Em single de estreia, Cleyton Cézanne rompe a barreira do medo ao assumir a própria essência

"Um amanhecer cinzento, gélido e abraçado por um véu de garoa que espalha, por todos os cantos, uma melancolia incômoda. É engraçado como a entrada do soprar floral e adocicado do clarinete de Eridan Lellis consegue, de maneira quase impositiva, desvirtuar o ouvinte daquela embriagada sensação de tristeza trazido pelo mareante sonar do sintetizador. 

Nesse momento, um samba com silhuetas de MPB de nítidas influências de Djavan, com especial menção para a estrutura rítmica de Flor de Lis, single do alagoano, floresce no jardim da presente composição. 

Com o auxílio de uma voz agridoce e de fundo grave de Cleyton Cézanne, a canção parece tomar a forma de uma onda, que hora volta com a melancolia introdutória e hora vem com uma alegria entorpecida. Trazendo também referências sonoras de uma MPB ao estilo Roberto Carlos, Samba De Seu Zé é um produto que, apesar de embebido em uma base melódica triste, traz uma mensagem lírica forte repleta de perseverança, senso de autoconfiança e, principalmente, esperança.

 É uma canção que traz um personagem que consegue romper a barreira da depressão e até mesmo da insegurança ao expor toda sua força emocional. E em um país em que a intolerância regeu de forma descarada as relações sociais nos últimos anos, o papel que Cézanne assume de representar a comunidade LGBT e quebrar o acrílico do medo, da represália moral e social de uma comunidade conservadora, surge mais do que necessário. Samba De Seu Zé é a descrição de uma comunidade forte e que, apesar de marginalizada pela intolerância social de um povo com medo das próprias diferenças, vem firme, imponente e, principalmente, sem medo de assumir sua própria identidade".

Resenha do crítico musical e jornalista Diego Pinheiro.

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