"Homens em Carvão" - Masculidade refletida e livro





 O projeto "Men in charcoal" convocou voluntários na internet para que fizessem parte de um livro sobre homens e suas masculinidades. Alguns artistas se uniram à proposta e também posaram para o idealizador da ideia: Wilton Oliveira.

 

Existem muitos projetos inovadores que surgem na internet e o “Men in Charcoal” é um deles. Sucesso no Instagram ao retratar diferentes homens e suas visões sobre a masculinidade, a proposta sai das redes para se tornar um livro de verdade.

 

O artista Wilton Oliveira (o Will) lançou uma pergunta nas redes em 2020 e as respostas revelaram a sensibilidade de homens de todo o país: O que é ser homem pra você?

 

Essa provocação gerou curiosidade de modelos voluntários de Brasília, Goiás, São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco e outros estados do Brasil, além de países como Espanha, Estados Unidos, França, México e Turquia. Muitos deles se despiram para serem retratados através dos desenhos em carvão de Will. São sujeitos brancos, pretos, cis, trans, gordos, magros, atléticos, afeminados ou masculinizados. Eles ensinam significados do que é ser homem e das diferentes masculinidades. As ilustrações começaram a circular pelas redes e o projeto foi ganhando dimensões maiores. Um dos desenhos chegou a fazer parte de uma exposição no Nepal -  a Nepalian Art.




 

O “ARTBOOK – Homens em Carvão” (Men in Charcoal em inglês) é um livro de arte/protesto. Uma tentativa de desconstruir o padrão do que o que é ser homem nos tempos atuais. Além dos retratos e reflexões de cada modelo sobre o que é ser homem, o livro conta também com pequenos aprendizados sobre a masculinidade frágil, sobre a diversidade dos corpos dos homens e sobre como é trabalhar com o carvão ao longo do ano.

 

Para o início da ação, foi realizada uma chamada aberta em vídeo pelo Instagram. A chamada durou todo o mês de abril de 2020 e resultou em 85 selecionados, inicialmente. Houve uma dificuldade em encontrar modelos com diferentes biotipos. Para manter a diversidade no projeto, alguns modelos foram convidados diretamente. A nudez não foi obrigatória no projeto. Porém, mostrar o corpo nu tem sido mais interessante porque dialoga com a ideia de desconstrução dos padrões e do conservadorismo.

 

Por que e desenhos com o carvão?

“Porque, assim como o homem, ele sente. O carvão entende meu estado de espírito e me ajuda a criar uma conexão com cada modelo. O resultado é sempre diferente porque a energia do momento é única. Foram meses trabalhando e me redescobrindo com esse material. Quase que diariamente enfrentei o desafio de representar uma outra pessoa. Vocês já pararam para pensar na expectativa que a gente gera nos outros e em nós mesmos quando retratamos alguém? E se essa expectativa não for atingida? Apesar dessa ‘batalha’ entre expectativas externas e internas tem sido uma experiência incrível.”

 

O próprio ilustrador já foi desenhado nu por outros artistas nos projetos. Essa troca de funções entre modelo e ilustrador tendem a deixar o trabalho mais humanizado. A experimentação e o frisson se mantêm presentes nessa troca de saberes. Outros artistas de diferentes linhas de trabalho posaram para o “Men in Charcoal”, como o goiano Helder Amorim e o paulistano Fabio Lopes, além de outros nomes como Antonio Goper, Yuri Amaral, Chico Tomáz, Hugo Faz, Josuel Junior, Julio Leão e Ubiratan Oliveira.

 

E como tem sido esses quase 9 meses trabalhando com os desenhos?

“Pelas minhas contas já acumulei quase 300 horas de produção e tenho enxergado uma melhora significativa no processo de desenho. Além disso, diariamente são feitas reflexões sobre os privilégios e dores que a palavra “homem” carrega. Ao mesmo tempo que ela diminui o assédio sexual me permitindo, por exemplo, andar ser camiseta por aí, me impede de SENTIR plenamente. Ao homem é esperado que seja pouco sensível e que performe o tempo todo. Com esse projeto aprendo constantemente e vejo que problemas com relação a aceitação do corpo dos homens é mais comum do que se pensa.”




 

A campanha para impressão do livro físico que teve início em 1° de dezembro do ano passado já tem mais de 88% da meta pré-estabelecida na plataforma de financiamento coletivo -  R$20.690,00.  As pessoas que contribuírem terão recompensas, que vão desde o livro até a participação como um dos modelos em carvão. O financiamento coletivo está na modalidade TUDO OU NADA. Isso significa que se a meta não for batida em até 60 dias, todo o valor é devolvido para os colaboradores de forma automática.

 

Restam pouco mais de duas semanas para o fim da campanha. Quem quiser acompanhar o projeto é só entrar no instagram @menincharcoal ou no site da campanha:

 https://www.catarse.me/menincharcoal

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