Mostra SEM FRONTEIRAS atualiza o cinema de Med Hondo para o contexto brasileiro

 Goethe-Institut e Consulado Geral da França unem-se em projeto dedicado à obra do cineasta mauritano 

 


Um pensador sobre as opressões – racial e colonial – e um original contador de histórias. Esse foi o cineasta mauritano Med Hondo, cuja obra ganha uma mostra no Rio de Janeiro. A retrospectiva “Sem fronteiras: o cinema de Med Hondo” é uma iniciativa do do Goethe-Institut e do Serviço de Cooperação e Ação Cultural do Consulado Francês, no contexto de criação do Instituto Cultural Franco-Alemão no Rio de Janeiro, previsto no Tratado de Aix-La-Chapelle (2019). Com filmes, performance e debates, a programação será gratuita e híbrida – com sessões presenciais no Museu de Arte Moderna, entre os dias 25 e 28 de novembro, e transmissões no site mostramedhondo.com.br, no período de 29 de novembro a 5 de dezembro.

“Estamos muito orgulhosos desta iniciativa franco-alemã que permitirá ao público brasileiro descobrir filmes pouco conhecidos desta figura essencial do cinema africano do século XX, e cuja obra ainda encontra ecos na atualidade”, comenta Alain Arnaudet, Adido de Cooperação e Ação Cultura da Embaixada da França no Rio de Janeiro.

Para tornar esse encontro com a obra de Med Hondo ainda mais proveitoso, a curadoria da mostra associou uma seleção de filmes da África e da diáspora que conversam com a filmografia do cineasta. Outros destaques da programação são sessões com curadorias compartilhadas  com três cineclubes brasileiros, além da realização de debates com especialistas locais e internacionais e uma colaboração com o coletivo Confraria do Impossível.

A retrospectiva nasceu da vontade de prestar uma homenagem a esse grande cineasta, que faleceu em 2019, cuja obra brilhante que permaneceu desconhecida do grande público por muito tempo, marginalizada pelos circuitos tradicionais de produção e distribuição.


Nascido Abib Mohamed Medoun Hondo em 4 de maio de 1936, na Mauritânia, descendente de escravizados libertos, Med Hondo foi um diretor de cinema, produtor, roteirista, ator e dublador. Ele imigrou para a França, chegando a Marselha em 1958, onde começou uma vida de trabalhos informais, que lhe proporcionaram consciência política. Lá desenvolveu uma paixão pelas artes dramáticas e pelo cinema, em que passou a trabalhar nos anos 1960. Med Hondo foi um ferrenho ativista pela liberdade dos povos e militante anticolonialista, caraterística que permeou toda sua obra. Os filmes apresentados nessa retrospectiva são todos marcados pela mesma indignação: obras de protesto cujo grito ainda encontra eco nas notícias do mundo atual.




Depois de fazer dois curtas-metragens, Hondo começou a filmar Soleil Ô (Ó, Sol) (1969), um filme com um orçamento baixíssimo, que foi filmado nos fins de semana. Apesar dessas limitações técnicas, esse primeiro longa demonstra o domínio cinematográfico do diretor e uma forte reflexão sobre a desilusão de um imigrante africano chegando a solo francês. O encantamento dos primeiros momentos é substituído pelo amargor diante do racismo cotidiano e o medo crescente de uma “invasão negra”. Soleil Ô continua sendo o filme mais conhecido de Hondo. O filme será exibido na Mostra Sem Fronteiras, mas a proposta da curadoria é mesmo destacar filmes menos conhecidos do autor, como West Indies, um musical que relaciona o sistema migratória na França depois das Segunda Guerra Mundial com a história da escravização durante o colonialismo e Fátima que relaciona questões de gênero com a luta anti-colonial.

Na França, Hondo ficou mais conhecido por sua longa carreira de dublador, ofício que exerceu com talento e lhe permitiu também financiar, em parte, seus filmes. Ele é particularmente conhecido por ser a voz francesa regular de Eddie Murphy e uma voz recorrente de Morgan Freeman e outros atores afro-americanos, incluindo Richard Pryor, Laurence Fishburne em sua estreia ou Carl Weathers. Também é conhecido por ter feito as vozes de Rafiki na série de filmes O Rei Leão e do Burro na série de filmes Shrek.

Graças à dublagem, a voz calorosa, charmosa, risonha e, ao mesmo tempo, versátil de Med Hondo era conhecida do grande público, mas escondia a outra “voz” desse artista: a de um ativista que abordava, em seus filmes, temas como polarização e racismo, que servem como ótima inspiração para discussões com especialistas e o público sobre a situação atual no Brasil. São questões também urgentes na Alemanha, na França e na maioria dos países da Europa.



“Estou muito ansioso pela resposta aos filmes do Med Hondo e às obras dos artistas convidados, bem como às discussões produtivas e, às vezes, controversas”, empolga-se Robin Mallick, diretor do Goethe-Institut.

Os cinéfilos do mundo tiveram a oportunidade de redescobrir a obra de Hondo por ocasião da restauração de Soleil Ô, pela Film Foundation de Martin Scorcese, exibido no Festival de Cannes em 2017. Essa exibição, que aconteceu 47 anos depois da estreia na Semaine de la Critique, permitiu o reencontro com esta obra-prima que atiçou as brasas revolucionárias no final dos anos 1960, mostrando, como nenhum outro filme na época, as condições de vida dos imigrantes na França.

Em 2017 também aconteceu uma extensa ativação da obra de Med Hondo em Berlim, em colaboração com o Arsenal Kino, que também contribuiu com a restauração digital do filme Mes Voisins. A curadora dessa programação estará presente num debate. 

Em 2015, Hondo confiou todos os seus filmes para Ciné-Archives, a Cinemateca do Partido Comunista Francês, que desde então é responsável pela restauração e distribuição da sua obra. É graças a Ciné-Archives que está sendo possível fazer essa retrospectiva com cópias restauradas, pela primeira vez na América Latina.


  

PROGRAMAÇÃO

 

EXIBIÇÕES PRESENCIAIS

 

MUSEU DE ARTE MODERNA DO RIO DE JANEIRO

25 de novembro (quinta-feira)

18h – Sessão de Abertura

West Indies, les negres marrons de la liberté, Med Hondo

Argélia/ Mauritânia/ França, 1979, 110’

26 de novembro (sexta-feira)

16h – Fatima, L'Algérienne de Dakar / Fatima, The Algerian Woman Of Dakar / Fatima, a Argelina De Dakar, Med Hondo

França, 2003, 93’

18h – Sarraounia, Med Hondo

França/ Burkina Faso, 1986, 120’

27 de novembro (sábado)

17h – Polisario, un peuple en armes / Polisario, a people in arms / Polisario, as armas de um povo, Med Hondo

França/ Mauritânia, 1978, 85’

19h – DEBATE

Com Brigitta Kuster (artista e professora de estudos de cinema na Humboldt University em Berlim), Thiago Florencio (professor e pesquisador)


Mediação Janaína Oliveira (curadora e pesquisadora), Astrid Kusser Ferreira (historiadora, autora, mãe)


28 de novembro (domingo)

14h – Les Bicots-Negres Vos Voisins / Arabs And Niggers, Your Neighbours / Seus vizinhos, os refugiados, Med Hondo

França/ Mauritânia, 1974, 102’

16h30 – Confraria do Impossível apresenta a performance "A Voz da Senzala"

17h30 – Mes Voisins/ My Neighbours/ Meus Vizinhos, Med Hondo

França, 1971, 35’

Híbrido / Hybrid, André Lemos

Rio de Janeiro, 2021, 27’

Não Consigo Respirar/ I Can’t Breathe, André Lemos

Rio de Janeiro, 2021, 13’

 

EXIBIÇÕES ONLINE

29 de novembro (segunda-feira)

Soleil Ô, Med Hondo

Mauritânia, 1970, 98’

O filme ficará disponível no dia 29 de novembro, das 16h à meia-noite.

SESSÃO CINECLUBE MÁRIO GUSMÃO

Os filmes ficarão disponíveis das 16h de 29 de novembro (segunda-feira) às 16h de 1º de dezembro (quarta-feira).

19h – DEBATE

Mediação: Janaína Oliveira

 

30 de novembro (terça-feira)

Soleil Ô, Med Hondo

Mauritânia, 1970, 98’

O filme ficará disponível no dia 30 de novembro, das 16h à meia-noite.

 

30 de novembro (terça-feira)

Polisario, Un Peuple En Armes / Polisario, A People In Arms / Polisario, As Armas de um Povo, Med Hondo

França/ Mauritânia, 1978, 85’

O filme ficará disponível no dia 30 de novembro, das 16h às 22h.

 

Oggun: An Eternal Presence, Gloria Rolando

Cuba, 1991, 52’

Os filmes ficarão disponíveis das 19h de 30 de novembro (terça-feira) às 19h do dia 2 de dezembro (quinta-feira).

 

1º de dezembro (quarta-feira)

Soleil Ô, Med Hondo

Mauritânia, 1970, 98’

O filme ficará disponível no dia 1º de dezembro, das 16h às meia-noite.

Sarraounia

França/ Burkina Faso, 1986, 120’

O filme ficará disponível no dia 1º de dezembro, das 16h às 22h.

 

SESSÃO CINECLUBE BAMAKO

Thynia, Lia Leticia

Pernambuco, 2019, 15’

PE 460 - uma luta ancestral, Crioulas Vídeo

Ouvido chão - identidades quilombolas, Gabriel Muniz

Rio Grande do Sul, 2021, 21’

Os filmes ficarão disponíveis das 16h de 1º de dezembro (quarta-feira) às 16h do dia 3 de dezembro (sexta-feira).

19h – DEBATE

Mediação: Janaína Oliveira

 

2 de dezembro (quinta-feira)

Soleil Ô, Med Hondo

Mauritânia, 1970, 98’

O filme ficará disponível no dia 2 de dezembro, das 16h à meia-noite.

West Indies, les negres marrons de la liberté

Argélia/ Mauritânia/ França, 1979, 110’

O filme ficará disponível no dia 2 de dezembro, das 16h às 22h.

 

SESSÃO CINECLUBE ATLÂNTICO NEGRO

Rapsódia para um homem negro

Mediação: Janaína Oliveira

 

3 de dezembro (sexta-feira)

Now!, Santiago Álvarez

Cuba, 1965, 6’

Abolição, Zózimo Bulbul

Brasil, 1988, 150’

Os filmes ficarão disponíveis das 16h de 3 de dezembro (sexta-feira) às 16h do dia 5 de dezembro (domingo)

Los Del Baile, Nicolás Guillén Landrián

Cuba, 1965, 6’

C’était Il Y 4 Ans, Paulin Soumanou Vieyra

Senegal/ França, 1954, 9’

Afrique Sur Seine, Paulin Soumanou Vieyra, Mamadou Sarr

França, 1955, 21’

Os filmes ficarão disponíveis a partir das 17h de 3 de dezembro (sexta-feira) às 17h do dia 5 de dezembro (domingo)

Mes Voisins/ My Neighbours/ Meus vizinhos, Med Hondo

França, 1971, 35’

O filme ficará disponível no dia 3 de dezembro, das 17h às 23h.

19h - DEBATE

Convidados: Amaranta César, Lorran Dias, Marcelo Ribeiro

Mediação: Janaína Oliveira

 

4 de dezembro (sábado)

Soleil Ô, Med Hondo

Mauritânia, 1970, 98’

O filme ficará disponível no dia 4 de dezembro, das 16h à meia-noite.

West Indies, les negres marrons de la liberté

Argélia/ Mauritânia/ França, 1979, 110’

Mes Voisins/ My Neighbours/ Meus vizinhos, Med Hondo

França, 1971, 35’

Os filmes ficarão disponíveis das 18h de 4 de dezembro (sábado) à meia-noite do dia 5 de dezembro (domingo).

 

5 de dezembro (domingo)

Soleil Ô, Med Hondo

Mauritânia, 1970, 98’

O filme ficará disponível no dia 5 de dezembro, das 16h à meia-noite.

Sarraounia

França/ Burkina Faso, 1986, 120’

Polisario, Un Peuple En Armes/ Polisario, A People In Arms/ Polisario, As armas de um povo, Med Hondo

França/ Mauritânia, 1978, 85’

Os filmes ficarão disponíveis no dia 5 de dezembro (domingo), das 18h à meia-noite.

 

 

SINOPSES

LES BICOTS–NEGRES: VOS VOISINS

ARABS AND NIGGERS, YOUR NEIGHBOURS 

SEUS VIZINHOS, OS REFUGIADOS

 

Na França, há milhares deles. Eles fazem o trabalho mais difícil e degradante; eles são mal pagos. Subpagos, digamos assim. Eles vivem, em sua maioria, no que estamos acostumados a chamar de favelas, guetos. Eles têm sido objeto de livros e estudos sociológicos que "investigam seu caso". Na televisão, vários ministros ou Secretários de Estado, diferentes lideranças europeias expressaram sua preocupação com o destino dessas pessoas no próspero, dinâmico e liberal Ocidente Cristão.

A maioria de seus líderes políticos nacionais não se importam. Sua saída de seu país de origem é muitas vezes desejada e, de fato, incentivada e organizada. São muito menos bocas para alimentar e, além disso... Quem sabe, poderiam ameaçar a ordem das coisas: o Estado Soberano. Em resumo, aqui estão eles, esses trabalhadores, os escravos dos tempos modernos, que partiram para um paraíso muito sonhado, com esperança em seus corações e estômagos vazios.

Desde 1960, seus números continuam a crescer. Os traficantes de negros estão se multiplicando entre a África e a Europa como nos bons velhos tempos. Os encontramos transportados em caminhões de máquinas de costura (fronteira italiana) ou congelados até a morte (fronteira espanhola). Mas quem são eles realmente? E por que eles estão deixando seus países de origem em tão grande número?

Cada um de nós poderia fornecer milhares de razões, múltiplas explicações, infinitas justificativas. Achamos mais apropriado, por uma vez, pedir-lhes para falar. Este filme, classificado como um relatório fictício, tenta dar voz à opinião de Seus vizinhos, os refugiados.

Sinopse de Med Hondo, Paris, 31 de julho de 1974.

Fonte: Ciné-Archives

 

FATIMA, L'ALGÉRIENNE DE DAKAR

FATIMA, THE ALGERIAN WOMAN OF DAKAR

FATIMA, A ARGELINA DE DAKAR

 

"No verão de 1957, nas montanhas argelinas, o segundo tenente senegalês Souleyman Fall lidera a seção de comando de elite responsável pela limpeza da área, que supostamente é o lar dos ‘fellaghas’. Ao cair da noite, ele descobre uma menina muito jovem, Fátima, que tenta escapar da emboscada. Ele a estupra. Esta agressão dá à luz um filho de pele muito escura... Souleyman, exortado por seu pai, muçulmano praticante, mas monogâmico convicto, vai a busca de sua ‘irmã no Islã’, Fátima. Nasce uma história de amor improvável e pacífica entre a argelina e o senegalês.

Argélia, Senegal, monogamia, poligamia, negros, norte-africanos... Med Hondo não teoriza sobre o Islã: Fátima, a argelina de Dakar é uma ficção popular que se transforma em um drama humano, simplesmente. O trabalho é inovador e ousado: ele destaca a complexidade e a riqueza de duas grandes correntes culturais geradas no Norte e Oeste da África pelo casamento do Islã sunita com a história "africana negra" do Sul do Saara, um Saara comum onde as culturas se encontram, às vezes entram em choque... Como a heroína de uma tragédia antiga, Fátima é o pivô deste drama, em torno do qual todos os personagens gravitam, e encarna a ligação entre estas duas culturas africanas. Ela revela seu significado profundo, imediato e universal: coragem, dignidade, generosidade, respeito por si mesmo e pelos outros.”

Trecho do folheto promocional de Fatima, l'Algérienne de Dakar, 2004

Fonte: Ciné-Archives

 

MES VOISINS

MY NEIGHBOURS

MEUS VIZINHOS

 

Os trabalhadores africanos falam sobre a vida cotidiana e o racismo nos mercados de trabalho e de moradia em Paris. Meus vizinhos é um fragmento de um projeto documental maior (Bicots-Nègres: vos voisins) com o qual Med Hondo queria explorar as políticas de moradia dos trabalhadores imigrantes em Paris. O filme foi baseado na ideia de uma série de filmes que ele não conseguiu realizar, mas que revela as possibilidades de um cinema de rua semelhante ao Cinema Direto e ao Cine-panfletos. Nunca o estado pós-colonial do mundo foi resumido de forma tão sucinta como na animada sequência de fechamento.

Digital Restoration Arsenal – Institut für Film und Videokunst, Berlim.

 

POLISARIO, UN PEUPLE EN ARMES

POLISARIO, A PEOPLE IN ARMS

POLISARIO, AS ARMAS DE UM POVO

 

Este filme é um testemunho. As imagens e sons gravados ao longo da luta do povo saharaui testemunham seu desejo de viver livremente em seu próprio país, enquanto colocam o "problema saharaui" em seu verdadeiro contexto. Como uma ex-colônia espanhola com considerável riqueza, o Saara Ocidental, como muitos países africanos, deveria conquistar a independência de acordo com as resoluções das Nações Unidas. A cegueira colonial e a procrastinação política levaram a uma maior tomada de consciência por parte da população. Um movimento nacional, a Frente Polisario, foi criado em 10 de maio de 1973. Em 20 de maio, a luta armada foi lançada. A ambição dos vizinhos foi manifestada durante a morte de Franco na Espanha. Desde 1975, as coisas mudaram com a criação da República Democrática Saharaui e a existência de "zonas libertadas". Os soldados marroquinos se instalam nas cidades. A Mauritânia sai da guerra e reconhece a Frente Polisario. Era importante testemunhar este evento. A causa do povo saharaui é justa. Os momentos passados com eles mostram sua determinação em viver em casa.

 

SARRAOUNIA

Sarraounia é baseado em um evento real. O filme conta a história da sangrenta expedição da coluna Voulet-Chanoine que devastou toda uma região do Níger em 1899. É uma das páginas mais sinistras da epopeia colonial francesa. Sarraounia, uma jovem rainha africana, resistiu ao corpo expedicionário francês.

A rainha Sarraounia existiu e sua história foi fielmente relatada por griôs nigerianos e historiadores da mais pura tradição africana. Abdoulaye Mamani inspirou-se nela para escrever seu romance, Med Hondo para fazer seu filme.

Grand prix Étalon de Yennenga no 10o Festival Pan-Africano de Ouagadougou (Fespaco), o "primeiro grande filme épico da África Negra" (Le Monde, 26 de novembro de 1986) foi lançado em 1986 na França e exibido por apenas três semanas, apesar de uma petição assinada por Sembène Ousmane, Souleymane Cissé e Bertrand Tavernier. O filme foi relançado em 1992.

Em 2021, o Harvard Film Archive em colaboração com o Ciné-Archives está restaurando o filme no laboratório Lumières Numériques em Lyon.

 

WEST INDIES, LES NÈGRES MARRONS DE LA LIBERTÉ

West Indies são as Antilhas, primeiro as espanholas, depois as inglesas, francesas e holandesas, antes que Haiti e Cuba, entre outros, ganharam sua independência. O filme pode ser apresentado como um musical político. Encenada em uma sucessão de quadros, com uma estética teatral vigorosa, e usando a linguagem crioula como elemento essencial, é a história do povo das Antilhas que é contada, desde o século XVII até os dias de hoje: a ação acontece em um navio negreiro e é contada através de canções e balés, evocando tanto o passado, quanto o presente, esse outro "comércio" que trouxe milhares de homens e mulheres que se tornaram imigrantes na Europa, a fim de escapar da miséria.

West Indies é uma sátira contra a colonização francesa nas Antilhas e na África, um tema caro a Med Hondo. Filmado nas fábricas de Citroën em desuso no Quai de Javel em Paris, um poderoso símbolo da exploração da mão-de-obra da classe trabalhadora durante várias gerações, o filme revela um dispositivo cênico óbvio. Uma distância é estabelecida, dando força ao propósito do filme, lembrando a teoria de Brecht, que é cara ao cineasta.

West Indies foi apresentado em muitos festivais, mas foi desclassificado em alguns eventos por conteúdo "subversivo". O filme foi exibido na abertura do Festival de Veneza e no Festival de Montreal em 1979

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