Campinas abriga apresentações
do drama musical Lugar Sentido
Temporada do espetáculo, que passará por três espaços da cidade, começa sexta-feira (18/8) e sábado (19/8), às 20h, no Teatro Municipal Castro Mendes.
A entrada é franca.
Qual o sabor da terra? Ao mesmo tempo em que tem gosto de pertencimento, ela desperta no paladar um toque agridoce de resistência. Ainda mais, é claro, se estivermos tratando do território de povos originários e quilombolas. Bora degustá-la artisticamente, então? O banquete de reflexão, cultura e encantamento será servido durante a próxima temporada do drama musical Lugar Sentido, concebido pelo cantor e dançarino Alê Freire, que começa sexta-feira (18/8) e sábado (19/8), às 20h, no Teatro Municipal José de Castro Mendes, em Campinas (SP). A entrada é franca.
Importante: a apresentação de sábado (19/8) contará com a participação de uma intérprete de Libras.
Vale destacar ainda que a temporada de circulação da montagem, contemplada e patrocinada pelo Fundo de Investimentos Culturais de Campinas (FICC 2022), pertencente à Secretaria Municipal de Cultura e Turismo da Prefeitura Municipal de Campinas, também passará, entre agosto e setembro, pelo Barracão Teatro (9/9, às 20h) e pelo Centro Cultural Casarão (15 e 16/9, às 20h, e 17/9, às 19h), ambos localizados no distrito de Barão Geraldo, em Campinas (SP). Detalhe: o FICC tem como finalidade fomentar a produção artística local.
Sob a direção cênica da bailarina e coreógrafa Ana Clara Amaral e direção musical de Eddy Andrade, com textos do poeta Rafa Carvalho, a cena de Lugar Sentido é ocupada por Alê Freire (canto, dança e viola caipira), Eddy Andrade (violão, baixo e pífano) e Edu Guimarães (sanfona). Aliás, os arranjos deste drama musical, dividido em três atos, foi concebido pelo encontro deste trio de músicos de muitos predicados. Uma curiosidade: a primeira temporada do espetáculo, que aconteceu em 2021 sob o patrocínio da Lei Aldir Blanc de Campinas, nasceu em formato de vídeo devido às restrições para apresentações presenciais naquela fase aguda da pandemia. Somente ano seguinte, em 2022, que a montagem ganhou a cena presencial.
E qual a semente de inspiração de Lugar Sentido? O cantor e dançarino Alê Freire, o responsável por plantar a ideia no palco, diz que a inquietação principal da montagem vem da relação conflituosa com a Terra que existe na América Latina, em especial no Brasil, desde a primeira invasão dos territórios passando pela resistência dos diversos quilombos e povos indígenas.
“Acredito que escutar essas vozes irá nos possibilitar ouvir o que a Mãe Terra tem tanto tentado nos dizer. Só assim vamos poder vislumbrar alguma saída para a grave situação que construímos, cujo principal sintoma são as mudanças climáticas. O sábio indígena Carlos Papá nos ensina sobre a relação muito respeitosa que o povo guarani tem com o escuro. É do escuro da Terra que tudo nasce. Nós nascemos do escuro. A voz é domínio do sopro que nasce do escuro”, destaca Alê.
Para trazer luz de dramaturgia a esse escuro arquetípico de Lugar Sentido, Rafa Carvalho fez poesia a partir das nuances do viver em sintonia e embate com a natureza. “As sensações são turvas: carregadas de mazelas que a humanidade produziu contra si mesma e contra todo o planeta. Mas ali também está a nossa esperança misturada a tudo isso, nutrindo a fome por mudança. O importante é que, seja o que for, este texto e todo o Lugar Sentido abrem campo para a nossa marcha rumo à ocupação consciente e comunitária da vida na Terra”, avalia Rafa.
Não por acaso, a fim de dar conta da tamanha riqueza de Lugar Sentido, o palco se abre para um drama musical, composto de três atos, que mistura teatro, dança, música e poesia na mesma partitura cênica. “Há alguns anos tenho pesquisado intersecções entre a música, mais especificamente o canto, o teatro e a dança contemporânea. Lugar Sentido está na linha de continuidade e aprofundamento desse estudo. Por isso mesmo, a escolha do repertório, dos arranjos, da instrumentação, enfim, da estética musical, esteve em constante diálogo com a escrita do texto, das cenas, das coreografias, do cenário, da luz e dos figurinos”, pontua Alê.
E vamos à trilha musical? No primeiro ato, batizado de A Voz Nasce do Escuro, a plateia aprecia a interpretação de Sina de Caboclo (João do Vale/J. Bezerra de Aquino), Fogo no Paraná (João do Vale/Helena Cavalcante) e Pobreza por Pobreza (Gonzaguinha). No segundo, nomeado de A Terra Arde, há mais três músicas: Francisco (Milton Nascimento), Gongá (Sérgio Santos/Paulo César Pinheiro) e Quilombo (João Bosco/Aldir Blanc). Por fim, A Terra Respira, denominação do terceiro ato, é composta de Rio Doce (Simone Guimarães), De España no Llego Cristo (Adolfo Zelada/Cesar Calvo) e Boi (João Bosco/Aldir Blanc).
E qual a essência de Lugar Sentido? O espetáculo se constrói cenicamente, como enxerga a diretora Ana Clara Amaral, a partir das inquietações a respeito de questões políticas, sociais e culturais que cercam os temas: território e pertencimento. O resultado? Bem assim: a provocação de uma pesquisa profunda e poética que se faz sempre vinculada à potência da arte em nos sensibilizar para a vida e as relações entre a natureza e a cultura.
“Tratando-se deste drama musical ainda lidamos com as diferentes narrativas das linguagens artísticas envolvidas, incorporadas pela vivência diversa de Alê Freire. A geração de sentido deste lugar é o seu grande destaque, ou seja, o encontro entre todos os rios que deságuam em um único, porém múltiplo e diverso aspecto da vida: a experiência de cada um e sua possível coletividade”, conclui Ana.
FICHA TÉCNICA
Concepção, canto, dança e viola caipira: Alê Freire
Violão, baixo e pífano: Eddy Andrade
Sanfona: Edu Guimarães
Direção musical: Eddy Andrade
Arranjos: Eddy Andrade, Alê Freire e Edu Guimarães
Direção Cênica: Ana Clara Amaral
Textos: Rafa Carvalho
Fotos: Nina Pires
Projeto e operação de Luz: Eduardo Brasil
Técnico de som: Henrique Manchúria
Montagem: Érico Damineli
Design gráfico: Patrícia Rodrigues (Sinoxarts)
Gestão de mídias sociais: Renata Paulino
Concepção de Figurinos: Helen Quintans, Marília Ennes e Warner Reis
Confecção e tingimento de figurinos: Cleusa Quintans e Helen Quintans
Cenário: José Soares (O Hiperurânio Cenografia)
Intérprete Libras: Fábia Minhoca
Assessoria de imprensa: Tiago Gonçalves
Produção: Aline Fernandes (Igarapé Cultura e Arte)
PROGRAMAÇÃO
Temporada FICC de Lugar Sentido
Teatro Municipal José de Castro Mendes
Sexta-feira (18/8) e sábado (19/8), às 20h, no Teatro Municipal José de Castro Mendes (Rua Conselheiro Gomide, 62, Vila Industrial, em Campinas | SP). Entrada franca (por ordem de chegada).
Barracão Teatro
9/9 (sábado), às 20h, no Barracão Teatro (Rua Eduardo Modesto, 128, Vila Santa Isabel, Barão Geraldo, em Campinas | SP). Entrada franca (os convites serão distribuídos uma hora antes da apresentação).
Centro Cultural Casarão
15/9 (sexta-feira) e 16/9 (sábado), às 20h, e 17/9 (domingo), às 19h, no Centro Cultural Casarão (Rua Aracy de Almeida Câmara, s/n, Barão Geraldo, em Campinas | SP). Entrada franca (os convites serão distribuídos uma hora antes de cada apresentação).
Duração: 50 minutos
Classificação Indicativa: 16 anos
Informações: @alefreirebr
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