Livro corrige apagamento histórico sofrido pelo artista negro Manuel Messias (1945-2001), e reúne imagens de sua impressionante obra, com textos de vários pensadores

 


Resultado de minuciosa pesquisa, feita a partir de arquivos de jornais, catálogos, e depoimentos de quem conviveu com ele, como Anna Bella Geiger, Martha Pires Ferreira, Guilherme Gutman, Matias Marcier e Evandro Carneiro, “Manuel Messias – Do tamanho do Brasil” (Danielian Edições) recupera a cronologia do artista e sua importância.

 

12 de fevereiro de 2022, das 16h às 20h

Danielian Galeria, Gávea, Rio de Janeiro

A renda obtida na venda do livro no dia do lançamento

será revertida para os projetos sociais Tropa da Solidariedade,

do rapper Shackal, e Cidadão Considerado, do mestre de capoeira Toni Vargas

 

A Danielian Galeria lança no dia 12 de fevereiro de 2022, das 16h às 20h, o livro “Manuel Messias – Do tamanho do Brasil”, com 248 páginas, bilíngue (port/ingl), formato 27cmx21cm, e textos de Ademar Britto Junior, Guilherme Gutman, Lilia Schwarcz, Marcus de Lontra Costa, e Rafael Fortes Peixoto, e uma cronologia do artista por Izabel Ferreira.

Resultado de minuciosa pesquisa, feita a partir de arquivos de jornais, catálogos, e depoimentos de quem conviveu com ele, como Anna Bella Geiger, Martha Pires Ferreira, Guilherme Gutman, Matias Marcier e Evandro Carneiro, “Manuel Messias – Do tamanho do Brasil” (Danielian Edições) recupera a cronologia do artista e sua importância.

O livro é a segunda etapa do amplo projeto realizado pela Danielian Galeria e coordenado pelos curadores Marcus Lontra e Rafael Peixoto, que busca preencher a lacuna existente sobre o importante artista Manuel Messias dos Santos (1945-2001), que sofreu um processo de “apagamento” da história da arte brasileira por sua origem humilde, ser negro, e nos últimos dez anos de vida ter estado em situação de rua por vários períodos. Apesar de todas as dificuldades que enfrentou, Manuel Messias teve participação ativa na cena artística brasileira durante 30 anos, com exposições no Brasil e no exterior, sendo premiado diversas vezes e com unanimidade crítica a respeito de sua obra. Em setembro e outubro de 2021, a Danielian Galeria realizou a exposição “Manuel Messias – Do Tamanho Do Brasil”, com 50 obras, em xilogravura, seu principal meio de trabalho, e também pinturas com tinta a óleo e pastel, de diversos períodos da trajetória do artista.

 

E saiu sangue e água _Crédito Jaime Acioli_122316

“BIOGRAFISMO” – O OLHAR DE LILIA SCHWARCZ

A antropóloga Lilia Schwarcz aponta em seu texto “Manuel Messias: da Arte de Transpassar”, o fenômeno do “biografismo”, a “maneira como a história de vida torna-se parte constitutiva da carreira e da produção desses intelectuais das artes, transformando a experiência pessoal em gatilho criativo”. Ela traça um paralelo de Manuel Messias a artistas negros e pobres no Brasil, como Lima Barreto e Arthur Bispo do Rosário. “Não que exista qualquer determinismo histórico a implicar mutuamente as vidas de artistas negros e negras, jovens e pobres. Mas vamos combinar que essas são experiências em diálogo, por conta das trajetórias semelhantes que encerram loucura, pobreza, exclusão social e racismo”, observa.

 

ICONOGRAFIA RELIGIOSA – SECA, FOME E MISÉRIA

No texto “Trajetória de um artista preto em uma sociedade racista”, o colecionador, curador e médico Ademar de Britto observa que Manuel Messias, “filho único de Maria Francisca dos Santos (1915–1996) e José Bonfim dos Santos (1918–?), nasceu em Aracaju, em 25 de outubro de 1945, apenas alguns anos depois do trágico ataque alemão ao litoral nordestino, no contexto da Segunda Guerra Mundial (1939–1945)”. O episódio pouco lembrado, “foi marcado pelo bombardeio de navios mercantes na costa sergipana e baiana, que vitimou 551 civis chocando todo o país e trazendo terror à então pacata região. O período do pós-guerra trouxe mudanças sociais significativas, fez aumentar as desigualdades e impactou a trajetória de Manuel”. “Em algumas gravuras do artista sua realidade tanto social como de memória é evocada. Nelas, há uma mescla entre iconografia religiosa, sobretudo cristã, como a crucificação, com a situação de penitência análoga à causada pela seca, fome e miséria. Há um dado interessante no fato dos animais serem retratados inquietos, tomados por certa bestialidade e parecerem mais resistentes que os seres humanos levando até a situações de antropozoomorfismo, em que a fragilidade humana seria superada pela força e resistência, por exemplo, de um boi”.

 

Candomblé _Crédito Jaime Acioli_121808

INSPIRAÇÃO ERÓTICA – BELEZA E FORÇA EXPRESSIVA

Ludwig Danielian, que junto com seu irmão Luiz Danielian dirige a galeria fundada em 2005, tomou contato com a obra de Manuel Messias dos Santos ao criar um núcleo de gravuras dentro do acervo. Ele conta que se surpreendeu “com uma obra de inspiração erótica, da qual desconhecia o autor, mas que me chamou a atenção por sua beleza e força expressiva. Era uma xilogravura de Messias. Fiquei totalmente arrebatado e busquei saber mais sobre esse artista tão peculiar, determinado em ter algum trabalho seu”, conta. Neste processo, percebeu a lacuna sobre o artista na história da arte brasileira. “Messias havia caído no esquecimento”. A partir daí surgiu o desejo de “reapresentar ao público a sua vida e a sua obra”. Nascia então o Projeto Manuel Messias – do Tamanho do Brasil, “uma profunda pesquisa que teve como resultado uma exposição em nossa galeria, em setembro e outubro de 2021, e a publicação deste livro. Com esse projeto, temos a intenção de abrir espaço para mais discussões e reflexões sobre a obra desse grande artista que migrou do Sergipe para o Rio de Janeiro, onde se estabeleceu e enfrentou na carne as injustiças sociais, o racismo estrutural e a pobreza, resistindo através de sua obra”.

 

DA POBREZA À ARTE

Negro e de uma família muito pobre, Manuel Messias migrou para o Rio de Janeiro aos sete anos acompanhando uma tia e sua avó. Tempos depois sua mãe chega à cidade onde se emprega como trabalhadora doméstica na casa de Leonídio Ribeiro, diretor do Museu de Arte Moderna à época. No início dos anos 1960, ao ver que o menino desenhava, ele lhe deu uma bolsa de estudos com Ivan Serpa (1923-1973), que o estimulou a fazer xilogravura. Manuel Messias estudou ainda com o pintor, gravador e desenhista Abelardo Zaluar (1924 - 1987). A passagem de Messias como ajudante e arte-finalista em uma agência de publicidade ainda nos anos 1960 também foi fundamental para a criação de uma linguagemde alto poder sintético e comunicativo, que marca grande parte da sua produção”, salientam Marcus Lontra Costa e Rafael Peixoto.

 

Mas a pobreza e a falta de estruturas que o amparassem, somadas a problemas psiquiátricos que Manuel Messias e sua mãe passaram a sofrer, o levaram ao extremo da exclusão social. Entretanto, apesar disso ele continuou produzindo, fazendo exposições e recebendo prêmios como os do MAM e do Museu Nacional de Belas Artes.

 

PENSÃO NA LAPA, CIDADE DE DEUS, RUAS DE SANTA DE TERESA

Manuel Messias chegou a morar em uma pensão na Lapa onde também vivia Cildo Meireles, e comprou uma casa na Cidade de Deus, com o resultado das vendas de uma exposição feita em 1974 na Bolsa da Arte, de Evandro Carneiro, e a partir da mobilização do circuito da arte. Mas em 1989, com o agravamento de sua condição financeira e também psiquiátrica, abandonou o lugar, dizendo ter sido expulso pela criminalidade. 

 

A partir daí passou a morar, sempre com a mãe, em ruas próximas às casas de amigos, como a artista Martha Pires Ferreira – que trabalhou anos a fio com a dra. Nise da Silveira – que o amparava e comprava material para suas obras, e guardava suas gravuras

 

Marcus Lontra e Rafael Peixoto observam que, apesar da falta de estrutura em que vivia, Manuel Messias era “um leitor compulsivo, com um profundo conhecimento sobre arte e uma ampla bagagem cultural”.  

 

INTENSA PESQUISA

O livro “Manuel Messias – Do tamanho do Brasil” é resultado de intensa pesquisa, em que foram rastreados mais de 200 trabalhos em acervos particulares e instituições, e mais de 200 artigos em jornais e publicações, e foram colhidos testemunhos de artistas e curadores que conheceram Manuel Messias, a fim de organizar uma cronologia mais precisa dos fatos que marcaram sua trajetória. “O projeto do livro tem três eixos fundamentais: a pesquisa, a reprodução de obras e o embasamento crítico e teórico”, contam Marcus Lontra e Rafael Peixoto. Este processo de investigação teve como ponto inicial a pesquisa realizada por Guilherme Gutman, que trabalha na área de intersecção entre a psicanálise, a psicopatologia, a filosofia e a arte, e George Kornis, economista e professor do Instituto de Medicina Social da UERJ, grande especialista em gravura, para a exposição “Manuel Messias nas Coleções Gutman e Kornis”, na Caixa Cultural Rio de Janeiro, em 2011.

 

“A partir de então, rastreamos documentos e publicações e realizamos entrevistas com contemporâneos de Messias, trazendo um aprofundamento necessário para esta edição. Hoje, a Danielian Galeria apresenta diferentes visões e interpretações de historiadores, pesquisadores e críticos sobre o legado artístico de Manuel Messias dos Santos”, afirma Ludwig Danielian.

 

SOBRE A DANIELIAN GALERIA

A Danielian Galeria foi fundada em 2005, com o nome de Colecionador Escritório de Arte, dentro do ambiente de convívio de uma tradicional família de colecionadores que formou, ao longo dos anos, um importante acervo de arte brasileira com foco na produção do século 19 e da primeira metade do século 20. Ainda neste início, teve ampla atuação no mercado brasileiro, realizando pequenas exposições e participando de feiras internacionais sediadas no Brasil, como a ArtRio e SP-Arte.

 

Em 2019, a partir do desejo de atuar de maneira mais efetiva no cenário artístico e cultural brasileiro, é inaugurado o seu novo espaço em uma ampla casa no bairro da Gávea, no Rio de Janeiro, com o nome Danielian Galeria. Dirigida pelos irmãos Ludwig Danielian e Luiz Danielian, a galeria vem realizando exposições coletivas e individuais de notável importância social e cultural, criando novas conexões entre arte e o público, sendo local de discussão e reflexão.

 

A Danielian Galeria representa os artistas Geraldo Marcolini (1969), Glauco Rodrigues (1929-2004), Jorge Guinle (1947-1987), Josafá Neves (1971), Manfredo de Souzanetto (1947), Marçal Athayde (1962) e Nelly Guttmacher (1941).

 

SOBRE O PROJETO TROPA DA SOLIDARIEDADE

Idealizado e coordenado pelo o rapper Shackal, e formado por voluntários de diferentes etnias, culturas e classes sociais, o projeto Tropa da Solidariedade a partir de campanhas de financiamentos coletivos vem desde o início da pandemia da covid-19 distribuindo quentinhas orgânicas e itens de higiene como papel higiênico, álcool gel e máscaras para mais de cinco mil famílias em situações de rua na Lapa e no Centro do Rio de Janeiro. Agora estrutura um espaço na Lapa para instalar sua sede, que oferecerá gratuitamente atividades educativas com enfoque social.

 

SOBRE O PROJETO CIDADÃO CONSIDERADO

Criado em 2016 pelo mestre de capoeira Toni Vargas, o projeto Cidadão Considerado utiliza a capoeira e as manifestações da cultura popular brasileira afins como instrumentos educacionais. A arte do projeto, em sua diversidade, tem elementos que podem ser utilizados para o desenvolvimento integral de crianças e jovens, com perspectivas de promover a cidadania. Ao colocar jovens falando para jovens, o projeto cria uma empatia, com melhor resultado. O agente responsável pelas turmas, Gabriel Vargas, capoeira e compositor, tem 22 anos e vem promovendo encontros ricos e prazerosos, onde jovens de diferentes espaços sociais interagem e se integram para conquista de objetivos comuns. Desde de 2017, desenvolve o “Projeto Cidadão Considerado” no Ilê de Seu Peixinho, na entrada da comunidades Chapéu Mangueira e Babilônia, no Leme, sede do grupo de capoeira que integra, onde ministra aulas para adolescentes e jovens, e promovendo atividades e eventos externos. Atualmente, está desenvolvendo o “Coral Cidadão”.

 

SERVIÇO: Lançamento livro “Manuel Messias – Do Tamanho do Brasil”

Danielian Galeria, Gávea, Rio de Janeiro

12 de fevereiro de 2022, das 16h às 20h

A renda obtida na venda do livro no dia do lançamento

será revertida para os projetos sociais Tropa da Solidariedade,

do rapper Shackal, e Cidadão Considerado, do mestre de capoeira Toni Vargas

Rua Major Rubens Vaz, 414, Gávea, Rio de Janeiro, CEP 22470-070 

Telefones: +5521.2522.4796 +5521.98830.3525 

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Livro “Manuel Messias – Do tamanho do Brasil”

248 páginas, bilíngue (port/ingl), formato 27cmx21cm, textos de Ademar Britto Junior, Guilherme Gutman, Lilia Schwarcz, Marcus de Lontra Costa, e Rafael Fortes Peixoto, e uma cronologia do artista por Izabel Ferreira. Tiragem: 1 mil exemplares. Preço: R$ 120

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