Farofa do Processo trouxe pulsão de novas obras em construção; artistas ocuparam os espaços da mostra em apresentações concorridas
A Oficina Cultural Oswald de Andrade, a Casa do Povo e o Teatro de Contêiner foram ocupados por artistas, público e programadores nacionais e internacionais em busca de obras em processo de criação. Uma multiplicidade de olhares, temáticas, corpos e estéticas estavam presentes na cena, nos debates e nos encontros festivos ocorridos durante a Farofa, que trouxe, pela primeira vez, artistas de outras cidades e estados.
Apresentação de JAMZZ na Farofa do Processo 2024 - Foto Ligia Jardim
A Farofa do Processo ampliou a cena trazida para esta edição com obras e estudos cênicos oriundos de Cubatão (SP), Itajaí (SC), Recife (PE), Rio de Janeiro (RJ) e Teresina (PI)
São Paulo, março de 2024 – Com foco totalmente voltado aos modos de produção e processos em andamento, a mostra Farofa do Processo ocupou a cidade de São Paulo entre os dias 2 e 10 de março, com a apresentação de trabalhos em construção que apontaram conexões, descobertas e provocações no campo das artes cênicas. “A Farofa do Processo é feita a partir da perspectiva da produção. Procuramos trazer a luz para o tempo dentro da criação artística, e mostrar que uma produção em processo pode ser tão interessante quanto um espetáculo pronto”, explica Gabi Gonçalves, uma das idealizadoras da Farofa, da Corpo Rastreado.
Este ano, a Oficina Cultural Oswald de Andrade, a Casa do Povo e o Teatro de Contêiner receberam uma programação intensa, com sessões de manhã, de tarde e de noite e mais de 100 horas de apresentações. “A resposta que a gente teve dos artistas, sobre esta oportunidade de mostrar seu processo, foi excelente. A gente sabe que ainda é um processo que vai evoluir muito. Saber mais o que significa mostrar um processo a partir da perspectiva dele mesmo e não mais do trabalho pronto. Eu ainda sinto que as pessoas mostram suas obras a partir da perspectiva do trabalho pronto”, explica.
Alguns dos trabalhos em fase de pesquisa e espetáculos da Farofa do Processo Fotos Lígia Jardim
Entre todos os espaços, a Oficina Cultural Oswald de Andrade tornou-se este ano uma espécie de “sede” da Farofa. Assim, era possível passar um dia inteiro entrando em salas, assistindo e participando de diferentes processos de teatro e dança em andamento, em uma programação híbrida e concomitante. Para o público, era possível também sentir-se muito próximo à produção e equipe de acessibilidade da Mostra, participando de conversas e encontros sobre cada obra recém-apresentada. “Eu acho que quando as pessoas vão à Farofa do Processo, percebem que tem uma pulsão diferente, tem um arrebatamento, muitas vidas se amalgamando ao teatro, à performance”, finaliza.
Na edição de 2024, a Farofa do Processo trouxe imagens processuais de obras artísticas em suas jornadas de criação, em tempo “quase” real. A mostra é um espaço dedicado àquilo que ainda não sabemos, o que antecipa um futuro. Foram apresentados nesta Farofa cerca de 40 trabalhos, sendo 30 deles processos de obras artísticas ainda em construção.
A Farofa do Processo é como um spoiler da cena artística, como se ela antecipasse o que logo mais estará nos palcos e espaços da cidade. Investigações e buscas - temáticas e estéticas - que estabelecem esse diálogo com a plateia.
Acessibilidades nos processos
Na foto: Vanessa Bruna, coordenadora de acessibilidades, Nepô, audiodescritor, Anderson Vieira e Jack Santos, produção. Foto: Ligia Jardim
Uma das prioridades desta edição da Farofa do Processo foi a pesquisa sobre como proporcionar a investigação das acessibilidades nos processos de montagens. Com uma equipe de nove pessoas, sob coordenação da especialista Vanessa Bruna, a Farofa permitiu que artistas experimentassem em seus processos recursos variados: audiodescrição, interpretação em Libras, abafadores para pessoas sensíveis a sons altos e óculos para sensibilidades a luz forte.
As acessibilidades permitiram uma parceria com o time de produção da Corpo e com os grupos e artistas que integraram a Farofa, pesquisando as maneiras que os recursos poderiam integrar cada um dos processos, e as possibilidades poéticas integradas as cenas. Em diversas apresentações, recursos como autodescrição fizeram parte da dramaturgia, e os intérpretes de Libras surgiram como performers da cena, a audiodescrição se tornava uma nova possibilidade narrativa para todos.
O resultado alcançado na Farofa neste campo indica a potência da acessibilidade na produção artística contemporânea e na aproximação de públicos, e também indica aos artistas novas possibilidades poéticas. Também já marca um dos pontos de interesse das próximas edições da Farofa: o aprofundamento na pesquisa sobre as diversas possibilidades de permitir o acesso de comunidades independente das barreiras que enfrentam.
Ação de aproximação
Além de espetáculos e processos, outra atividade que a Farofa promoveu em dois dias de sua programação foram almoços comunitários (foto) envolvendo artistas, público, curadores e programadores nacionais e internacionais.
O objetivo destas ações era o de potencializar uma das principais características da Farofa: aproximar as pessoas. Ao redor de mesas coletivas, as pessoas puderam conversar sobre diversos assuntos: sobre a programação da mostra, sobre o andamento de seus trabalhos, sobre os contextos de onde vêm etc. Além de eventuais parcerias profissionais futuras, as conversas serviram para possibilitar trocas de outras ordens, que podem reverberar nos trabalhos ou que simplesmente relembram o prazer de estar junto num teatro.
Boteco Crítico
Foto do Boteco Crítico - Foto Lígia Jardim
O prazer de estar junto também foi o mote do Boteco Crítico, ação proposta pelo Arquipélago Crítico dentro da Farofa. Ao redor de mesas de bar, Heloísa Souza (Farofa Crítica/RN), Amilton de Azevedo (Ruína Acesa/SP), Fernando Pivotto (Tudo, Menos Uma Crítica) e Guilherme Diniz (Horizonte da Cena/MG) mediaram conversas entre público e artistas sobre os temas adjacentes à programação da Farofa.
O clima de boteco era essencial para a ação, que desejava fomentar conversas que fossem convidativas e despojadas, sem que isso significasse perder a profundidade da discussão. Ao longo dos três encontros, temas como os meios de produção, as possibilidades da curadoria, a importância da acessibilidade, entre outros, foram discutidos entre as pessoas que produziram, protagonizaram ou assistiram os processos e espetáculos da mostra.
Alguns dos trabalhos em fase de pesquisa, adultos e infantis, da Farofa do Processo de 2024 - Fotos Lígia Jardim
Sobre a Farofa
A Farofa nasceu em 2020 como “FarOFFa – Circuito Paralelo de Artes de São Paulo”, a partir de uma provocação da MITsp – Mostra Internacional de Teatro de São Paulo, com um olhar voltado aos processos de trabalho e internacionalização. No mesmo ano e já em plena pandemia, o coletivo realizou a 2ª edição, denominada “FarOFFa no Sofá”, e se debruçou a pensar sobre a memória da cena. O ano de 2021 é marcado por duas edições: a “OcupAÇÃO FarOFFa”, 3ª edição, que reuniu durante quatro dias cerca de 100 produtores, e 4ª edição, a FarOFFa a mil atravessa fronteiras e chega em Santiago, para participar do Platea 21, encontro internacional de programadores e profissionais das artes cênicas, parte da programação do Festival Santiago a Mil.
Em 2022 foi realizado o “Dispositivo FarOFFa”, a 5ª edição. No formato de um pra um, no quintal, na rua, no jardim ou na praça, um artista e um público se encontraram, para contar e ouvir histórias. Neste ano aconteceu também a “FarOFFa do Processo 2022”, 6ª edição, que reuniu pesquisas que em estágios diferentes e suas múltiplas perspectivas. Após experimentar múltiplos formatos, em sua 7ª edição (2023), foi realizada a “Faroffa Zona”, uma edição na qual a dinâmica consistia em abrir a porta da Kombi “Joyce Sunshine” e partir pela cidade de São Paulo, em diálogo com diversos contextos e construção coletiva. Chegamos em 2024 à 8ª edição. A Farofa ganhou novos contornos, por isso o nome não inclui mais os dois “Fs”.
Colocar a produção como eixo central da discussão e resolução das questões que envolvem a criação, abrindo espaço para se pensar a distribuição, circulação e mediação das artes vivas com a sociedade.
FAROFA DO PROCESSO – Equipe
Adilson Corrado, Ágatha Louise, Alba Roque, Alexandre Simão de Paula, Aline Borges, Anderson Vieira, Anderson Nepomuceno, Angelo Fabio, Ariane Cuminale, Carmen Mawu Lima, Casarini Produções, Daniele Valério, Danusa Carvalho, Dara Duarte, Duarte Mariano, Felipe Feldman, Fernando Pivotto, Gabi Gonçalves, Gabs Ambròzia, Gisely Alves, Graciane Diniz, Jack dos Santos, Jacob Alves, Jéssica Barbosa, Jéssica Rodrigues, Jessica Silva, Jimmy Wong, José Mauro Fagundes, Juliana Augusta Vieira, Karina Gallo, Katia de Souza Jacinto, Juliana Lorensseto, Keila Maschio, Leo Devitto, Leonardo Gatinho, Letícia Alves, Lucas Cardoso, Lud Picosque, Marcia Marques, Marcus Moreno, Marilia Adamy, Marina Franco, Nátali Siscati, Nathalia Christine, Pedro Emanuel Freitas, Rodrigo Fidelis, Tamara Andrade, Tatah Cardozo, Thais Venitt, Valdir Rivaben, Vanessa Bruna, Vinicius Inacio, Wanderson de Jesus, Wiltenberg de Oliveira.
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