Mulheres apresentam espetáculo “Corpo Mostra Cultura” no Teatro Marília

 Mulheres apresentam espetáculo “Corpo Mostra Cultura” no Teatro Marília

Uma das solistas é uma paciente oncológica e encontrou na preparação desse espetáculo motivação para enfrentar a doença



Mulheres apresentam o espetáculo “Corpo Mostra Cultura” no Teatro Marília, localizado na Avenida Professor Alfredo Balena, 586, capital mineira, na próxima terça-feira, dia 18 de março, às 20h.  Composto por seis obras solos, o show retrata, ao mesmo tempo, autoconhecimento, escolhas e consequências, ancestralidade, ritualização, valorização da história dos mais velhos, nostalgia e saudades da infância.  Tudo isso de uma forma leve, sublime ao mesmo tempo tão forte, que impacta e prende o público. 

A entrada é gratuita e os ingressos já estão disponíveis no https://bileto.sympla.com.br/event/103465 As obras, que variam entre doze e quinze minutos de duração cada uma, possuem co-direção e coreografia de Cyntia Reyder, que também é a idealizadora e diretora geral e professora Guidá, direção de produção e curadoria ficou por conta da Mestre Marilda. 

O espetáculo é a finalização do projeto “CORPO MOSTRA CULTURA”, que começou em setembro de 2024, no bairro Granja de Freitas e tem, entre seus objetivos enriquecer o cenário cultural a partir de regiões menos favorecidas economicamente, também capacita mulheres negras com habilidades técnicas, artísticas/criativas e de produção, ampliando suas perspectivas de carreira. 

Vale ressaltar ainda que o projeto colaborou para que a uma das solistas passasse e pelo tratamento de um câncer com mais leveza.  O espetáculo “Corpo Mostra Cultura” já foi apresentado em uma Mostra, no Cras do Bairro Granja de Freitas, na capital mineira, e na Escola Francisco Sales, na cidade de Capim Branco. 

Ciclo da rosa é o ciclo da vida - O solo de Luiza Reis, estudante de Letras, na Universidade Federal de Minas Gerais, retrata o ciclo da vida e o conjunto de transformações que os seres vivos passam. Esse ciclo tem início com o nascimento e termina com a morte, mas o período entre essas duas etapas existem altos e baixos, e uma constante busca, e muitas vezes, repetições em que a pessoa não consegue se desvencilhar. 

Ao som da música Cotidiano, de Chico Buarque, a solista representa uma pessoa que faz as mesmas coisas todos os dias, mas com emoções diferentes, uma dia com alegria, outro com raiva, tristeza, preguiça. “A repetição de comportamentos é um impulso natural e inconsciente do ser humano. No entanto, quando os ciclos se repetem muitas vezes, pode significar que a pessoa está presa em padrões de pensamento, sentimentos, comportamentos, inseguranças, entre outros, que não levam a resultados diferentes”. Explica Luisa Reis. 

Durante a apresentação, a solista compara o ciclo da vida humana com o ciclo da vida de uma rosa, que apesar da sua beleza, tem uns espinhos, seca, o momento que as pétalas caem, pode até parecer que tudo acabou, mas se essa flor ganhar carinho e cuidado que na peça é representada pela água, ela ganha força, se renova e fica bonita e inicia um novo ciclo.  

Escolhas e consequências - A solista Evelyn Soares realizará uma performance sobre escolhas. A apresentação retrata que fazer as próprias escolhas é importante porque permite que as pessoas tenham controle sobre suas vidas e moldam o seu caminho e são fundamentais para a saúde mental e física, e são um componente essencial da dignidade humana.  A apresentação retrata que, por muitas vezes, as pessoas vivem consequências de escolhas feitas pelos outros e não por elas mesmas. “Muitas pessoas não têm a consciência de que ela mesma poderia fazer as suas próprias escolhas e ter as suas próprias consequências", disse. 

Evelyn Soares iniciou sua carreira em 2012 fazendo aulas de Ballet, sendo uma das primeiras alunas do projeto Agnes Cidadania criado pela Cia Agnes, e em seguida, se tornou bailarina da Cia.  Atualmente atua como artista independente, ministrando aulas de dança para crianças e adolescentes nas escolas da regional Barreiro, local onde mora. 

Resgate da infância - Nayara Alana, que atua como professora de danças folclóricas em uma Escola da rede municipal de Belo Horizonte, apresenta um espetáculo carregado de memórias, de sentimentos, locais, objetos, pois ele resgata as lembranças que as pessoas guardam da infância em família. 

O público sentirá aquela nostalgia da infância, quando as avós e tias lavavam as roupas nos rios e córregos que ainda tinham água limpa, das mães e tias colocando roupa para secar nos varais que ficavam espalhados pelo quintal, das crianças brincando com brinquedos confeccionados por elas mesmas. O solo tem a intenção de criar um sentimento de nostalgia no público. “É um momento de conforto e consolo, nesses tempos de correria e adversidade. Além de fortalecê-los e ajudar na resiliência emocional”, explica. 

A apresentação também faz um resgate do samba. “O samba faz parte da minha família e de mim e transmite sentimentos. Ele faz a tristeza virar alegria. Essa paixão que eu tenho por esse ritmo musical foi transmitida pelas gerações passadas e são sempre memórias ligadas a à diversão, alegria”, afirma. 

Toque Toque - Manuela Santos, de 24 anos, bailarina, dançarina, performance e produtora cultural, construiu uma performance, que se chama “Toque Toque”. É um trabalho que fala de quatro antepassadas dela, quatro mulheres pretas, tias Felícia e Amália, vó Isabel e mãe Patrícia, mas que representa a luta, dedicação, carinho e amor de todas as mulheres pretas construíram uma estrutura para que as meninas negras da atualidade tivessem voz e potência. “São mulheres que estão bem presentes na minha ancestralidade mais próxima, que eu gosto e acho muito importante relembrar”. 

O solo mostra que a ancestralidade é um valor central na cultura africana, sendo fonte de sabedoria, identidade, pertencimento e saúde. Honrar os ancestrais e os mais velhos é reconhecer a sabedoria dos que vieram antes. Também é uma fonte de pertencimento que tece o chão, o espaço-território regido pelo tempo da natureza.  “De uma forma geral, o solo fala sobre quem veio antes de nós e construiu a nossa linhagem familiar e toda nossa hereditariedade”, ressalta. 

Ancestrar, - Thally Vitória de 23 anos, apresenta o solo “Ancestrar”.  Inspirado no livro “O Espírito da Intimidade”, de Sobonfu Somé, que fala dos ensinamentos ancestrais africanos, o solo de Thalita Vitória, 23 anos, também retrata a ancestralidade e a solista utilizou a experiência de suas avós e bisavós, pois ela se entende apenas como uma extensão de seus ancestrais, mas o espetáculo ressalta ainda importância de ritualizar a dança e entendê-la como um lugar espiritual.

A apresentação mostra que a dança pode ser ritualizada como uma prática espiritual para demonstrar um sentido para a vida terrena dos fiéis, para ser um instrumento de elevação da consciência coletiva, partindo do micro para o macro, para promover o respeito ao próximo, o carinho por si e pelo outro e a melhora da autoestima. Além disso, a dança reforça o apoio ao pertencimento, à confiança e à segurança emocional de cada um. 

Thally Vitória começou a dançar no grupo Impactto em 2014, onde passou por diversas experiências e diferentes estilos de danças, com vasta experiência na dança, atualmente integra o coletivo multiartístico Corpos em Um e participa do Projeto Jameika.

 

“Quem sou eu e quem é você” - Juliana Silva aprendeu a apreciar a dança desde muito cedo e acredita que seus primeiros passos foram no samba, por influência das rodas que frequentava junto com sua mãe quando era criança, por isso apresenta o solo de samba: “Quem sou eu e quem é você”.  Uma apresentação que transporta tanto a solista quanto o público para um processo de autoconhecimento. Além disso, a apresentação cria nas pessoas um sentimento de reconhecer e interpretar as próprias características, tanto as visíveis como as ocultas. “Eu pensei muito em o que eu represento para as pessoas que me cercam, mas ao mesmo tempo em como eu me vejo nelas. Então, eu fiz o exercício mesmo de perguntar para essas pessoas do meu convívio, quem eu sou para você? O que marca em mim para você? O que te faz lembrar de mim?”, explica. 

A criação do solo também foi influenciada pelo estado de saúde de Juliana Silva.  No início do ano, ela recebeu um diagnóstico de câncer de intestino, que comprometeu também o ovário e já estava no início, foi no nível 4 da doença. Acostumada a dançar no carnaval, e em outros espaços, a sambadeira foi obrigada, pelo médico, a ficar 60 dias sem fazer nenhum tipo de atividade física, inclusive dançar. Após esse período, a paciente oncológica encontrou motivação neste projeto para superar a doença. “Passei a ter muitas limitações, dormência, formigamento, dor nos pés e nas mãos, além da falta de equilíbrio, que são efeitos colaterais do tratamento. “Foi um período de algumas frustrações, eu tive queda, porque não tinha equilíbrio. Mas as professoras me ensinaram que eu não precisava fazer muitos movimentos, então eu me entendi nesse processo. Elas me ensinaram a criar um solo de qualidade dentro das minhas condições atuais”, afirma. 

Foi então que a aluna aprendeu a adaptar a dança à realidade do seu corpo, sem deixar de ser ela mesma, ou seja, se reconectou com o seu corpo. Ela se apresenta vestida de sambadeira e papéis onde estão escritos tanto as qualidades, como também os defeitos que os amigos atribuíram a ela. “Sou sambadeira e o samba é uma das energias que mais combinam comigo, é uma das coisas que mais me representam. Então, a ideia é gerar uma identificação mesmo com o público, porque eles vejam que tem um pouquinho deles em mim e um pouquinho de mim com eles também”.  

SERVIÇO:  Espetáculo “Corpo Mostra Cultura”

Data: Terça-feira, dia 18 de março.

Local: Teatro Marília, localizado na Avenida Professor Alfredo Balena, 586, Belo Horizonte

Hora: às 20h. 

Valor: Entrada Gratuita 

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