Num turbilhão de luzes e cores, surge Ogum, o imponente, em um enredo avassalador do
Carnaval. De uma origem que transcende as fronteiras celestiais, ele emerge do Orum, de
Aruanda, do Ayê, do Irê e até mesmo da própria Lua. Ogum atravessa fronteiras geográficas e
se revela no Jardim Japão, na zona leste, no extremo sul de São Paulo. Seus caminhos se
entrelaçam com as favelas do Rio de Janeiro e adentram o sertão da Bahia, ecoando pelas
terras do Sul. Uma legião de Oguns se espalhou por todo o Brasil, cada um deles com seu
encanto singular, comunicando-se com o sagrado de maneira mágica.
Nós, foliões fervorosos, somos testemunhas dessa grandiosidade! Somos a soma das forças
ancestrais que seguiram Ogum até aqui, em meio a um espetáculo deslumbrante. Momento
em que as forças primordiais da natureza se entrelaçam, gerando uma agbara poderosa, capaz
de inspirar Olorum a criar Ogum e coroá-lo como Rei do Irê. Ogum é dotado de uma
inteligência independente, espírito jagunjagun, coragem inabalável, proteção incansável e uma
curiosidade insaciável. Foi essa mesma curiosidade que o levou a descobrir a riqueza dos
metais e, com maestria, forjar o irin, dando vida às ferramentas de batalha e trabalho que
eram toda uma nação.
E nesse enredo único, entrelaçado com o Onirê, o povo brasileiro se identifica
apaixonadamente com Ogum. Não apenas pela luta e batalha que ele simboliza, mas também
pelas características marcantes que habitam sua essência e ecoam nas mudanças de nossa
alma. Ogum, o protagonista vibrante, o elo ancestral que une a salvação. No palco grandioso
do Carnaval, somos transportados para um universo místico, onde as batidas do tambor
exaltam a força, a coragem e a proteção que só Ogum pode oferecer. Ele é a energia que pulsa,
a personificação do divino em forma de festa, e nós, com orgulho, nos entregamos a essa
celebração que transcende o tempo e o espaço.
“Ogum está no meio de nós”, nas obras, nas avenidas, nas sarjetas, nos escritórios, dirigindo o
seu carro de transporte, tocando na bateria ou servindo sua cerveja no bar. Cada um com sua
luta diária, com seus caminhos particulares. Os oguns do Brasil “estão de pé” antes da alvorada
que em 23 de abril louvamos o nosso Orixá guerreiro. Brasileiros que diariamente encaram as
batalhas em seus trabalhos, empregos, com suas ferramentas, e protegendo com seus escudos
e tentando matar o dragão do dia com sua lança na mão. Forjando sem medo no “fogo
cotidiano” suas ferramentas para enfrentar as demandas, quase sempre 7 dias por semana.
Brasileiro não se cansa. Mas descansa. Baixa as “armas”
No alguidar feijão preto no dendê e inhame, muitas folhas trazem axé do seu alakorô, e em
suas vestes o mariwô desfiado no ilê axé à girar, evocam a abertura de caminhos e a proteção.
Na gira a saudação de Ogum encontra o abraço daquela que luta ao seu lado, Yemanja Ogunté.
E assim o assentamento está firmado, é festa no xirê.
E nas festas por outros cantos desse Brasil se ouvem cantos:
É Ogum Iara/É Ogum Dilê
Firme nas batalhas
/Me ensinar o que eu não sei
Ogunjá me cerca/
Tua luz me gui’a
Cavaleiro de Aruanda/Eu quero é paz e alegria
(Canto de Ogum. CRISTINA, Teresa)
Refletindo a luz divina da umbanda, Ogum é Cavalheiro de Aruanda e traz consigo uma vasta
falange de generais que ajudam na abertura de caminhos, vencendo demandas e trazendo
proteção nas 7 linhas.
E de proteção a gente conhece e se cerca bem
Não há mal que nos derrube pois temos a proteção de um capitão forte com sua cavalaria. São
Jorge é guerreiro e na Santa Igreja Católica com seu espírito de combate, se tornou
rapidamente símbolo de força, coragem, luta e devoção. São Jorge em seu cavalo matando o
dragão está estampado em camisas, em muros, no peito como tatuagem, em imagens
penduradas no pescoço ou até na porta de casa. É essa relação que temos com São Jorge. São
Jorge é da Capadócia, mas também é daqui.
E assim, na alvorada a gente se veste de vermelho, cor do martírio do santo, faz promessas,
acende velas diante de sua imagem e pinta o céu de fogos em sua homenagem. E não
podemos deixar de comer aquela feijoada e tomar aquela gelada.
E é essa fé, essa força, essa energia que faz com que todo dia a gente acorde, abra os olhos,
olhe para janela e saia para ganhar o mundo. A esperança que nos guia também nos olhos das
crianças, que seguirão com nossos fundamentos, nossa religião, nossa fé para as próximas
gerações nos dando a certeza de por onde andarmos, nossos caminhos estarão sempre
abertos.
Arrebentando cordas e correntes, vestidos e armados com as armas de São Jorge!
Rogai por nós, Ogunhê meu Pai!
Carnavalesco Fábio Ricardo
Pesquisa e Sinopse Roberto Vilaronga
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