ESTREIA | Depois do ensaio, Nora, Persona | direção de José Fernando Peixoto de Azevedo | De 24/05 a 23/06 | Sesc Avenida Paulista

 Teatro | Estreia | Sesc Paulista

Espetáculo Depois do ensaio, Nora, Persona desdobra  diálogo entre Bergman e Ibsen

Com direção e dramaturgia de José Fernando Peixoto de Azevedo, obra aborda o terror que atravessa os processos de mobilidade social


Cena de Persona Foto de André Voúlgaris


As obras discutem temas como o abandono, a inveja, o teatro e o cinema

Dando continuidade à pesquisa sobre o terror nas relações cotidianas, em sua dimensão racializada, o encenador José Fernando Peixoto de Azevedo estreia Depois do ensaio, Nora, Persona. A peça estreia no Sesc Avenida Paulista no dia 24 de maio de 2024 e cumpre temporada até 23 de junho, com sessões às quintas, sextas e sábados, às 19h. Aos domingos e no feriado, 30 de maio, às 17h. E na quarta, dia 19 de junho, às 19h.

O trabalho estabelece uma relação entre os textos “Depois do ensaio” e “Persona”, do escritor e cineasta sueco Ingmar Bergman (1918 - 2007), e “Casa de Boneca”, do dramaturgo norueguês Henrik Ibsen (1828 – 1906). As obras, que discutem temas como o abandono, a inveja, o teatro e o cinema, ganharam novos contornos a partir da dramaturgia de Azevedo.

“Desde que montei ‘Ensaio sobre o terror’, em 2023, estamos retomando uma experiência de coletivo. Aos poucos vai se consolidando a SOCIEDADE ARMINDA, uma plataforma de trabalho, de aquilombamento, inicialmente com Rodrigo Scarpelli e Thainá Muniz". 

Já para este projeto, outros artistas se agregam. É o caso da diretora de arte Beatriz Barros e do diretor musical Muato, além do aprofundamento da parceria com o cineasta André Voúlgaris. "Em mira,  os embates que acontecem quando brancos e negros estão juntos. Aqui, nesse ‘juntos’, a cifra do que interessa investigar, apostar, inventar", diz o diretor. 

A questão da interracialidade passou a integrar a trama. Em Depois do ensaio, Nora, Persona, o público assiste a três peças, uma na sequência da outra. A experiência tem a duração total de 3h40 com um intervalo de 20 minutos. Embora a articulação dos textos não seja imediata, Azevedo realiza uma combinação de trajetórias, fazendo com que uma fábula vá se desdobrando na outra, com pequenas adaptações que dão a ver a atualidade do material. 

Sobre a encenação

espetáculo começa com Depois do ensaio. Na trama, enquanto ensaia para montar Casa de Boneca, uma jovem atriz negra discute com seu diretor, um homem branco de meia idade, a respeito de certos impasses do trabalho e da vida, fazendo vir à tona aspectos não resolvidos de ambas as trajetórias. Os dois têm visões muito diferentes sobre o  fazer teatral, sobre a maneira de politizar o trabalho e como viver/tratar os conflitos.

Ao mesmo tempo, a memória da mãe da jovem – uma grande atriz, amante do diretor, que morreu em crise com suas escolhas – toma a cena, presentificada em sua força falante, um fantasma exigindo justeza entre palavra e gesto, ali, onde a justiça talvez já não seja possível. “Com Depois do ensaio, estou fazendo algo que eu não fazia há muito tempo: uma cena aterrissando na palavra, sem nada que a enquadre, senão os próprios atores,  sem utilizar dispositivos do audiovisual, por exemplo” – esta, uma característica do trabalho do  encenador José Fernando.

segunda parte do trabalho é composta pela montagem de Casa de Boneca, que teve uma versão do próprio cineasta, em 1981,  em que atualizava alguns aspectos do original ibseneano. Agora  a peça aparece  intitulada Nora, concebida  também como um conto de terror. Isso porque a protagonista, em seu casamento com um jovem advogado e banqueiro branco,  vivencia uma espiral intensificada de ameaças e devastação, sentindo-se constantemente pressionada por um empréstimo que fez e não deveria. Essa situação evoca aspectos presentes nos dois textos de Bergman, integrando os espetáculos em um movimento de suspense sem solução. E, para criar esse clima aterrorizante, Azevedo retoma um dos elementos centrais das suas montagens: a prática do cinema, ao vivo, em cena.

Três câmeras estão em cena, telas exibem imagens ao vivo e gravadas, e o cenário é construído a partir de chroma key, um recurso que permite a substituição de uma cor sólida (no caso, o azul) por uma imagem. A trilha sonora também é executada ao vivo.  

Por fim, em Persona, uma atriz colapsa em cena e perde a voz. Na tentativa de se recuperar, confronta-se com uma jovem mulher: a enfermeira que, no esforço de cuidar da outra, compreende a falta como um abandono de si. São duas mulheres negras tendo que lidar com a palavra que irrompe no silêncio,  como desencontro. Persona, aqui,  divide-se em duas partes. Em um primeiro momento, os espectadores acompanham uma espécie de filme sonorizado ao vivo pelos atores. Depois, quando a fala colapsada emerge em cena, recupera-se a dinâmica do filme inteiro sendo feito ao vivo, como acontece com a encenação do Casa de Boneca.

“Com esse projeto, discutimos a permanência dos corpos negros em cena. Por isso, temos pelo menos três gerações de teatro no trabalho. Em Depois do ensaio, temos duas gerações radicalmente diferentes de mulheres negras em cena, o que permite uma reflexão sobre teatro, sobre racialidade no teatro, sobre interracialidade e sobre o lugar dessas mulheres no teatro que fazemos”, comenta Azevedo. 

O jogo entre as atrizes, no trânsito entre uma parte e outra, em cena, e a cena em que vemos a atriz jovem, sua mãe, também atriz;  ou a atriz revendo o que ainda é possível considerar de sua personagem, Nora, e, depois,  de si mesma, são elementos decisivos que, integrados pela presença da câmera e o cinema ao vivo, fazem ver um tanto da violência estrutural que define nossa sociabilidade no seu momento interracial, quando o silencio é nome de ferida social.

Sinopse

Depois do ensaio, Nora, Persona: três ensaios sobre a falta e as formas do terror que atravessam processos de mobilidade social na dinâmica interracial disso que ainda chamamos sociedade. Primeiro, o teatro, e o que nele se faz na medida em vamos nos inventando a nós mesmos; depois, os confrontos da cena em sua demanda violenta de atualidade sem recuos; por fim, o trabalho de cura sobre os corpos que não esquecem suas dores, mas que as vão mapeando, no esforço de não se perderem em meio a elas, numa reiteração sem fim. 

Ficha Técnica
Textos: Ingmar Bergman (Depois do ensaio, Persona) e Henrik Ibsen (Casa de Boneca)
Tradução: Karl Erik Schøllhammer (Depois do ensaio, Casa de Boneca, Persona) e Aderbal Freire-Filho (Casa de Boneca)
Dramaturgia, dispositivo de cena e de imagem, direção geral: José Fernando Peixoto de Azevedo
Elenco: Daniel Tonsig, Castilho, Ellen Regina, Filipe Roseno, Izabel Lima, Rodrigo Scarpelli, Thainá Muniz e Victor Barros
Direção técnica e de imagem: André Voúlgaris
Direção de arte: Beatriz Barros e Maíra Sciuto
Direção musical e trilha: Muato
Desenho de Luz: Denilson Marques
Assistente de direção: Diego Roberto
Operação de câmera e edição de imagens: Fredo Peixoto
Assessoria de imprensa: Canal Aberto – Márcia Marques, Daniele Valério e Kelly Santos
Produção: Gabi Gonçalves e Anderson Vieira - Corpo Rastreado

Serviço
Depois do ensaio, Nora e Persona 

Com SOCIEDADE ARMINDA e direção de José Fernando Peixoto de Azevedo

De 24 de maio a 23 de junho de 2024

Quintas, sextas e sábados, às 19h. 

Domingos e feriados, às 17h. 

Quinta, 30/05, às 17h.30/030/05, às 5, às 17h

Quarta, 19/6, às 19h.

Duração: 230 minutos, com intervalo

Sesc Avenida Paulista - Local: Arte II (13º andar)

Av. Paulista, 119 - Bela Vista, São Paulo - SP, 01311-903
Ingressos: R$50 (inteira), R$25 (Meia) e R$ 15 (Credencial plena)

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