CPT_SESC lança coleção digital da peça 'Senhora dos Afogados'



A partir do próximo dia 17 de novembro (quinta-feira), a peça Senhora dos Afogados (2008) - adaptação do diretor Antunes Filho para a obra de Nelson Rodrigues – passa a integrar o acervo digital das Coleções e Acervos Históricos do CPT_SESC, realizado pelo Sesc Memórias. A mostra é um recorte do processo criativo do encenador e está disponível na plataforma do Sesc Digital. 


Nesta coleção, será possível conferir trechos em vídeo da peça, registros dos figurinos criados pela figurinista Rosângela Ribeiro e fotografados por Bob Sousa, materiais gráficos, fichas técnicas de todo o processo do restauro (higienização e conservação), feito pelo cenógrafo e figurinista J.C. Serroni, sob a supervisão do Sesc Memórias, Centro de Memórias do Sesc; além de outros itens que recontam a história do espetáculo, dando evidência a toda a riqueza da produção. 


Depois que trabalhei em A Pedra do Reino, Antunes me presenteou com a chave da cenografia, e Senhora dos Afogados foi o primeiro trabalho que fiz à frente da cenografia do CPT, período que durou até 2012, em Toda Nudez Será Castigada”, comenta Rosângela. 


De acordo com a figurinista, o cenário e os trajes de Senhora dos Afogados passavam pelo crivo de Antunes Filho, que acompanhava de perto e sinalizava como desejava que fossem confeccionados, a exemplo das esculturas de anjos brancos e leves, carregadas pelo elenco na peça. “Fui várias semanas indo e vindo a cemitérios para ver as características destas esculturas, e depois esculpi um anjo; Antunes aprovou, então fiz uma série de anjos, na sequência, utilizando cola, poliuretano e, no acabamento, um pouco de massa corrida e látex branco”, relata Rosângela. 


Os trajes da peça foram confeccionados por ela, por alfaiates, costureiras, trazidos de brechós, ou mesmo reaproveitados de outros espetáculos, a exemplo de um sapato da peça Macunaíma (1984), usado pelo vendedor de pentes (Geraldo Mario), ou o cinto do personagem Gilgamesh da peça homônima (1995), usado pelo mestre de cerimônia/ vizinho (Leandro Paixão). 


Em Senhora dos Afogados, o diretor trouxe como referências pictóricas, além do expressionismo, o estilo grotesco: James Ensor, Pieter Bruegel, Francisco Goya e Hieronymus Bosch. “Os figurinos não seguiram uma época, eram considerados por Antunes sem um espaço ou tempo marcado; seguiu somente uma estética trágica, expressionista, com estilo grotesco, tendo a loucura como suporte”, relembra. 


Senhora dos Afogados é a 15ª coleção a integrar o acervo digital do CPT e tem por finalidade fortalecer a memória do teatro e da cultura brasileira, contribuir com estudiosos da arte e rememorar a história construída pelo diretor. 




Cena da Senhora dos Afogados – foto: Adalberto Lima 


Senhora dos Afogados 

A história se passa numa misteriosa mansão à beira-mar, que abriga, em seus amplos aposentos, a tradicional família Drummond, composta pelo patriarca Dr. Misael, sua mulher – uma estrangeira, estranhas filhas e a insana avó. Nesta trama, Nelson Rodrigues, com trágico lirismo de um mar devorador, propõe situações fantásticas e poéticas em suas praias: um marinheiro buscando sua mãe que vive em mítica ilha; prostitutas que lamentam e rezam; crianças problemáticas, crimes e espelhos que não refletem. 


Escrita em 1947, o texto, que integra as chamadas peças míticas dentro da obra de Nelson Rodrigues, marca o retorno de Antunes Filho ao universo rodriguiano, depois de Nelson Rodrigues, o Eterno Retorno (1981) - espetáculo composto pelas peças Beijo no Asfalto, Os Sete Gatinhos, Álbum de Família e Toda Nudez Será Castigada - Nelson 2 Rodrigues (1984) - que contava com Toda Nudez Será Castigada e Álbum de Família – e Paraíso Zona Norte (1989) - que reunia A Falecida e Os Sete Gatinhos.   


De acordo com Sebastião Milaré no livro Antunes Filho: poeta da cena, desde as primeiras montagens rodriguianas, Antunes mergulhou no pensamento arcaico, através de Mircea Eliade e Carl G. Jung, estabelecendo estas tramas no universo dos arquétipos, o que abriu novas perspectivas para a preparação dos atores e atrizes e o encontro de novas linguagens estéticas. Isso foi sendo consolidado na trajetória dos procedimentos técnicos e sistematização do seu método, no CPT.   



  Prospecto Senhora dos Afogados

Serviço

 

SENHORA DOS AFOGADOS - COLEÇÕES E ACERVOS HISTÓRICOS CPT_SESC

 

A partir de 17 de novembro de 2022

[ Disponível na plataforma Sesc Digital  ]

 

Acervo digital do espetáculo Senhora dos Afogados, montado em 2008 pelo CPT e Grupo Macunaíma, com direção de Antunes Filho, composto por fotos dos figurinos restaurados, cenas e peças gráficas, além de relatos da encenação, vídeo da peça e do processo de construção do acervo.   

 

Sobre as Coleções e Acervos Históricos CPT_SESC         

As Coleções e Acervos Históricos CPT_SESC trazem ao público seleções dos figurinos e outros itens de peças encenadas pelo CPT. Um minucioso trabalho de pesquisa possibilitou a recomposição e restauro de mais de 150 trajes cênicos compostos por cerca de 470 itens, de 15 espetáculos: Senhora dos Afogados, Macunaíma, A Hora e Vez de Augusto Matraga, Antígona, Foi Carmen, Fragmentos Troianos, Gilgamesh, Medeia, Medeia 2, Nossa Cidade, Toda Nudez Será Castigada, Trono de Sangue, A Pedra do Reino, Vereda da Salvação e Xica da Silva. Em seguida, os figurinos foram registrados pelo fotógrafo Bob Sousa, e essas fotos são hoje o fio condutor das Coleções.      

 

Sobre o Sesc Memórias       

O Sesc Memórias é um programa que desde 2006 atua na coleta, higienização, organização, guarda e disponibilização da documentação produzida pela instituição, com o propósito de preservar e difundir suas memórias. Integram seu acervo os registros produzidos desde a criação do Sesc, em 1946. São diversos gêneros, suportes e formatos de documentos que assinalam a ação finalística da instituição e seus processos de trabalho, como materiais de divulgação, fotografias, produtos institucionais, ações programáticas, relatórios, entre outros. Seu acervo contribui para a reflexão acerca do trabalho desenvolvido pela instituição, bem como para a promoção de pesquisas e de produção de conhecimentos, na medida em que é acessível ao público interno e externo, reforçando a memória como um valor a ser cultivado.     

 

CPT_SESC - 40 ANOS 

O Centro de Pesquisa Teatral foi criado em 1982 como laboratório permanente de criações teatrais, formação de atrizes, atores, dramaturgas e dramaturgos. Ao longo de quatro décadas, ganhou reconhecimento da crítica e de seus pares no Brasil e em outras partes do mundo como referência no fazer teatral. Foi coordenado por Antunes Filho por 37 anos, período no qual formou mais de mil profissionais das artes cênicas e apresentou 46 espetáculos. Em 2020, passado um ano da morte do diretor, o CPT expandiu suas ações em busca do constante desenvolvimento que o teatro contemporâneo exige, mantendo o diálogo com o seu legado.  A programação apresenta ciclos de debates, mostras digitais, cursos, podcasts, oficinas, entre outras atividades, com artistas e técnicos de diversas formações e instâncias da produção teatral, a fim de buscar a realização de um trabalho interdisciplinar a que sempre se propôs o CPT_SESC.     

     

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