Especial Casa Flip+ CCR: A cidade como aliada do cronista

 Especial Casa Flip+ CCR: A cidade como aliada do cronista


Os escritores Xico Sá e Gaía Passareli falam como aproveitam dos espaços urbanos para criar os textos de suas crônicas, na quinta mesa da Casa CCR, na 22ª Flip



 

Xico Sá (ao meio) e Gaía Passarelli (à direita) falaram sobre o mundo da crônica no espaço urbano, com mediação de Paula Carvalho (à esquerda), (Créditos: Charles Trigueiro/ Divulgação CCR)


Paraty, 12 de outubro de 2024 – Na pandemia, o jornalista, escritor e cronista Xico Sá sentiu falta de algo crucial para a continuidade de seu trabalho: a cidade. Isolado em casa, tentava absorver as novidades da família, como contou na mesa “Um passo depois do outro”, que abordou as andanças pelos cenários urbanos dos cronistas em uma das mesas da Casa CCR, durante a 22º Festa Literária Internacional de Paraty (Flip).

 

O painel foi dividido com a escritora Gaía Passarelli, que atua como repórter e fez crônicas de viagens durante muito tempo. Mediado por Paula Carvalho, os dois cronistas falaram sobre a tradição do flâneur, uma figura que observa e reflete sobre a vida urbana de maneira contemplativa, para traçar suas próprias jornadas e expressar suas percepções sobre o ambiente urbano. O debate entre os escritores faz parte da programação gratuita oferecida pelo Instituto CCR, patrocinador e parceiro oficial de mobilidade da Flip 2024.

 

Fazer crônica todos os dias, segundo Xico, é um desafio. Para isso, ele vai guardando o que chama de “besteiras” e que podem acabar rendendo um texto. É da conversa com um garçom que tira elementos mundanos para escrever. A pandemia pegou bem nesse ponto: em casa, ele brigava por um cantinho da janela para viver o voyeurismo das novidades, como em um filme de Hitchcock. A cidade fazia falta.

 

O tema tem sido recorrente nas mesas da Flip à luz do homenageado da edição, João do Rio. O carioca se destacou no gênero justamente por circular pela cidade, observando tudo e documentando o momento histórico do Rio de Janeiro no início do século passado. Clarice Lispector, segundo Xico, tinha mais facilidade para escrever sem a influência urbana. Ela foi o que ele chamou de um “João do Rio para dentro”. Mas mesmo a escritora ficou desesperada quando foi convidada para ser cronista e pediu ajuda ao compadre Rubem Braga para entender como fazer aquele novo tipo de texto. “Ela aprendeu e fez com maestria mais tarde”, disse.

 

E a lacração?

“Outro desafio é o período de lacração em que vivemos”, falou Xico. Em uma época em que só vale o trending topics do dia na internet, é difícil fazer crônicas sobre assuntos que não sejam “o que todos estão falando”. “Como escrever sobre uma borboleta amarela se a audiência está querendo ver sangue?”, perguntou o escritor. Gaía reafirmou a importância da borboleta amarela, aqui metafórica, em outros contextos. “Precisamos que a crônica funcione como um respiro. O absurdo cotidiano que vivemos parece não deixar espaço para isso, mas é justamente esse respiro que possibilita viver”, ela diz.

 

Eles refletem que esse respiro acabou há cerca de duas décadas e é mandatório que o cronista esteja colado nos assuntos do dia com a velocidade da informação da internet. Gaía disse que esse é um dos motivos que faz com que não goste muito das redes sociais. “Preferia que não existisse. São mídias muito visuais e esse formato me interessa pouco”, ela afirmou, completando que plataformas como Substack têm feito pelo texto o que o YouTube fez pelo vídeo há alguns anos. O Twitter, segundo ela, era um bom exercício de concisão e todas essas plataformas mudaram a forma de todo mundo escrever e se comunicar. “Os blogs já eram umbiguistas, mas redes sociais são muito mais”, ela disse.

 

Xico também mudou seu jeito de escrever: hoje seus textos são mais curtos, e ele aposentou os períodos cheios de vírgula. “Eu me pego pensando se chegarão ao fim dos períodos muito rebuscados. Eu era mais barroco, hoje só faço literatura noir, como um policial americano em frases curtas. Escrevo com gosto, prazer, mas quando escrevo sob encomenda, há uma preocupação de atender esse leitor mais apressado que acaba transformando o texto”, refletiu o escritor. Além disso, o desafio é que na internet competimos por uma fagulha de atenção. O leitor pode ir para outros lugares no meio da frase, comentou Gaía.

 

A crônica que ninguém quis escrever

Gaía descobriu que existiam textos que são gostosos de ler na infância, com a coleção Para Gostar de Ler, depois com as crônicas que fechavam as revistas semanais. “Entendi que todo mundo poderia ler, até eu, que não era uma boa aluna”. Mas ela só se viu como cronista quando começou a viajar como repórter de turismo. “Como eu ia contar sobre os lugares em que não ia passar muito tempo? Passei a andar pela cidade olhando. Aí parei de viajar e passei a andar em São Paulo com outro olhar. Eu ia a museus, festas e pensava: que bom que minha cidade é essa. Vou andar e voltar para casa com alguma história para contar”, afirmou.

 

Ambos citam crônicas marcantes: o 7 a 1 da Alemanha sobre o Brasil na Copa de 2014. Gaia tinha uma história engraçada para contar: acompanhou o 7 a 1 da Ilha de Páscoa, para onde havia viajado para escrever para um site americano. “O editor pediu que eu escrevesse sobre o assunto, mas eu não queria de jeito nenhum. Acabei escrevendo e deu certo”, disse. A história de Xico é mais triste: “Foi um dos piores textos que entreguei na vida. Não tinha alma na crônica”, contou agora rindo.

 

Grupo CCR na Flip

O Grupo CCR, maior empresa de infraestrutura de mobilidade do Brasil, ampliou sua participação na Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP), o maior evento do gênero no País. Por meio do Instituto CCR, é a primeira vez que oferece um espaço com programação. Ao longo de três dias, serão apresentadas nove mesas de discussão, com a presença de escritores, jornalistas, tradutores e pesquisadores acadêmicos.

 

Os debates irão abordar temas como mobilidade urbana, combate às mudanças climáticas e jornalismo literário. Este último assunto está relacionado ao jornalista e autor João do Rio, reconhecido como um dos mais influentes escritores do início do século XX no Rio de Janeiro e o homenageado pelo evento na edição deste ano.

 

Além da Casa CCR, o Grupo CCR é novamente o parceiro oficial de mobilidade da Flip. A Companhia irá oferecer transporte gratuito por meio de vans e barcas para os moradores de comunidades ribeirinhas, indígenas e quilombolas na região de Paraty. Seis rotas foram planejadas para facilitar o acesso dessas comunidades ao centro histórico, com horários definidos de acordo com a programação do festival.

 

Em linha com sua agenda de sustentabilidade, o Grupo CCR também implementou a coleta seletiva de resíduos na Flip, em colaboração com a Associação de Catadores e Catadoras de Recicláveis de Paraty, uma cooperativa local. Um carrinho elétrico está percorrendo o Centro Histórico durante o evento, recolhendo materiais recicláveis e destinando para uma caçamba de reciclagem instalada na praça.

 

Sobre o Instituto CCR | Entidade privada sem fins lucrativos, gerencia o investimento social do Grupo CCR, com o objetivo de proporcionar transformação social nas regiões de suas concessões de rodovias, aeroportos e mobilidade. Os projetos do ICCR são implementados por meio de recursos próprios ou verbas incentivadas. Entre os projetos proprietários de impacto, merecem destaque: Caminhos para a Cidadania, que capacita mais de 3 mil professores em 1.600 escolas anualmente, e o Caminhos para a Saúde, que oferece atendimentos de saúde a caminhoneiros, motociclistas, ciclistas e passageiros de trens urbanos e metrôs. Seu foco são iniciativas nas frentes de Mobilidade e Cidades Sustentáveis, Cultura e Educação, Saúde e Segurança. Desde 2014, as ações do Instituto já beneficiaram mais de 18 milhões de pessoas. Saiba mais em www.institutoccr.com.br.

 

Sobre o Grupo CCR | O Grupo CCR, maior empresa de infraestrutura de mobilidade do Brasil, atua nas plataformas de Rodovias, Mobilidade Urbana e Aeroportos. São 39 ativos, em 13 estados brasileiros e mais de 17 mil colaboradores. O Grupo é responsável pela gestão e manutenção de 3.615 quilômetros de rodovias, realizando cerca de 3,6 mil atendimentos diariamente. Em mobilidade urbana, por meio da gestão de metrôs, trens, VLT e barcas, transporta diariamente 3 milhões de passageiros. Em aeroportos, com 17 unidades no Brasil e três no exterior, embarca 43 milhões de clientes anualmente. A companhia está listada há 13 anos no hall de sustentabilidade da B3. Mais em: grupoccr.com.br.

 

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