Mario Lucio, de Cabo Verde, se apresenta no ​Parque Villa Lobos, na programação do MIMO neste domingo [gratuito] [show]

 Mario Lucio se apresenta no MIMO com o show ‘Migrants’

Artista de Cabo Verde faz show neste domingo no Parque Villa-Lobos, acompanhado de sua super banda, Os Kriols




Cantor, compositor, multi-instrumentista, escritor, ex-Ministro da Cultura de Cabo Verde e um dos mais conceituados pensadores de sua geração, Mario Lucio está de volta ao Brasil com o show de seu mais novo álbum, “Migrants”. Acompanhado de sua super banda, Os Kriols, o cabo-verdiano se apresenta no Festival MIMO neste domingo, no Parque Villa Lobos, em São Paulo, com entrada gratuita. Depois segue para o MIMO Itabira e Rio de Janeiro, onde também faz um show no Clube Manouche. Mario Lucio levantou o público em suas apresentações no MIMO Brasil, em 2016, e no ano passado em Portugal. Agora, os concertos prometem levar a plateia a uma viagem ancestral.


Mario Lucio apresenta o show de seu premiado álbum "Migrants". Confira o clipe de "Mi Só", que acaba de chegar no youtube (crédito foto: Jorge Simão)

Um tributo musical a todas as pessoas que procuram outros territórios para viver, “Migrants” recebeu em março o Prix de La Musique como melhor álbum de world music pela Academia Charles Cros, a Academia Francesa de Música - equivalente francês ao Grammy, atribuído anualmente aos grandes destaques ou obras impactantes na cena musical mundial. “Migrants” pode ser ouvido nas plataformas digitais e o clipe de “Mi Só”, canção que abre o álbum, foi lançado recentemente no canal do artista no youtube.

As mornas, os funanás, o batuque e a coladeira povoam a obra de Mario Lucio. Autor de centenas de canções nos principais estilos de sua terra, é o compositor mais gravado da história de seu país e tem colaborações com as cabo-verdianas Cesária Évora e Mayra Andrade, entre nomes da música internacional como os brasileiros Paulinho Da Viola, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Djavan e Chico Chico, a portuguesa Teresa Salgueiro, Manu Dibango (Camarões), Touré Kunda (Senegal), Pablo Milanes (Cuba), Toumani Diabate (Mali) e Harry Belafonte (EUA).

Nos shows pelo Brasil, o público poderá ouvir alguns de seus maiores sucessos, entre as canções do álbum “Migrants”. Mario Lucio (Voz, Guitarra) se apresenta com Os Kriols, formado pelos instrumentistas portugueses Rui Ferreira (Baixo, Piano, Coros), Sofia Portugal (Voz, Flauta, Percussão), Telmo Sousa (Guitarra, Coros), Ricardo Coelho (Percussão, Coros) e Tiago Manuel Soares (Percussão, Coros).

Engajado em causas humanitárias, o trabalho de Mario Lucio nasce do seu desejo de promover harmonia, de reverberar a paz. No MIMO, ele ainda participa do Fórum de Ideias com o congolês Jupiter, na mesa “Migrantes de Ontem e de Hoje”, em São Paulo (com mediação de Luiz Thunderbird) e em Itabira (com  mediação de Chris Fuscaldo).

[serviço]

Mario Lucio no Brasil

12/05 MIMO SÃO PAULO - 16h - Participação no Fórum de Ideias -  Migrantes de Ontem e de Hoje - Mario Lucio e Jupiter (Cabo Verde e Congo) - mediador: Luiz Thunderbird. No Grande Auditório do MASP (Av. Paulista, nº 1578 – Bela Vista). Entrada gratuita.

14/05 - MIMO SÃO PAULO - 17h - Show Mario Lucio & Os Kriols (Cabo Verde e Portugal), no Parque Villa Lobos (Av. Prof. Fonseca Rodrigues, nº 2001 - Alto de Pinheiros). Entrada gratuita.

16/05 - MIMO RIO DE JANEIRO - 19h30 -  Show Mario Lucio & Os Kriols (Cabo Verde e Portugal), na Grande Sala, na Cidade das Artes (Av. das Américas, nº 5300 - Barra da Tijuca). Entrada gratuita.

19/05 - MIMO ITABIRA - 16h - Participação no Fórum de Ideias -  Migrantes de Ontem e de Hoje - Mario Lucio e Jupiter (Cabo Verde e Congo) - mediadora: Chris Fuscaldo. Na Casa do Brás (Rua Guarda-Mor Custódio, nº 156, Centro). Entrada gratuita.

19/05 - MIMO ITABIRA - 23h -  Show Mario Lucio & Os Kriols (Cabo Verde e Portugal), na Concha Acústica (Pico do Amor, s/nº - Campestre). Entrada gratuita.

20/05 - RIO DE JANEIRO - 21h - Show Mario Lucio & Os Kriols no Clube Manouche (subsolo da Casa Camolese - Rua Jardim Botânico, 983, Rio de Janeiro) - Informações e compra de ingressos aqui.

+ Informações sobre o MIMO: https://mimofestival.com/ 


Musicalidade africana, generosidade e empatia

Autor, pintor, compositor, multi instrumentista, ex-Ministro da Cultura de Cabo Verde, advogado, poliglota ou, simplesmente, um ser humano que exala, por todos os seus poros, empatia. Parece muito elaborado para ser real, mas longe de ser uma versão “com filtro”, Mario Lucio é de verdade e sua trajetória na sua vida cotidiana, política ou artística, reflete isso. Engajado em causas humanitárias, seu trabalho nasce do seu desejo de promover harmonia, de reverberar a paz.  

Esse é o caso do seu novo e já premiado álbum “Migrants”, que Mario Lucio apresenta nos palcos do Brasil em maio, marcando sua volta ao país. Com 11 faixas, o álbum desfila um elegante balanço entre densidade e fluidez ao contrapor sonoridade quase etérea, consequência de arranjos precisos, às vezes complexos, com vozes e instrumentos que se amalgamam perfeitamente e se completam com letras contundentes e plenas de propósito. O resultado é uma experiência próxima do universo místico e completamente inebriante, coroando a trajetória do artista que já coleciona 10 discos gravados, somando sua vivência à frente do projeto Sementeira e, mais recentemente, a sua experiência solo.

Dono de uma trajetória ao mesmo tempo trágica e afortunada, Mario Lucio vivenciou a perda dos pais ainda muito jovem, provando toda a privação da convivência familiar para ser, na sequência,  acolhido numa instituição, uma transformação radical em sua vida. Foi talvez dessa experiência que ele desenvolveu sua habilidade para se conectar com o próximo, de compartilhar, entender-se como parte de uma comunidade. Importante mencionar que foi também nesse ambiente que o artista teve contato com toda a diversidade humana de Cabo Verde, um espaço que congregava manifestações culturais próprias de cada uma das partes do país que, por si só, tem uma identidade bastante peculiar. 

Desabitado até o século XV, “Cabo Verde assistiu ao desembarcar simultâneo, em suas terras, do violino e do tambor, trazidos pelas mãos dos europeus e dos nossos vizinhos africanos”, diz Mario Lúcio, que nasceu em Tarrafal, na Ilha de Santiago, onde fica a capital do país, formado por um arquipélago com 10 ilhas. Essa configuração insular exerce papel essencial na formação cultural dos cabo-verdianos, cuja identidade reflete a pluralidade geográfica do território. Quase que “protegidos” em seus mini universos, ou ilhas, os cabo-verdianos puderam desenvolver manifestações culturais próprias e, consequentemente, distintas dos habitantes do restante do arquipélago, dando origem a ritmos como morna, koladera, funaná, batuque e tabanca. 

O privilégio de poder experimentar, ainda jovem, todos os sabores musicais do seu arquipélago foram essenciais para despertar no então adolescente Mario Lucio um profundo interesse por cada uma dessas manifestações culturais. Assim, sem se sentir na  obrigação de eleger uma particular para si, ele se enamorou de todas e as incorporou em sua arte, universal e, ao mesmo tempo, única, possivelmente uma síntese da gênese cabo-verdiana. 

Seguindo nesse compasso de descobertas, guiado sobretudo pelo interesse por diferentes formas de expressão ou, por que não, por tudo que é humano, Mario Lucio passeou pelo rock, “era apaixonado por Pink Floyd, Paul Simon e Carlos Santana” enquanto que  concomitantemente mergulhava cada vez mais fundo nos ritmos africanos oriundos de todo o continente, além da sonoridade que descobriu em Cuba, também de matriz africana, durante os seis anos que esteve ali para cursar Direito.

De volta ao seu país, mesmo que exercendo outras atividades, incluindo sua passagem pelo parlamento, a música sempre o acompanhou como parte indissolúvel de sua identidade. Cesária Évora, um dos principais nomes da música Cabo Verdiana faz parte desse enredo. Parceira de palcos, a artista que também gravou algumas das letras de Mario Lúcio, é uma das suas referências  cuja curiosidade musical o levou a percorrer toda a África, sem se permitir ficar exclusivamente ali. “Minha força vem de  toda a tradição africana, sim, mas também encontro significância na música clássica, em Bach, Beethoven, Mendelssohn e na música oriental, como da  Índia, Japão e  Mongólia”, conta.

Profundo conhecedor dos mais diversos caminhos musicais, mas sobretudo daqueles que permeiam sua própria cultura, Mario Lucio faz da diversidade sua essência.  Os diferentes percursos sempre o levaram para um lugar único, seu, que tem uma raiz inequivocamente cabo-verdiana e que transita entre a tradição representada pela morna de Cesária Évora e a contemporaneidade pop de Mayra Andrade.

E, se a musicalidade africana é a alma rítmica de seu trabalho, a língua portuguesa é o amálgama.  Herdeiros de séculos de história forjada entre terra e  mar,  idas e vindas entre a metrópole e as colônias, negros e brancos entrelaçados por seus dramas, derrotas e vitórias, Mario Lucio e artistas brasileiros se encontram em um terreno comum, a lusofonia. Conectados pelo seu passado, mas também pelo seu presente, Mario Lucio e artistas como Gilberto Gil,  Paulinho da Viola e Djavan, entre muitos outros com os quais o cabo verdiano já dividiu o palco, mostram como todos somos partes de uma mesma memória coletiva “do descobrimento” que ainda perpetuamos, para o bem e para o mal.  

“Migrants” ilustra bem essa dicotomia sem cair em clichês. O álbum traz uma reflexão necessária sobre o drama vivido pelos imigrantes, uma mensagem que ecoa pela poesia e amor e não pela violência e guerra. Praticante do budismo, o artista acredita que a luta não precisa ser feita com armas e derramamento de sangue.

É essa pauta que Mario Lucio traz em sua bagagem para o Brasil em maio, mais precisamente para São Paulo, Rio de Janeiro e Itabira, onde acontecem os shows do artista. “Para mim, o Artista é a voz do seu tempo, a música que ele faz, a obra que ele cria e interpreta, tudo deve expressar os anseios, os sofrimentos, os progressos, as causas e as lutas de seu tempo. É por isso que ele nasce antes do seu tempo, para quando o momento chegar ele estar de alma e obra pronta para ecoar a vida. As suas obras antecedem as circunstâncias”, afirma.

Mario Lucio no Instagram: https://www.instagram.com/mariolucio_caboverde/

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