"FaraóBahia" conheçam a sinopse do enredo da Nenê de Vila Matilde para o Carnaval 2023

 

É carnaval!

A águia altaneira outra vez prepara seu voo majestoso! Pede licença e evoca os deuses ao som de tambores de ancestralidade pulsante e viva. Roga a Olódùmarè as

bênçãos, para que, na plenitude das luzes deste palco popular, mais uma vez ela seja símbolo da resistência da cultura afro-brasileira.

O quilombo azul e branco, nosso lugar sagrado de luta e resistência, abre suas portas para receber o axé da Bahia. É aqui neste chão, onde os ancestrais bailam suas coisas tão puras, que a manifestação da alegria traz o balsamo que cura as dores. É aqui neste chão, onde se encontrarão a Bateria de Bamba, o Olodum, o Ilê Aiyê e os Filhos de Gandhi que faremos a festa. E desta forma, o Grêmio Recreativo Escola de Samba Nenê de Vila Matilde, misturando culturas nesse caldeirão efervescente de arte foliã, com imensa alegria, anuncia: FaraóBahia!

Para o Carnaval 2023, este pavilhão bordado por mãos pretas, se orgulha em mais uma vez reafirmar seu compromisso com a negritude. Para isto, toma como

inspiração da criação de seu enredo o grande sucesso musical chamado “Faraó, Divindade do Egito”, composição de Luciano Gomes vencedora do concurso de samba-tema do bloco afro Olodum para o Carnaval de 1987. É válido salientar que a canção ilustrava a apresentação “Egito dos Faraós” — tema do bloco soteropolitano — e através de sua letra e melodia, celebrava os laços culturais que unem Brasil e Egito.


Fabulosamente os signos de ambas culturas se fundiram pelas ruas da capital baiana, cabelos trançados e turbante dos faraós. Túnicas e abadás. Suor e sorriso.

Em cortejo popular o povo matildense se manifestará. Mistura Vila Matilde e Salvador. Orixás e divindades faraônicas. Uma só verdade, um só coração. Tal qual a união das palavras Faraó e Bahia no título do enredo, que uma vez unidas, não mais  se separam. E outra vez, o povo negro pede igualdade, fazendo o povo cantar:

 

“Eu falei Faraó!

Ê, Faraó!

 Eu clamo Olodum Pelourinho

 Ê, Faraó!

 Que mara, mara, mara, mara maravilha, ê!

 Egito, Egito, ê!”


Sinopse do Enredo

 A Nenê anuncia!

 FaraóBahia, a conclamação dos deuses negros do Egito!

Olódùmarè, abra as portas da Bahia ao tempo antes de tudo. Negro cosmos antecessor das estrelas, o silêncio universal. Principia a luz ao som do tambor. Olodum.

Deus dos deuses. Faz ressurgir a grande ave que encerrou o silêncio, voou ao infinito e se transformou no éden solar. Mito ou utopia. Epopeia da criação dos deuses egípcios.

Predominante esquema mitológico. O céu inefável onde moram as estrelas e a terra agradável onde habitam os viventes.

Toca o Olodum. Evocando o poder d’África ancestral. Escreve o teu legado, leva o teu nome. Voz, referência e vibração. Faz do sol do Egito o sol da Bahia. Reluz, ilumina

essas ruas, casarões e toda gente. Coisas de magia que unem as divindades, mistura de culturas. Onde a águia faz o voo na imensidão azul. Eis o som que nos conduz, a

razão que nos guia. Assentamento do trono das pretas verdades.

 O negrume da noite que impulsiona as revoltas! Despertai-vos!

Bahia das etnias, línguas e cantorias. Boca que não cala. Terreiro, chão e poeira que levanta. Erguem-se as cabeças, pois a negritude persiste e resiste. Revolta-se contra aquilo que maltrata e humilha: lavoura e açoite. E o sangue derramado, pisado, será honrado. Libertando-se das correntes e grilhões. Outra vez resiste e segue na luta.

É negra a voz que acende a chama e forja um território livre. Búzios e palhas vestem a liberdade. Rebeldia, insurreição e insubmissão. Ponteira de aço. De todos os santos e os heróis da revolução. Caboclos e guias. Raiz de tronco forte, baianidade, plural e miscigenada.

A mãe baiana que faz Aiyê de Paz e Igualdade.

Por estas ladeiras, as pedras pisadas são marcas da história. Quem sobe cada uma delas entende a força que a negritude tem. Lá no Curuzu, onde o ponto foi firmado, a vida ganha novo sentido. Se arma de saber, conhecimento, vontade. Casa de negro, casa da terra. Acarajé, milho branco e pipoca. Força para alma. Ilê Aiyê de preta atitude.

Ê baiana! Mãe preta que distribui o seu axé. Hilda Jitolu, sob teus olhos graciosos, abre os caminhos, veste o povo de rei e rainha. Honra e glória aos antepassados. E faz bloco afro para tomar as ruas. Empodera as belezas africanas. Torso e pano da costa.

Negras perfumadas. Deusa do Ébano. Alfazema e alecrim. Para dar um “xêro” bom e fazer um dengo. Obaluaiê, patrono da fé, deixa o Ilê passar. Adupé!

A felicidade quando o Carnaval chegar!

Exú reúne a patuscada. Despacha a intolerância. Purifica as ruas, avenidas, becos e vielas. Vai à frente de guarda do povo preto. Quando se afinam os tambores, esticam-se os couros, as mãos que conduzirão essa jornada de alegria são abençoadas.

Tocam os clarins de Gandhi. Ruflam brancas asas da liberdade. Pretos de vestes alvas pelas ladeiras. O Senhor do Bonfim e Oxalá estendem o alá que ameniza as dores.

E mandam chamar! Do céu, as bênçãos das santidades para a anunciação. Descem do alto da colina. A pé, o povo vem! Na terra, é carnaval! Ajayô!

Ecoa o canto da feliz cidade! Ê Salvador! A Vila Matilde chega para festejar no Pelô. Ao invés de cabelos trançados, tal qual no dia de glória, vestimos turbantes deTutancâmon. Acendendo a chama da paz, candeeiro da memória. Enfeitados com figa de guiné e balangandãs. Erguemos o punho cerrado! Presença forte, dizem os búzios da sorte.

E a Nenê mistura: Sagrado e profano. O culungundum e a batucada. Samba e axé. Faraó e Bahia. Africanidades de lá e de cá. Pertencimento de todos nós. “Alma de todo povo brasileiro, sempre irreverente e criador.” E ao desfilar sua mais pura identidade, o povo matildense outra vez se agiganta. A Zona Leste ergue seu pavilhão, o maior porta-voz da negritude no chão da pauliceia. Vanguarda da arte, fundamento de

Alberto Alves, farol a iluminar este canto que ecoa:

“Ê faraó!

 Que mara, mara, mara, maravilha ê!

 Egito, Egito ê!”

 “O grito da vitória é o que nos satisfaz!”

“... minha querida, Nenê!”

 Axé!

 

Referências Bibliográficas

LESKO, Leonard H. Cosmogonias e Cosmologia do Egito Antigo. As religiões no

Egito antigo. et all. 2002.

Sites Consultados

“Faraó 30 anos: Análise estético-histórica da canção que mudou o Carnaval”.

 Disponível em http://bahia.ba/entretenimento/farao-30-anos-analise-estetico-historica-

da-cancao-que-mudou-o-carnaval/ Acesso em: 03 de junho de 2022.

 “Deuses Egípcios – Cosmogonia”. Disponível em https://antigoegito.org/deuses-

egipcios/ Acesso em: 03 de junho de 2022.

 “Olodum – O Bloco”. Disponível em

http://www.pelourinhodiaenoite.salvador.ba.gov.br/olodum/ acessado em 05 de junho

de 2022.

Ilê Aiyê. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú

 Cultural, 2022. Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/grupo636197/ile-

aiye. Acesso em: 05 de junho de 2022. Verbete da Enciclopédia.

 

Músicas Consultadas

“Faraó – Divindade do Egito” – Autor: Luciano Gomes

“Voei, Voei! Na Vila aportei, onde me deram uma coroa de rei” – Autores:

Santaninha, Baby, Clóvis e Rubens Gordinho.

“Água de Cheiro” – Autores: Gilson Silva e Guiga de Ogum

Créditos do Enredo / Carnaval 2023

 

“FaraóBahia”

Presidente: Rinaldo José Andrade (Mantega)

Carnavalesco: Fábio Gouveia

Autores: Diego Araújo, Fábio Gouveia e Márcio Telles

Texto / Revisão: Diego Araújo


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