[ESTREIA / CINEMA] Exibição única de curta-metragem sobre Racismo Ambiental em Francisco Morato estreia neste sábado
Curta "Desova" aborda racismo ambiental na periferia de SP em épico que marca estreia de Beatriz Nauali no cinema
Filme adapta peça teatral da atriz e dramaturga Beatriz Nauali, e expõe o racismo ambiental na região da Bacia do Juquery, na Grande São Paulo
Fotos: Dani Lima e Jana Assis
Uma enchente, um corpo levado pela correnteza, e uma mulher que, enquanto reza para que o sol seque a inundação, tenta descobrir a identidade da vítima. Essa é a trama de "Desova: Uma Reza pro Sol", o curta-metragem que marca a estreia da atriz e dramaturga Beatriz Nauali na direção de cinema. O filme é uma adaptação do monólogo teatral de mesmo nome publicado por ela e retrata o racismo ambiental sofrido pelas famílias das cidades no entorno da Bacia do Juquery, região Periférica da Grande São Paulo. Exibição única no dia 19 de outubro, às 20h30, no Espaço Play, em Francisco Morato.
Viabilizado por meio de recursos da Lei Paulo Gustavo para iniciativas culturais do município de Francisco Morato, DESOVA é uma narrativa épico e contemporânea, que se desenrola a partir do recurso do pseudo-documentário. O filme se alterna entre o depoimento desta protagonista e quadros poéticos das personagens que ela especula ser a vítima.
"Quando comecei a escrever a dramaturgia de 'Desova', em 2021, eu ainda não tinha a dimensão do tamanho do problema que é o racismo ambiental. Estávamos no auge da pandemia, enclausurados em nossas casas, e tudo o que eu podia fazer era olhar ao meu redor e refletirEssa é a realidade de quem vive aqui, e eu não poderia falar de outra coisa.", reflete Beatriz Nauali, diretora do filme.
"Desova" conta a história da “Mulher de Lágrimas Evaporadas”, que testemunhou um corpo ser levado pelas águas de uma enchente. Ela não sabe quem foi a vítima, mas suspeita que seja alguém ligado ao seu cotidiano na comunidade: um jovem que, refém do sistema, encontrou no tráfico sua única opção de sobrevivência, ou uma babá grávida. A causa da morte também é um mistério: ele foi tragicamente levado pela enxurrada ou foi desovado?
Enquanto conhece a história dessa personagem por meio de uma entrevista, o público é convidado a observar também as rezas dela para que o Sol, o seu “deus-amigo”, volte a aparecer e seque a inundação. Para construir essa “ficção baseada em fatos reais”, a diretora utilizou pesquisas de fotos, registros e depoimentos de vítimas de tragédias decorrentes de alagamentos.
Fotos: Dani Lima e Jana Assis
Racismo Ambiental e Tragédias Reais
"Desova" reflete sobre as violências concretas e simbólicas das tragédias decorrentes das fortes chuvas, alagamentos, enchentes e deslizamentos, que atingem de forma mais delicada às populações periféricas, vítimas do racismo ambiental.
A trama usa como referência as enchentes sofridas pela cidade de Francisco Morato e os municípios vizinhos, como Caieiras e Franco da Rocha, localizados no entorno da bacia do Juquery. A região possui um histórico de desastres naturais causados pelas chuvas desde a década de 1980. O mais recente deles, em janeiro de 2022, causou 22 mortes e deixou mais de 3500 famílias desabrigadas.
"Tanto o processo de escrita do Desova naquela época quanto sua adaptação hoje refletem um processo agridoce de reconhecimento da minha própria negritude e do contexto em que vivo. Foi e é um desabafo", comenta Beatriz. "Mas, uma vez que coloquei no papel e soltei no mundo, não é mais só meu. É nosso! Nós, como pessoas negras e periféricas".
A enchente de 2022 deixou as cidades em calamidade pública, com perdas materiais e culturais, impactando escolas, bibliotecas, teatros e outros espaços de cultura. Para Beatriz, a escrita de 'Desova' reflete esse processo agridoce de reconhecimento da sua própria negritude e do contexto em que vive.
Da Cena Teatral ao Cinema
Foi neste contexto de reerguimento da cena cultural da região que o monólogo DESOVA se desenvolveu. A Mobatará Firma Cultural contou com o apoio de artistas, coletivos e entidades culturais da região para divulgar as ações do projeto, que contou com recursos do edital do PROAC de 2022.
A publicação de Desova nos palcos gerou 15 empregos diretos a profissionais de cultura periféricos. Centenas de exemplares desta publicação foram distribuídos para bibliotecas, coletivos culturais e membros da sociedade civil da região e de todo o Estado de São Paulo.
Agora, ao transpor DESOVA para o audiovisual, Beatriz Nauali foi além da inspiração na região da Bacia do Juquery, utilizando-a também como cenário. Entre as locações usadas para as filmagens, estão o Parque Estadual do Juquery. Assim como na produção do livro, a filmagem do curta também empregou profissionais da região, que formavam boa parte da equipe. Desova: Uma Reza pro Sol' oferece uma chance única de vivenciar uma narrativa poderosa, que ecoa as vozes e lutas de uma população historicamente invisibilizada.
Sinopse
O sol não arde há tempos. Uma mulher reza para que ele apareça e seque as inundações. Um corpo afundou na água. O corpo de quem? Entre a constante atenção e a completa indiferença ela especula. É alguém que tem muito pra falar.
Serviço
"Desova: Uma Reza pro Sol"
Lançamento Curta-metragem - 19 de Outubro de 2024 (Sábado), a partir das 18h30
Play Espaço Cultural - Rua Fioravante Begamini, 26 - Jardim Prof. Francisco Morato, Francisco Morato - SP, 07910-110
FICHA TÉCNICA
Idealização: Beatriz Nauali e Grupo de Pesquisa Entre Atlânticas
Roteiro Adaptado: Ana Mota, Beatriz Nauali e Diddìo Gonçalves
Direção de Produção: Beatriz Nauali e Mobatará Firma Cultural
Produção Executiva: Ana Mota e Edson Burgos
Assistência de Produção: Diddìo Gonçalves e Grupo de Pesquisa Entre Atlânticas
Apoio de Produção: Gabriel Castilhoni e Gabriela Bertulino
Direção: Beatriz Nauali
Assistência de Direção: Yalla Kala
Direção de Fotografia: Walter Albertin
Direção de Arte: Beatriz Nauali e Luccas Màia
Assistência de Direção de Arte: Renan Novais
Preparação de Elenco: Diddìo Gonçalves
Elenco: Ana Mota, Beatriz Nauali, Renan Novais e Tayná Queiroz
Voz: Paloma Rodrigues
Sonoplastia e Trilha Sonora Original: Yalla Kala
Operação de Câmera: Igor Vasco e Walter Albertin
Técnico de Som / Captação de Som Diret: Fernando Caio
Gaffer / Iluminação: Janaina Ribeiroe Thayse Sborowski (assistente)
Montagem e Edição: Alex Reis
Colorista: Luiza Lucena
Mixagem e Edição de Áudio: Yalla Kala
Produção de Set: Thayse Sborowski
Maquiagem: Luccas Màia
Coordenador de Comunicação: Ana de Assis
Assistente de Comunicação Associado: Luccas Màia | Diretor de Comunicação Grupo de Pesquisa Entre Atlânticas
Design Gráfico: Mau
Assessoria de Imprensa: Cleberson Santos e Pedro Madeira
Fotografia e Registros: Dani Lima e Jana Assis
Interpretação em Libras: Rosangela Toledo e Helen Cezar
Audiodescrição: Igor Calumbi
Monitoria em Acessibilidade: Igor Calumbi
Tradução e Legendagem: Ana Mota
Assessoria Jurídica: Vanessa Xavier
Assessoria Contábil: Alice Freitas
Apoio: Secretaria de Ação Cultural, Turismo de Caieiras e Secretaria Adjunta de Cultura de Franco da Rocha
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Beatriz Nauali |
É atriz e dramaturga. Técnica em Arte Dramática pela Etec de Artes de São Paulo; Bacharela em Artes Cênicas pela Unicamp, mestra e doutoranda pela UNESP também em Artes Cênicas. Pesquisa na linha de Estética e Poéticas Cênicas, sobre dramaturgias e ações teatrais/performativas negras e atlânticas.
Iniciou sua trajetória como atriz no ano de 2013 com a CIA Arcanjos do Teatro, na qual permaneceu até 2017, quando entrou para o Grupo Talvez Elizabeth/SP até 2020. Desde então vem colaborando como atriz com grupos de teatro independente na cena paulista.
Foi intérprete em mais de 10 peças, voltadas ao público infanto-juvenil e adulto. É autora das peças: “C.R.I.A.S”, “A Lâmpada do Berro” - publicada na 4ª Edição da Revista Legítima Defesa, da Cia Os Crespos -, “Constelação”, “Desova: uma reza pro sol” e "Elefante" - para a coletânea "Dois corpos não ocupam o mesmo espaço". Desova e Elefante foram publicados pela Editora Javali.
Beatriz também é gestora e diretora de produção da Mobatará Firma Cultural, membro do Grupo de Pesquisa Entre Atlânticas e faz parte como atriz do Núcleo TUSP (2023-2024) colaborando ainda com outros grupos independentes da cidade de São Paulo.
Mobatará Firma Cultural
É uma firma de produção cultural preta e periférica, iniciada em dezembro de 2022 na cidade de Francisco Morato, atuante na região da Bacia do Juquery/SP. Idealizada e dirigida por Beatriz Nauali, a iniciativa busca viabilizar e fortalecer ações em âmbito artístico e cultural sonhadas e protagonizadas por pessoas pretas.
Ainda que o escopo de atuação da firma seja no ramo artístico e cultural, a Mobatará possui fortes princípios sociais e políticos, na luta pelo rompimento de estruturas e práticas racistas, desiguais e excludentes, por uma formação de público equânime e crítica. pela libertação do corpo e das vontades pretas, pelo reconhecimento dos saberes periféricos e retomada de saberes ancestrais, e pela valorização, regularização e humanização dos profissionais da arte, principalmente pretas/os/es.
Em sua curta trajetória, a Mobatará já foi responsável pela produção e desenvolvimento de projetos no campo da literatura, do teatro e do audiovisual. Em 2022 produziu a leitura dramática do infantil “A Lâmpada do Berro” como parte da programação da Semana da Consciência Negra de Francisco Morato.
O grupo seguiu nos anos seguintes com a produção da dramaturgia “Desova: uma reza pro sol” (2023) e da coletânea “Dois Corpos Não Ocupam o Mesmo Espaço” (2024), produzida em parceria com a produtora Entre Antlânticas. Ambos as obras foram contempladas pelo ProAC Editais na linha de Publicação de Obra Teatral Inédita.
Neste último ano assinou ainda a produção de outro projeto contemplado pelo ProAC Editais, o percurso formativo em audiovisual “Eu Tenho Medo da Chuva” (2024), realizado na bacia do Juquery para os jovens periféricos e membros da comunidade LGBTQIAPN+.
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