Estreia do espetáculo “Rádio Quitanda” – uma viagem musical pelos 80 anos do Quitandinha_Escrito pela premiada dramaturga Márcia Santos, com direção do também premiado Édio Nunes
Rádio Quitanda – uma viagem musical pelos 80 anos
do Quitandinha
Escrito pela premiada dramaturga Márcia Santos especialmente para a programação
da exposição “Da Kutanda ao Quitandinha
– 80 anos”, e com direção do também premiadoÉdio Nunes, o espetáculo inédito conta a história do local usando
dois tempos: o presente, em que uma trupe teatral ensaia uma peça, e o passado,
com notícias e as músicas que fizeram sucesso ao longo dessas oito
décadas. Os dez atores – entre eles
quatro dançarinos – e os três músicos que integram o espetáculo são negros e
mestiços, e moradores de Petrópolis.
Centro Cultural Sesc Quitandinha,
Petrópolis
[Café Concerto]
26 e 27 de janeiro de 2024, às 19h
28 de janeiro de 2024 (domingo), às
17h
2 e 3 de fevereiro de 2024, às 19h
4 de fevereiro de 2024 (domingo), às
17h
Aos domingos, a peça terá intérprete de LIBRAS
Entrada gratuita
Classificação: livre
O Centro Cultural Sesc Quitandinha tem o prazer de
convidar para a estreia do espetáculo “Rádio
Quitanda”, nos dias 26, 27 e 28 de
janeiro de 2024, e 2, 3 e 4 de
fevereiro de 2024. Escrita por Márcia
Santos especialmente para integrar a programação cultural da exposição “Da Kutanda ao Quitandinha – 80 anos”,
que tem curadoria-geral de Marcelo
Campos, e segue em cartaz até 25 de
fevereiro, a peça tem direção de Édio
Nunes, e elenco com dez atores e três músicos, todos moradores de
Petrópolis.As apresentações aos domingos contará com intérprete de LIBRAS.
Márcia Santos conta que com o convite para
escrever a peça, ela precisou encarar o desafio de colocar em pouco mais de uma
hora – a duração é de 75 minutos – os 80 anos do Quitandinha. “Surgiu então no
processo a ideia da Rádio Quitanda, que serve de ligação entre a Kutanda e o
Quitandinha”, diz. “A Rádio é a
ferramenta para o público localizar cada época no decorrer da peça, com
notícias que marcaram cada tempo. Exemplos são as mortes de Getúlio Vargas em 1954, e em 1972 a de Joaquim Rolla, o empreendedor
visionário que criou aquele gigantesco palácio em 1944, e fez coisas ousadas
como trazer de Hollywood a importante cenógrafa Dorothy Draper, ou descarregar toneladas de areia de Copacabana
para construir uma praia artificial em volta do lago”, comenta Márcia Santos. “É a passagem dessas
décadas até se chegar ao Centro Cultural
Sesc Quitandinha”.
Para abordar importantes temas atuais, como a luta
pela valorização da negritude, ou combate à violência doméstica sofrida pelas
mulheres, a peça parte de uma trupe de teatro que ensaia um espetáculo sobre o
Quitandinha. E é na dinâmica dos atores nesses ensaios que os assuntos surgem,
como os quase inexistentes registros de profissionais negros que trabalharam
naquele espaço, esta invisibilidade em contraste com os nomes célebres. “É um
metateatro”, observa a dramaturga.
Márcia Santos destaca que ao ser convidada para
escrever uma peça de teatro para a exposição “Da Kutanda”, ela “vinha de um processo de trabalho junto com Édio Nunes, que dirigiu em 2022 as
montagens de “Luiza
Mahin – Eu Ainda Continuo Aqui” e “Joãosinho e Laíla – Ratos e Urubus, Larguem Minha Fantasia”.
PROCESSO
CRIATIVO BEM DIFERENCIADO
Édio Nunes fala que o processo criativo com Márcia Santos “é bem diferenciado,
porque somos amigos há quase vinte anos, e este é nosso quinto projeto em que
estamos juntos, e graças a deus com êxito”. “Conversamos muito, partimos da
ideia dos invisíveis, dos negros, a trupe teatral. E vamos discutindo o
espetáculo, como vamos contar, e já vou visualizando um pouco a peça. Depois,
ela parte para a pesquisa e traz o texto pronto, com as cenas que já tínhamos
imaginado já marcadas, como uma série e seus episódios, com entradas e saídas. Então
se torna muito mais fácil para mim, e já vou criando em cima da cena, e no
processo podemos até alterar a ordem de cenas. Ela me deixa muito à vontade”. “Apenas
em ‘Luiza Mahin’ Márcia já me mostrou o texto pronto. Nos demais fizemos desse
jeito”.
NÚMEROS
MUSICAIS
“Rádio
Quitanda” usa dois
tempos: o presente, que é uma trupe teatral montando um espetáculo, e o
histórico, encenado pelos números musicais. “Todos os números musicais se
referem aos que realmente aconteceram no Quitandinha”,
acentua Édio Nunes. “Os números são
encenados, cantados e dançados a partir das descobertas da trupe. Quando eles
descobrem um fato, a gente revisita o passado e conta para a plateia através
dos números musicais. A história do Quitandinha vai sendo revelada ao público
pelas próprias descobertas que os atores fazem, enquanto preparam o espetáculo.
E não podemos perder de vista que é tudo pela ótica do negro”, assinala.
“A rádio atravessa as épocas, as gerações, até hoje.
Estamos sempre ouvindo música. A música é universal, arrebata, e rádio é
atemporal. É extremamente relevante considerarmos que Petrópolis é uma cidade
que fomenta cultura, tem artistas talentosíssimos e tem histórias maravilhosas
para o país. O Brasil precisa conhecer o que foi o Quitandinha. Tudo isso
corrobora para a história musical brasileira”, afirma Édio Nunes, que é também ator, cantor, bailarino e coreógrafo, e
participa de espetáculos musicais há mais de trinta anos.
Dos
dez atores em cena, quatro são também bailarinos e cantores,
e farão os doze números musicais,
junto com os músicos Bruno Guimarães Cézar (saxofone), João Pedro Gomes (violão) e Paulinho Peçanha
(percussão).
O esplendor do
hotel cassino Quitandinha, que
funcionou de 1944 a 1946, quando o jogo foi proibido no
Brasil, está representado pelas músicas “South American Way” (1939, Jimmy
McHugh e Al Dubin) e “Disseram que
eu Voltei Americanizada” (1940, Luis Peixoto e Vicente Paiva), sucesso de Carmen Miranda, que se hospedou no icônico
local, embora não tenha se apresentado lá.
A década de 1950 é trazida por três músicas. “Babalú”, canção composta em 1939 pela cubana Margarita
Lecuona – uma invocação ao orixá afro-cubano Babalú Ayê, considerado o grande
pai – estrondoso sucesso na voz de Angela
Maria, em 1958. “Hoje Quem Paga Sou
Eu”, de Herivelto Martins e David Nasser, gravada por Nelson Gonçalves em 1955. O Quitandinha
Serenaders, grupo vocal formado por Luiz Bonfá, Alberto
Ruschell, Francisco Pacheco e Luiz Telles, é lembrado pela música
“É Ordem do Rei”, de Assis Valente e
Castor Vargas, de 1951.
O casal
romântico vivido pelos atores Ariel
Barbosa e Dandara Claudino traz
à tona várias questões que envolvem a afirmação racial, e dá o mote para várias
músicas, entre elas “Tributo
a Martin Luther King”, de Wilson Simonal e Ronaldo Bôscoli, registrada
inicialmente em 1966 pelos The Black
Boys– liderado por Antonio
Oliveira e tendo como um de seus integrantes o pianista Dom Salvador, que depois seguiu carreira nos EUA – e no ano
seguinte sucesso na voz de Simonal.
Um hino ao romantismo, “La vie en rose”, criada em 1945
por Édith
Piaf e Louis Guglielmi,
também está no roteiro, em homenagem à Marlene
Dietrich, que se apresentou no Quitandinha.
CARNAVAL, MISSES E
BOSSA NOVA
Os concursos de Miss do Quitandinha são lembrados por suas
músicas-temas, da mesma forma que os famosos bailes de carnaval do palácio, com
as marchinhas: “Avenida Iluminada”(1969, Newton Teixeira e Brasinha), gravada por Zé Kéti; “Ó Abre-Alas” (1899, Chiquinha Gonzaga), sucesso em 1954 com os Quatro Ases e Um Curinga; “Alá-Lá-Ô” (Haroldo Lobo e Antônio Nássara), cantada por Carlos Galhardo em1941; “Mamãe Eu Quero”, de Vicente Paiva e Jararaca, que gravou em 1937; e “Me
Dá Um Dinheiro Aí” (Homero Ferreira, Glauco Ferreira e Ivan
Ferreira), sucesso de Moacir Franco
em 1959.
A Bossa Nova está presente com as músicas “Chega de Saudade” (1956, Antonio Carlos Jobim e Vinicius de
Moraes), gravada inicialmente por Elizeth
Cardoso, em 1957, “Wave” (1967,
Antonio Carlos Jobim) e “O Barquinho”
(Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli), registrada em disco em 1961 por diversos artistas, entre
eles Maysa com o Tamba Trio.
A Disco Music, nos anos 1970
e 1980, em alusão aos famosos bailes que sacudiam o Quitandinha, como o Furacão
2000, e que traziam toda a explosão de ritmos black, está nas cenas
musicais de Let's Groove" (1981, Maurice White e Wayne
Vaughn), sucesso de Earth, Wind &Fire; “Isn’t She Lovely” (1976),
de Stevie Wonder, e “Last Dance”
(1978, Paul Jabara), hit de Donna Summer.
Márcia Santos destaca que as
coreografias são importantes também para representarem as épocas. Os ritmos black,
que se estendem pelos anos 1990 até os dias de hoje, entre eles o funk, estão
em coreografias paradas, como no gênero Pose, surgido em Nova York, e divulgado
mundialmente por Madonna em seu vídeo clipe “Vogue”, de 1990.
Nos números finais
estão “Adeus” (Noel Rosa, Ismael Silva, Francisco Alves), gravada pelo próprio Ismael
Silva em 1955, e a “Mulher do Fim do
Mundo” (2005, Rômulo FróeseAlice Coutinho), imortalizada por Elza
Soares.
Márcia Santos adianta que entre as
questões levantadas pelo casal romântico da peça está a dificuldade da
personagem de Dandara em se aceitar como negra, e que ao final tem a redenção,
com a música de Elza Soares, que se apresentou no Sesc.
Édio Nunes destaca que “Mulher do Fim do Mundo”
também “marca uma nova era, com o Centro Cultural Sesc Quitandinha, da
diversidade, da inclusão, e na figura da Elza estão entronizadas todas as
minorias: uma indígena, uma mãe de santo, um padre, um trabalhador rural, uma
prostituta, uma lésbica, uma drag Queen, um gay negro, que representam os
orixás e toda a luta antirracista. A Elza, na peça, está sentada em um trono de
Iansã, de quem era filha, e o Ariel Barbosa fica ao lado dela como Xangô. Os
dois orixás abençoam então toda esta luta, e dando força para se continuar
nesta nova era”.
FICHA TÉCNICA:
Texto: Márcia Santos
Direção: Édio Nunes
Assistente de
Direção: Simone Gonçalves
Figurinos: Kildary Campos
Cenografia e
adereços: Pryscila Dias
Iluminação e operador de luz: Tiago de Jesus
Produção
Executiva e Local: S Gonçalves de Oliveira Produções
Coordenação de
Produção: Panenka Realizações, Márcia Santos e Édio Nunes
Técnico e
Operador de som: Luiz S. Junior
Elenco: Ariel Barbosa, Carol Guerra, Dandara Claudino, Felipe Laureano, Igor
Oggy, Leonardo Bastos, Letícia França, Mabi, Regina Guimarães e Renan Miranda
Músicos: Bruno Guimarães Cézar (saxofone),
João Pedro Gomes (violão) e Paulinho Peçanha (percussão).
SOBRE MÁRCIA SANTOS
Mestra em Sociologia Política
pelo IUPERJ/Candido Mendes; Cientista Política pela UniRio, onde também cursou
Artes Cênicas/Interpretação.
Atriz, cantora,
diretora, autora e produtora teatral. Profissional multidisciplinar, com
atuação nas áreas artístico-cultural, política e de pesquisa acadêmica.
Em 2023 esteve em
cartaz em três montagens: “O Menino é pai do Homem”, com direção de Moacir Chaves;
“As Pessoas”, monólogo de sua autoria, contemplado pelo Prêmio Sesc Artes
Cênicas 2022, e com LUÍZA Mahin – Eu Ainda Continuo Aqui, texto também de sua
autoria, que lhe rendeu o Prêmio de Melhor Atriz no Festival Nacional de Teatro
de Varginha, Minas, e que circula desde então pelos SESIs e SESCs de São Paulo,
desde 2022.Em 2022, assinou a dramaturgia de “Joãosinho e Laíla – Ratos e
Urubus, Larguem Minha Fantasia”, vencedor do Prêmio Shell de Teatro 2023 na
categoria Melhor Ator.
SOBRE ÉDIO NUNES
“DA KUTANDA AO QUITANDINHA – 80 ANOS”
A exposição inaugurada no início de dezembro de 2023
abriu as celebrações dos 80 anos do espaço construído em 1944
como hotel-cassino, e que hoje sedia o Centro Cultural Sesc Quitandinha. A grandiosa exposição é composta por
seis núcleos, traçando um percurso que começa no século 18, com as
primeiras referências da presença de negros na Freguesia de Nossa Senhora de
Inhomirim, base do povoamento da região, por meio da navegação do rio Piabanha
e das fazendas que exploravam o trabalho escravizado, que deu origem à cidade
que hoje conhecemos como Petrópolis,até os dias de hoje.
A mostra destaca inicialmente as tecnologias
trazidas pelos africanos, suas lideranças, e a quitanda – assentada
no local onde está o Quitandinha – operada por mulheres pretas, e
responsável por parte expressiva da economia do século 19. A palavra é
derivada de kitanda, “feira”, e kutanda,“ir para longe”, no
idioma quimbundo, falado em Angola, origem de muitos africanos que
formam a grande população afro-brasileira. Vários artistas contemporâneos
participam deste núcleo. Em outro segmento, Anna Bella Geiger (1933)
ocupa um lugar central, com um documentário sobre ela feito
especialmente para a exposição, e com obras que participaram da 1ª Exposição
de Arte Abstrata, em 1953.
Para se ter uma ideia do ambiente glamuroso do local em sua época de
cassino, de 1944 a
1946, vários itens do mobiliário e
da decoração foram recriados, além de uma galeria com
reproduções de fotografias de época, pertencentes ao Instituto Moreira Salles. BailesBlack, de carnaval, funk, jambetes, Furacão 2000, nos anos 1970, também terão registros na
exposição.
Dois importantes artistas negros, que tiveram forte presença
no antigo hotel-cassino, ganham visibilidade e são homenageados. Tomás Santa Rosa (1909-1956), pintor, ilustrador, responsável pela inovação no design
de capas de livros – “Cacau” (1934), de Jorge Amado, e “Caetés”
(1933), de Graciliano Ramos, são exemplos – e importante cenógrafo
– a peça “Vestido de Noiva” (1943), de Nelson Rodrigues, em 1943,
marco no teatro brasileiro – e autor dos murais da piscina e do
café-concerto, e da pintura decorativa de biombos do Quitandinha.
Em outros dois espaços do CCSQ serão reproduzidas as decorações de
carnaval do Rio, feitas por ele em 1954. Ativista dos movimentos
étnico-raciais, trabalhou de 1947 a 1949 no Teatro Experimental do Negro,
fundado por Abdias Nascimento (1914-2011). Já o gaúcho Wilson
Tibério 1920-2005) fez nos salões do Quitandinha, em 1946,uma
exposição com cerca de 130 obras. Militante político e antirracista, foi
viver na França, de onde fez constantes viagens à África, onde
pesquisou o cotidiano das populações e ritos afro-brasileiros, criando várias
pinturas, e participando de eventos sobre artes negras, como o 1º Congresso de
escritores e artistas negros na Universidade de Sorbonne, Paris, em 1951,
e do 1º Festival Mundial de Artes Negra, em Dacar, em 1966, hoje
em dia um evento emblemático.
SERVIÇO: “Rádio Quitanda”
Centro Cultural Sesc
Quitandinha, Petrópolis
[Café Concerto]
26 e 27 de
janeiro de 2024, às 19h
28 de janeiro de
2024 (domingo), às 17h
2 e 3 de
fevereiro de 2024, às 19h
4 de fevereiro de
2024 (domingo), às 17h
Aos domingos, a peça terá intérprete
de LIBRAS
Entrada gratuita
Classificação:
livre
Centro Cultural Sesc Quitandinha
Entrada gratuita.
Exposição “Da
Kutanda ao Quitandinha – 80 anos”
Até 25 de
fevereiro de 2024
Centro Cultural
Sesc Quitandinha
Avenida Joaquim
Rolla, nº 2, Quitandinha, Petrópolis
Terça a domingo,
e feriados, das 10h às 17h (conclusão do itinerário até as 18h)
Visitas guiadas:
terças a domingos e feriados, das 10h às 16h30 (conclusão do itinerário até as
18h)
Visitação ao
entorno do Lago: terças a domingos e feriados, das 9h às 17h.
Assessor de
Imprensa Sesc RJ – Wando Soares – +5521.98845.2931
Comentários
Postar um comentário