- Back2Black Festival 2023 reúne mais de 10 mil pessoas no Rio

  

Back2Black Festival 2023 reúne mais de 10 mil pessoas no Rio


Programação trouxe, de forma inédita no país, artistas dos estilos afrobeat e amapiano – além da música tradicional do continente

Nesta 11ª edição, o festival – que foi oferecido pelo Instituto Cultural Vale e Shell, com captação via Lei de Incentivo à Cultura, do Ministério da Cultura, e patrocínio do Youtube –  apresentou ao seu público atrações musicais, palestras, arte contemporânea, fotografia, teatro, moda, dança, literatura, rodas de conversa e gastronomia, no Armazém da Utopia e no Parque de Madureira. O Festival contou com mais de 10 mil presentes nos quatro dias de evento.

A programação começou na Zona Portuária no dia 25 de maio (quinta-feira), data em que se comemoram os 60 anos do Dia de África. A série de diálogos de Pret’Upias, além de ter enaltecido a essência desse dia como uma gratidão ao continente africano como o berço da civilização, demonstrou também uma perspectiva de futuro a ser construído sob as perspectivas africana e afrodiaspórica. Ideais que ecoaram por todo o festival.


 “Este ano a gente escolheu o dia 25/05, que é o dia que se comemora sessenta anos do dia da África. O dia em que as Nações Unidas criaram as nações africanas, onde os países africanos passaram a ter voz junto às Nações Unidas. Então, é um dia para se comemorar e é um dia para continuarmos celebrando”, relata Connie Lopes.


      O Back2Black trouxe ao Brasil, de forma inédita dentre os festivais do país, as novas sonoridades festivas que estão influenciando a música pop: os afrobeats (ou afropop), uma gama de ritmos eletrônicos diversos criados nas décadas de 2000 e 2010 que têm, em sua essência, batidas de matrizes africanas; e amapiano, ritmo eletrônico que, hoje, é considerado o “novo deep house” após balançar massivamente as pistas, e os quadris, na África e na Europa. Além disso, o B2B voltou a trazer alguns expoentes de estilos musicais africanos já consagrados, como o jùjú, e o politizado afrobeat original, criado pelo gênio nigeriano Fela Kuti na década de 1960 – uma influência, inclusive, para os afrobeats. 





SHOWS


No dia 26 (sexta), o Palco Orun recebeu grandes “feats”. Uma bem especial foi entre o rapper Emicida, que traz a grande celebração de seu show-experiência “AmarElo”, e o seu convidado especial: o músico, compositor e ativista Dino d’Santiago (Cabo Verde), com a sua musicalidade do R&B e dos ritmos populares cabo-verdianos — como a morna, o funaná e o batuku. O palco também teve um encontro de legados familiares, com o multi-instrumentista, cantor e compositor Chico Brown, filho de Carlinhos Brown e neto de Chico Buarque, que convida para uma participação especial o também multi-instrumentista e compositor Mádé Kuti (Nigéria), filho do músico Femi Kuti e neto de Fela Kuti, e debutou em 2021 com o álbum “For(e)ward”. 

Também estiveram presentes as batidas da bombada DJ e produtora DBN Gogo (África do Sul), demonstrando o que fez o ritmo eletrônico amapiano se tornar, hoje, a nova queridinha dos clubs. Já no palco Aiye, esteve presente o movimento cultural carioca Okupiluka, que divulga arte e música africanas em suas festas nas zonas Norte e Central carioca.

No dia 27 (sábado), entre os destaques do palco Orun, estão o músico e cantor Salif Keïta (Mali). Também conhecido como a “voz de ouro da África”, o ex-integrante do lendário grupo africano Les Ambassadeurs e também ativista por mais respeito e dignidade às pessoas com albinismo realiza apresentações memoráveis por onde passa ao entoar o seu som solar que une a musicalidade tradicional do povo mandinga com R&B, funk e jazz fusion. O palco também teve, pela primeira vez no Brasil, a cantora e compositora Tiwa Savage (Nigéria), a “diva dos afrobeats” com 16 milhões de seguidores no Instagram que leva a sua musicalidade inspirada nos grandes nomes da Black Music dos anos 1990, como Mary J. Blige e Chaka Khan. Também estiveram presentes o furacão do pop brasileiro, Iza, com um show exclusivamente feito para a noite especial; e a suavidade romântica da jovem revelação baiana que saiu das redes sociais para o mundo, Agnes Nunes. No Palco Aiye, a cantora e compositora baiana Sued Nunes demonstrou a sua ancestralidade e vivência através de suas canções carregadas de axé; o cantor, compositor e instrumentista brasiliense Hodari apresentou seu R&B romântico-erótico com pitadas de funk; e as carrapetas da carioca DJ Tamy garantiram os grooves na pista.

No dia 28 (domingo), o festival aportou em um importantíssimo bairro negro do Rio, Madureira, e promoveu um grande intercâmbio musical entre África x Brasil com Salif Keïta e sua banda, que convidaram a cantora baiana Margareth Menezes, atual ministra da cultura.

"Salif Keita é um dos maiores cantores africanos no mundo, uma referência para todos nós, artistas negros, principalmente os da minha geração. Essa sonoridade que ele traz, essa música ancestral e ao mesmo universal, é muito forte, muito importante. Para mim, é uma honra enorme ter dividido o palco com um membro da realeza da música mundial", conta Margareth Menezes.




DIÁLOGOS DE PRET’UPIAS


O Dia de África foi celebrado com muita arte, diálogo e conhecimento nos encontros promovidos pelas rodas de conversas, talks e conferências. “Diálogos Afroatlânticos” reuniram o músico, compositor e ativista cabo-verdiano Dino d’Santiago, o músico, escritor, poeta e cronista angolano Kalaf Epalanga e a escritora, roteirista e jornalista brasileira Eliana Alves Cruz, juntos, desvendaram as conexões emocionantes entre as culturas afro-brasileira por meio da música e da literatura na crença da força da criatividade para aproximar pessoas. Já a mesa “Retratos de África” uniu a palavra cantada do cantor, compositor e pesquisador da ancestralidade musical pan-africana, Mateus Aleluia, e a palavra escrita do primeiro prêmio Nobel de literatura do continente africano, Wole Soyinka, onde conversam sobre modos de ver e recriar imagens sobre África. 

Como insumo para os Diálogos de Pret´Upias, a programação contou com Talks sobre “Afrofuturismo” com o escritor Fabio Kabral; “Black Music” com o Youtube; e “Afro-Turismo: Diáspora e Rotas da Escravidão Angola-Brasil" com Jair Miranda e Afonso Vita (Angola). Não ficaram de fora do Dia de África as rodas de conversas com quilombolas e refugiados mediadas pelo jornalista e escritor Tom Farias; a poesia falada do poetry slam com o coletivo artístico Slam das Minas; e o Workshop Vozes Negras oferecido pelo Youtube Music. 

Para coroar esta grande celebração do dia 25, o encerramento foi com o show do eterno Tincoã Mateus Aleluia.

Já no dia 28, o Parque de Madureira receberam a peça teatral “Chegança do Almirante Negro na Pequena África”, onde a Grande Companhia Brasileira de Mystérios e Novidades contará a odisseia de João Cândido, o líder da Revolta de Chibata.


ARTE


Festival foi revestido por “pele eletrônica”

que refletirá as Áfricas latentes entre nós


A direção de arte do festival foi assinada pelo curador e documentarista Marcello Dantas e o design por Rico Lins. O conceito traz a sucata eletrônica que “vestiu” o festival como se fosse a sua pele. O trabalho foi formado por uma camada digital de circuitos e cenários de placas eletrônicas. 

“Grande parte dos metais raros que são necessários para produzir os circuitos eletrônicos digitais que movem o planeta são garimpados de terras africanas, processados em fábricas orientais, para transmitirem a informação do mundo atual. Esses circuitos voltam para a África na forma de lixo eletrônico. Por outro lado, vistos como sucatas, eles são reutilizados por criativos capazes de processar todas essas referências e ressignificá-las ", diz Marcello Dantas.


Já na exposição artística, as obras de Panmela Castro e Maxime Manga refletiram os ritmos e movimentos criativos, propositivos e tecnológicos de nosso tempo. A artista visual carioca, que despontou da favela carioca Tavares Bastos para as galerias de arte brasileiras e da Holanda, da Alemanha e dos Estados Unidos, apresentou sua arte de cunho político, social e feminista. Já o artista gráfico camaronês que “usa a diversidade para criar exclusividade” com retratos de comunidades sub-representadas em colagem digital de formas geométricas e tons de poeira estelar. Para complementar a cena, o festival contou com as coreografias vibrantes do grupo infantil Masaka Kids Africana, de Uganda, que vira e mexe viraliza nas redes sociais por conta de sua positividade e, é claro, muita fofura.

Além de tudo isso, durante o festival, também foi lançado o Instituto Back2Black, para promover residências entre artistas africanos e afrobrasileiros, desenvolver trabalhos com refugiados e ampliar as vozes das comunidades quilombolas. As tendas e barracas da Feira Preta também apresentaram, de forma bem didática e durante todos os dias do evento, a história e a riqueza por trás de criações gastronômicas africanas e afrobrasileiras, já que a fome nunca, jamais foi negra.


SERVIÇO

Festival BACK2BLACK 2023

Data: 25, 26 e 27

Local: Armazém da Utopia (25, 26, 27) - Avenida Rodrigues Alves, s/n Armazém 6 - Santo Cristo, Rio de Janeiro - RJ, 20220-364; 

Data: 28 de maio

Parque Madureira (28) - R. Soares Caldeira, 115 - Madureira, Rio de Janeiro - RJ, 21351-140;


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