crítico Juliano Gomes assina o Incompleto abecedário da impropriedade, em que tece uma espécie de gramática do cinema Péricles, ligando sua arte à representação heterodoxa da periferia de São Paulo, onde se desenvolveu sua trajetória.

 

Em evidência nesta edição, as fotos do Acervo Digital do Museu Palestino. A instituição com sede em Birzeit, na Cisjordânia, registra a história e o povo da região de 1948 aos dias de hoje, e disponibilizou online cerca de 200 mil fotografias, de seu acervo e de várias outras coleções. A ZUM publica imagens do cotidiano dos cidadãos – como um noivado, uma família na praia, amigas conversando, uma atriz se maquiando – mas também cenas que pontuam a história política, com comunidades divididas e manifestações. As fotografias são acompanhadas de um texto do escritor palestino Nasser RabahImagens rápidas da novela de Gaza, em que narra o desenvolvimente de Gaza, onde reside, de um campo de refugiados nos anos 1940 a uma comunidade pujante, chegando à guerra contemporânea e seu rastro de destruição.

 

A artista japonesa Momo Okabe usa cores vibrantes nas fotografias em que documenta sua gravidez assistida e seu parto, que integram o ensaio Ílmatar (2014-2019). As imagens, muito saturadas, funcionam como uma espécie de análogo visual da experiência de transformação do corpo que ela observa.
 

A entrevista desta edição é com a fotógrafa mineira Paula Sampaio, que tem um sólido trabalho de registro da natureza e dos moradores da Amazônia a partir das beiras de estrada e rios. Na conversa com a pesquisadora e artista paraense Flavya Mutran, ela fala da formação do seu olhar pela escuta e da responsabilidade de preservar registros de um Brasil ameaçado.

 

Fechando a revista, no ensaio Cadernos da Casa de Lava, o cineasta português Pedro Costa mostra os cadernos com colagens produzidas enquanto se preparava para filmar Casa de Lava (1994). As páginas reúnem fotografia, pintura, texto e falas do roteiro do filme, e são acompanhadas de um texto do crítico de arte e curador português Nuno Crespo sobre a obra do diretor.

 

ZUM #28

184 páginas

R$ 57,50

 

Lançamento

Conversa com Ivi Maiga Bugrimenko e Erika Palomino

7/5, às 19h, na Biblioteca de Fotografia do IMS Paulista

Avenida Paulista 2424

tel.: (11) 2842-9120
 

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