Helena Theodoro: Um olhar negro sobre a convenção do PDT/RJ

 

Helena Theodoro com Ivanir dos Santos  


Dia 23 de julho de 2022, dia marcado para a Convenção Estadual do PDT do Rio de Janeiro. Muita emoção e expectativa de minha parte por ser minha primeira convenção como filiada ao partido. Como mulher preta militante pude acompanhar os progressos deste partido, que embalaram meus sonhos de construção de um Brasil democrático e inclusivo. Vivi a alegria de ver a amiga Dra. Edialeda do Nascimento, uma das fundadoras do PDT, com quem pude estar lado a lado em 1988, na Serra da Barriga, juntamente com Lélia Gonzales e Abdias do Nascimento, se tornar a primeira  mulher negra representante da Secretaria de Estado da Promoção Social do Rio de Janeiro no governo Leonel Brizola, que possibilitou conquistas de mulheres negras em diferentes espaços políticos e institucionais. Assim sendo, não posso entender o que ocorreu nesta convenção de hoje, quando se ignorou um candidato como o Dr. Babalawô Ivanir dos Santos, lídimo representante do movimento negro e liderança acadêmica do IFCS/UFRJ, além de um dos mais significativos líderes da luta contra a intolerância religiosa, a injustiça, a fome e a violência policial no país. Ter uma pré-candidatura como a de Ivanir dos Santos, que lotou a sede do partido em sua primeira apresentação, bem como a ABI em outra convenção, tendo sido aplaudido de pé na OAB/RJ ainda não homologada, é muito estranho! Será que a classe política não quer negros no Senado?

Será que o PDT de Brizola, que teve Lélia Gonzalez abandonando o PT para se engajar no partido em função de suas propostas e aberturas políticas, mudou de rumo? O que está acontecendo com a direção proposta pelo presidente que nos deu a esperança de representatividade legítima para a comunidade preta com a proposta de Ivanir no Senado? Não  podemos mais aceitar que a cidadania da comunidade preta brasileira não seja respeitada. Tivemos uma participação efetiva na construção deste país em todos os setores, sendo aqueles que respondem pela arte, pela musicalidade, pela lavoura, pela educação, enfim, somos a maioria do povo brasileiro que trabalha e produz! Olhar a  foto dos candidatos a deputados e demais componentes do partido sentados ao lado do presidente Carlos Lupi e ver o pré-candidato do povo preto em pé, na fila de trás, numa convenção que deveria ser de sua homologação como candidato ao Senado, nos deixa preocupada e perplexa. Acreditamos que os pensamentos autoritários e hierárquicos colocados por Kant e outros filósofos europeus no início do século passado tivessem sido alijados em grande parte de nossas lideranças, mas parece que me enganei. O autoritarismo que considera o povo incapaz de ter soluções para seus problemas ou de possuir pensamentos mais complexos, necessitando sempre de uma tutela de outro grupo vindo de outro lugar que não o seu por incompetência de pensamento e ação, não pode mais ser aceito. Participamos da  construção da Constituição de 1988, a primeira constituição cidadã do Brasil e estabelecemos propostas para mulheres, jovens e crianças. Foram as mulheres negras brasileiras que fizeram em Beijin, junto com outras mulheres do mundo, propostas contra a violência e contra a fome em qualquer lugar do planeta.

Num partido como o PDT, de onde frutos incríveis para a melhoria da condição do povo brasileiro em todos os setores do país, possibilitaram a liderança de Leonel Brizola, não se pode permitir atuações como as que ocorreram nesta última convenção. Precisamos honrar a história do PDT e, para tanto, exigimos a candidatura de Ivanir dos Santos para o Senado Federal. Urge termos o fechamento de tal decisão.

O projeto de nação democrática não funciona com o racismo. O genocídio dos jovens negros não nos fará recuar, muito pelo contrário. Se a construção do projeto de nação brasileira não for com o povo preto, não será com ninguém. Nós não vamos recuar.

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