Grande Rio traz de volta ala de pandeiristas para o desfile no carnaval de 2022

 

Ala de pandeiristas da Grande Rio Foto: Roberto Moreyra  / Agência O Globo

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Com a proposta de resgatar uma tradição do carnaval que se perdeu com o tempo, o desfile da Grande Rio de 2022, que tem o enredo “Fala, Majeté! Sete chaves de Exu”, vai trazer de volta uma ala de pandeiristas, com dez componentes. Seis mulheres e quatro homens vão desfilar no terceiro setor da escola, eles equilibrando e gingando os pandeiros nas mãos e elas acompanhando com samba nos pés. A tradição dos pandeiristas remete aos carnavais das décadas de 1970 e de 1980.

Os pandeiristas foram escolhidos entre os passistas da própria escola e tiveram que aprender do zero. A proposta da Grande Rio é manter e crescer a ala para os carnavais futuros, segundo o diretor de carnaval Thiago Monteiro.

— No carnaval, em geral, as alas de passistas perderam aquela espontaneidade, até aquela sensualidade do passado. Foi um trabalho de contextualização do que a escola queria e do que o enredo pedia. O enredo sobre Exu é um ode ao povo da rua, à malandragem. Nada melhor que no enredo que exalta essa liberdade trazer isso. A gente está criando para o carnaval de 22, mas a ideia é não encerrar em 2022 — afirma.

O passista Marcio Rocco, de 44 anos, tem treinado o gingado com o pandeiro em casa, em média, cinco vezes por semana. Para ele, participar da ala como pandeirista reativa memórias da infância:

— Eu sou um passista bem antigo, peguei a época que tinha os pandeiristas, mas eu nunca pratiquei. Na época eu era criança, mas vi isso acontecer. Quando recebi o convite para entrar nesse trabalho, abracei a ideia na hora. O treino tem sido muito bom, porque começamos todos no mesmo nível, quando um aprende e passa para outro fica todo mundo sorrindo com sentimento de vitória — diz o passista.

Para as cabrochas, as passistas mulheres que acompanham os pandeiristas, o maior desafio na adaptação do samba foi aprender a acompanhar o pandeirista, já que sambavam sozinhas.

— A gente está tendo que resgatar o samba dos carnavais antigos, que é um samba mais rasgado, mais rebolado. A gente tem essa proposta de rebolar mais, e com a função de sambar com o pandeirista, então tem que se policiar de não esquecer que o pandeirista está ali, ele tem que te cortejar — conta a passista Daiane Pires, de 30 anos, que integra a ala.

O desafio de treinar os homens e mulheres pandeiristas ficou com Marisa Furacão e Avelino Ribeiro, presidentes da ala. Marisa é responsável pelo ensaio das mulheres e Avelino, dos homens.

— No início, elas tiveram mais dificuldade, porque o samba de hoje é diferente do de antigamente, mas estão desenvolvendo bem. Os meninos não sabiam mexer com o pandeiro, mas aceitaram o desafio, treinaram em casa. A nossa surpresa foi que eles realmente conseguiram. Estão muito animados — diz Marisa.

Para Avelino, essa é uma oportunidade para as novas gerações de verem uma tradição que anda ausente dos desfiles recentes:

— A ala dos pandeiristas remete aos anos 1970, 1980. É uma coisa que ao longo do tempo as escolas de samba acabaram. Eles achavam até que a ala atrapalhava o andamento do desfile. Foi uma lacuna de quase 30 nos, então a Grande Rio trouxe de volta esse quadro, que na verdade muitas gerações não viram. Está sendo uma grande novidade — afirma.

A pesquisa para ensaiar a ala foi feita em vídeos de desfiles antigos. Avelino assistiu a desfiles da Portela, da União da Ilha e da Mangueira dos anos 1970 para buscar referências sobre como eram feitos os malabares com os pandeiros.

— O dedo do meio tem que centralizar no pandeiro, esse é o primeiro passo. O segundo é estar com o olhar atento ao pandeiro em qualquer movimento. E o terceiro é conseguir dosar a expressão corporal. As meninas têm que estar o tempo todo “namorando” o pandeirista — completa.

A Grande Rio vai entrar na avenida do samba no sábado, dia 23 de abril, e é a penúltima escola a desfilar. O enredo é desenvolvido pelos carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora.

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