Incêndio em fábrica de fantasias expõe precariedade e falta de fiscalização na produção do Carnaval
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Felipe Macon| BTN |
Fontes: Joana Contino, professora do Mestrado Profissional em Economia Criativa, Estratégia e Inovação da ESPM, e Marcelo Flores, especialista em gestão de megaeventos pela ESPM
Um incêndio atingiu uma fábrica de confecção de roupas para o Carnaval em Ramos, na Zona Norte do Rio, deixando pelo menos 20 pessoas feridas. O incidente, ocorrido na última quarta-feira (12), a pouco mais de duas semanas dos desfiles, comprometeu diretamente cinco escolas de samba – Império Serrano, Unidos da Ponte, Acadêmicos de Vigário Geral, Unidos de Bangu e Em Cima da Hora –, que armazenavam suas fantasias no local.
Não é a primeira vez que tragédias como essa impactam o Carnaval carioca. Desde 1992, incêndios e acidentes vêm comprometendo a preparação das escolas, evidenciando a necessidade de maior fiscalização e planejamento estratégico. Diante da gravidade do caso, dirigentes convocaram uma reunião emergencial para minimizar os impactos e garantir que nenhuma agremiação seja prejudicada. A Liga RJ acompanhará de perto as investigações.
Além dos prejuízos materiais e do risco à segurança das escolas, o incêndio também escancara as condições precárias de trabalho na indústria carnavalesca. A professora Joana Contino, do Mestrado Profissional em Economia Criativa, Estratégia e Inovação da ESPM, destaca que o setor opera de forma intensa e muitas vezes sem fiscalização adequada. “Os depoimentos indicam que trabalhadores estavam dormindo na fábrica, passando dias seguidos no local devido ao ritmo acelerado da produção. O Carnaval tem essa especificidade da sazonalidade, e nesses meses que antecedem os desfiles, a produção acontece de forma ininterrupta. Isso levanta questionamentos sobre as condições de trabalho, a regulação do setor e a ausência de fiscalização quanto à jornada e à segurança dessas pessoas”, alerta.
Joana também ressalta que os materiais utilizados nas fantasias e alegorias são altamente inflamáveis, como espuma, plumas e tecidos sintéticos, o que aumenta os riscos de incêndio. Segundo ela, a Cidade do Samba foi construída justamente para oferecer melhores condições às escolas do Grupo Especial, minimizando esse tipo de ocorrência. No entanto, escolas do Grupo Ouro, como algumas das afetadas pelo incêndio, não contam com o mesmo suporte e infraestrutura. “Há uma disparidade de investimentos entre as escolas, o que se reflete diretamente na segurança e nas condições de trabalho. A falta de fiscalização no setor, que opera de forma semelhante à indústria da moda, amplia os riscos de tragédias como essa”, explica.
Para o professor Marcelo Flores, especialista em gestão de megaeventos pela ESPM, a realização de grandes festividades culturais exige um equilíbrio entre criatividade e responsabilidade. “O Carnaval movimenta uma extensa cadeia produtiva e precisa ser tratado com a seriedade que um grande evento demanda. A análise de riscos, o planejamento detalhado e o treinamento adequado das equipes são fundamentais para garantir segurança, proteger vidas e preservar essa manifestação cultural tão importante para o país”, destaca.
O episódio reforça a urgência de políticas públicas voltadas à fiscalização das condições de trabalho e segurança no setor. Sem medidas efetivas, tragédias como essa continuarão a se repetir, comprometendo não apenas o espetáculo, mas também a vida de quem faz o Carnaval acontecer.
Os especialistas estão disponíveis para comentar sobre o assunto.
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