Branca Lescher explora os dissabores da vida de um jeito leve no livro de crônicas ‘Só tem 39’ Caixa de entrada

 Branca Lescher explora os dissabores da vida de um jeito leve no livro de crônicas ‘Só tem 39’


Sem medo de julgamentos, a autora abre o coração em histórias autoficcionais sobre amor, morte, opressão feminina, relações familiares e infância

Branca Lescher em lançamento do livro Só tem 39, da editora Patuá. Foto de Bruno Braz

“O livro Só Tem 39 parte dos pés andarilhos de Branca Lescher, mulher que anda pelo mundo com a coragem de tropeçar e rir dos próprios calos. A única regra é continuar caminhando, sempre que possível, sobre as pedras no meio do caminho.”
Posfácio de Só tem 39, escrito pela poeta Arlete Mendes

 

São as situações mais corriqueiras que inspiram as crônicas autoficcionais de Branca Lescher reunidas no livro Só tem 39, publicado pela Editora Patuá. A escritora, que também é compositora, cantora, advogada e mediadora, gosta de se aventurar pelo mundo, sem medo de ser feliz. E os seus textos refletem sua personalidade curiosa e destemida.

“Não me importo em mostrar minha fragilidade, meus defeitos e minha humanidade. Expor que eu tenho inveja, que eu fico sem graça. Gosto de explorar as vicissitudes da vida. As histórias presentes no livro aconteceram comigo, mas eu dei uma pequena floreada”, detalha a autora.

Casada por 32 anos, ela precisou se reinventar após o divórcio: como imaginar um cotidiano sem o parceiro? Como voltar a paquerar? Esses e outros dilemas relacionados estão muito bem descritos nas crônicas O Primeiro Encontro a Gente Nunca Esquece, Emoções em Campo, Paquera e Sweet Motel.
 

Amores e desamores

Imagine ir ao cinema com o atual namorado e encontrar o ex-marido com a namorada – todos indo para a mesma sessão. Com certeza há quem prefira ignorar o antigo parceiro, mas a protagonista quis cumprimentá-lo, o que gerou uma situação desagradável com direito a vários comentários ácidos. Esse é o mote de O Primeiro Encontro a Gente Nunca Esquece.

Em Emoções em Campo, o leitor acompanha o triste fim de um casamento e o surgimento de uma amizade feminina inusitada. A narrativa também serve para acabar com a ideia de que as mulheres precisam ser rivais.

 


“Trinta e cinco minutos do segundo tempo. O casamento já estava naquela fase em que apontar os defeitos um do outro vira quase um esporte. Machucar dá um prazer estranho. Tudo irrita, o jeito que o outro come, dorme, se veste e age socialmente. Ninguém admite, mas o amor dá uma volta e pra bem longe do casal”.
Trecho da crônica Emoções em Campo, de Branca Lescher


 

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Branca Lescher em lançamento do livro Só tem 39, da editora Patuá. Foto de Bruno Braz

 

Talvez você já tenha se perguntado onde conhecer novas pessoas e parceiros em potencial. Branca apresenta uma solução possível em Paquera. Ao sair faminta de um ensaio, com um desejo de comer um lanche caprichado, ela para em uma hamburgueria tradicional da cidade e conclui: “as mulheres reclamam que não tem homem homens, que vão aos lugares e só tem milhares de mulheres. Concluí que homens gostam de sanduíche”.

Pode acontecer de uma simples pergunta arruinar todo o seu dia. E na crônica Sweet Motel que, segundo Lescher, menos reflete as suas experiências, um inocente “Correu tudo bem?” dito pela recepcionista de um motel foi suficiente para a personagem da história repensar um relacionamento.

Mas não foram apenas os amores pós-casamento que ganharam as páginas de Só tem 39. Lauro, o Loiro resgata uma paixão da juventude durante uma reveladora viagem à Israel. A crônica repleta de reviravoltas recebeu menção honrosa no concurso literário da Academia Metropolitana de Letras e Artes de Feira de Santana (BA), em 2022.

Morte e vida

Reflexões sobre a morte estão presentes em Morrer, em que Branca fala sobre o repentino fim da vida de amigos queridos; BR 116, sobre o falecimento de sua mãe e os rituais judaicos de despedida; e Meu Pai, sobre a partida tranquila do seu progenitor.

A fragilidade das relações familiares é o assunto em Fotografia, história na qual os registros imagéticos da infância não refletem a distância real entre os parentes, que, durante a pandemia, deixaram de querer se encontrar, mesmo uma vez por ano.

Força criadora

Os rituais de escrita são o fio condutor da crônica Day by Day, em que Branca Lescher aproveita para falar sobre como a solidão também pode ser libertadora. Totalmente dona de si, ela se permite ter pequenos prazeres sem dar satisfação a ninguém, como comer um doce sem culpa ou relaxar assistindo a uma série.

 


“Entendo o som que o silêncio tem. Entendo como tem tanta coisa dentro de mim que preciso de um tempinho pra me ouvir, pra ler, pra pensar e esperar as ideias chegarem, minha voz descansar pra depois cantar alto ou, se tiver muita sorte, escrever uma nova canção ou um conto bom”. Trecho da crônica Day by Day, de Branca Lescher



Libertação

O texto que dá título ao livro, Só tem 39, é uma declaração contra a padronização dos corpos. A autora calça 40 ou 41 e relata sua dificuldade em encontrar sapatos, pois os modelos femininos costumam ir até o número 39. E ela se recusa a espremer os pés em um calçado menor apenas para se adequar a certas regras sociais.


Vida dedicada à palavra

Nascida em 1964, Branca Lescher sempre se encantou pelo poder da palavra. Tanto é que todas as suas escolhas profissionais envolvem a escrita.

Entretanto, foi somente em 2013 que ela resolveu experimentar a linguagem da poesia. Na época, um desses seus textos foi musicado, o que a atraiu prontamente para o universo da canção.

Em 2016, todas as suas paixões se confluíram: seu primeiro livro de poemas, Fibromialgia, foi publicado naquele ano. Assim como seu disco de estreia, Branca, que ainda rendeu uma turnê que passou até por Portugal.

Foi quando a convidaram para integrar o grupo Mulheres Obscenas, formado por 70 poetas. A grande inspiração delas é a Hilda Hilst (1930-2004) e o coletivo já publicou muitas coletâneas.

Atualmente, Lescher cursa pós-graduação para Formação de Escritores de Ficção, no Instituto Vera Cruz, e frequenta a oficina de crônicas de Fabricio Corsaletti. Também participa de outras oficinas de escrita periodicamente. Em abril de 2023, teve o conto “Gata de botas ", selecionado por Tati Bernardi para ser lançado pela Amora Livros.

 

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Sobre a autora

Branca Lescher nasceu em 1964. Vive em São Paulo. Advogada, mediadora e mestre em Filosofia do Direito, desde 2013 dedica-se profissionalmente à Literatura. Publicou seu primeiro livro de poemas, Fibromialgia, em 2016 e, desde então, já participou de diversas coletâneas, com crônicas, contos e poemas. Cursa pós-graduação para Formação de Escritores de Ficção, no Instituto Vera Cruz, e frequenta a oficina de crônicas de Fabricio Corsaletti.

É também cantora e compositora e seus discos autorais “Branca” (2017) e “Eu não existo” (2020) estão disponíveis nas plataformas digitais.

 

FICHA TÉCNICA

Livro “Só tem 39”, Autora: Branca Lescher, Editora Patuá, 2023.

ISBN 978-65-5864-488-0

Número de páginas: 136, Preço sugerido: R$ 50

Venda somente online no site da Editora Patuá

https://www.editorapatua.com.br/so-tem-39-cronicas-de-branca-lescher/p

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