Exposição apresenta a relação entre a vida e a morte na visão de mulheres com trajetória de vida nas ruas
Exposição apresenta a relação entre a vida e a morte na visão de mulheres com trajetória de vida nas ruas
A mostra é fruto das atividades realizadas pelo QUANDO Coletivo, grupo que reúne artistas e pessoas com trajetória de vidas nas ruas através de práticas de arte e autonomia que acontecem em abrigos e espaços públicos da cidade.
Até quando? Essa pergunta guia e dá nome a uma exposição que fica em cartaz simultaneamente em dois espaços culturais da capital mineira. Um deles é o Museu Mineiro, localizado na Avenida João Pinheiro, 342 - Lourdes, Belo Horizonte, onde a mostra acontece até o dia 31 de maio. O outro espaço é o Centro Cultural São Geraldo, localizado na R. Silva Alvarenga, 548 - Bairro São Geraldo, até 30 de abril. A entrada é gratuita em ambos espaços. Os trabalhos transitam entre artes visuais e sonoras, esculturas têxteis, fotografias, performances e instalações e intervenções urbanas que revelam testemunhos da lida cotidiana de quem luta para sobreviver e pelo direito de existir.
No Museu Mineiro, são apresentadas 12 instalações distribuídas em duas galerias. Na Galeria Atrium, localizada no primeiro andar do museu, estão obras sonoras e interativas inéditas, que trabalham reflexões acerca da vida e da morte. Na Galeria de Exposições Temporárias, estão as obras que têm origem em ocupações artísticas promovidas pelo QUANDO Coletivo em praças, ruas e abrigos da cidade.
Morte e Vida – Na Galeria Atrium, estão presentes quatro obras que trazem tensionamentos sobre a relação entre a vida e a morte. “O que seria esses instantes para cada uma de nós? É uma condição que é comum a todo ser humano mas, ao mesmo tempo, também é uma questão política que se revela no abismo social existente no Brasil no que se diz respeito ao descaso com as pessoas em situação de rua” afirma o integrante do coletivo Matheus Couto a partir de uma conversa realizada no Abrigo Maria Maria em que o QUANDO Coletivo está em atuação desde 2018. Neste contexto, o coletivo se depara com o descaso do poder público com as vidas que se vão para quem não tem condições de pagar pelo seu próprio sepultamento. “Mulheres que são enterradas como indigentes e que possuem seus direitos violados durante este processo, como no caso de pessoas trans que não são enterradas com seu nome social. É a partir destas reflexões coletivas surge a expressão criada pela integrante Robertinha que diz: “ordem e progresso é cheio de cadáver”, traduzindo essa experiência de quem convive com a falta.
A galeria apresenta uma instalação sonora que traz essas reflexões através das falas das integrantes do coletivo, além de esculturas têxteis que refletem sobre os fios da vida e presta homenagem àquelas integrantes que já se foram. Ao final, um convite ao público para deixar suas impressões em grandes painéis pretos para serem escritos com giz branco trazendo uma dimensão coletiva sobre a vida e a morte.
Essa reflexão também se estende no Centro Cultural São Geraldo, onde o grupo de bordados Nós e Nossos Avessos, residente do bairro, desenvolveu uma série de bordados com esta temática para serem expostos junto à obra têxtil “Babado Forte, 2022” do QUANDO Coletivo que apresenta pensamentos e imagens de integrantes que já se foram.
Cidade - Na Galeria de Exposições Temporárias, localizada no segunda andar do Museu Mineiro, estão instaladas obras que nascem da experiência livre e direta com a capital Belo Horizonte, do gesto performático que não se espelha na galeria, mas surge de ocupações artísticas promovidas pelo Coletivo que aconteceram em praças, ruas e abrigos da cidade,
Uma das obras que se destaca nesta seção é a ocupação artística QUANDO Clube, uma manifesto ao direito ao lazer. Através de piscina de plástico, cadeiras de praia, guarda-sol e isopor com chup chup, o coletivo monta essa estrutura provisória em espaços que a população de rua habita ou frequenta e promove uma ação coletiva que reivindica espaços de lazer gratuitos para a população. Essa ação remete aos clubes, espaços sociais que historicamente têm servido a uma classe privilegiada, contrastando com a realidade das periferias e das populações mais vulneráveis. No vídeo e nas fotos, é apresentado as ações realizadas no abrigo Maria Maria, no CRAS Petrópolis, na Lagoinha e na Biblioteca Pública Estadual na Praça da Liberdade junto a comunidade que lá habita.
“Essa exposição constrói um território de insurgência imaginária, onde os trabalhos, para além de serem expressões, são manifestações de um corpo coletivo que se move, se desfaz e se refaz o tempo todo. As obras não buscam respostas, ao contrário, prolongam a pergunta", conta Chris Tigra, uma das integrantes do QUANDO Coletivo. “A exposição apresenta um jogo de inversões, onde o que parecia descartável se torna monumento, e o que era silêncio se converte em expressão coletiva, nos convida a repensar as relações entre arte, política e pertencimento, deslocando o olhar para a vivência das ruas", completa. Sobre as obras, os trabalhos partem de reflexões acerca da existência: "O fio da vida como condutor de planos, sonhos e metas, dores, alegrias, sortes e fracassos. Diante disso voltamos a nos perguntar: até quando vão dizer que somos invisíveis? E até quando teremos que aceitar ser invisibilizadas?”, diz Ana Pá, também integrante do coletivo.
A Exposição “ATÉ QUANDO?” é realizada pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte e Museu Mineiro, tem patrocínio da Hotmart e correalização do QUANDO Coletivo e Onodera Produções. A equipe conta com a produção executiva de Carla Onodera, coordenação de Matheus Couto, direção artística de Chris Tigra, expografia de Rafaela Ianni, consultoria criativa de Dulce Couto e articulação artística de Ana Pá e Janine Monteiro.
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