Fachadas de prédios no Minhocão recebem projeções da insurreição feminina: mulheres, suas imagens, frases e performances estampadas em enormes empenas da cidade
Com concepção da diretora Eliana Monteiro, o Empenas Femininas tem imagens projetadas em fachadas (empenas) no entorno do Minhocão, nos dias 12 e 13 de dezembro, durante as 24 horas da 16ª Virada Cultural
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Empenas Femininas - Fachadas de prédios no centro da cidade de São Paulo viram monumentos às mulheres, ainda que temporários |
“Há décadas mulheres lutam pelos seus direitos, para
saírem dos soterramentos a que foram submetidas. Este projeto é uma insurreição
feminista que sinaliza a inversão de valores do patriarcado, em que
vítima se torna ré - evidenciado em caso recente de estupro veiculado na
imprensa”. Eliana Monteiro
Para discutir as relações de invisibilidade,
de sobrecarga e de desigualdade de poder femininas -
agora em tons mais fortes por causa da pandemia - a artista Eliana Monteiro,
diretora do Teatro da Vertigem, concebeu o Empenas Femininas, projeto
que abrigará performances próprias e de outras artistas durante a 16ª edição da
Virada Cultural de São Paulo, que este ano acontece de forma virtual e
presencial, a partir das 18h do dia 12 de dezembro até as 18 horas do dia 13 de
dezembro, em 24 horas ininterruptas.
As obras serão estampadas em seis fachadas (empenas) de
prédios no entorno do Elevado João Goulart - Minhocão, próximo à Rua da
Consolação, e serão formadas por imagens que retratam mulheres - suas imagens,
frases e performances. As projeções acontecerão entre meia-noite e seis da
manhã - horário que as mulheres geralmente não podem existir fora de suas
casas, já que a sociedade impõe este “toque de recolher” para não correrem o
perigo da violência. Será possível também acompanhar a transmissão no canal do
YouTube do projeto “Mulheres em Quarentena”.
As imagens que compõem as projeções do Empenas Femininas
são:
“Resultante Peso” são imagens das performances
de mulheres muito acima do peso, as que ‘não cabem em lugar
nenhum’, figuras femininas gordas performando apesar de sua peso corporal. A
ideia é que essas projeções sejam monumentos, ainda que temporários, erguido às
mulheres gordas, àquelas que a sociedade considera fora de um padrão estético.
Este projeto tem curadoria de Bruna Menezes e Danielle Meireles.
“Mulheres em Quarentena” é um canal no Youtube,
mantido pela diretora Eliana Monteiro e por Bruna Lessa, que exibe o resultado
das pesquisas sobre a mulher nesse período pandêmico e de extrema sobrecarga às
mulheres.
E o que Restou do Barro Silenciou a Mulher reúne seis artistas com seus rostos silenciados pelo barro, que vão se ‘decompor’ por pingos de água, durante as 24 horas da Virada Cultural.
“E o que Restou do Barro Silenciou a Mulher”, ação
inédita, traz seis performers de variadas idades, regiões, etnias e condições
sociais, a partir de suas próprias casas, com as cabeças cobertas por
argila, recebendo pingos de água constantes, fazendo com que essa “máscara”
se desmanche durante a performance, que dura quatro horas. Dos seis artistas,
quatro estarão em um galpão, na Zona Norte de São Paulo, outro em João Pessoa
(PB) e outro em Manaus (AM). Essas imagens, em tempo real, serão projetadas nas
empenas. Esse projeto tem concepção de Eliana Monteiro, curadoria de Bruna
Lessa e dramaturgia de Lucienne Guedes.
“Insuflação de uma morte crônica” é a
performance idealizada e realizada por Bruna Lessa, que durante 14 dias
encheu 100 mil bexigas pretas - dentro de seu apartamento -
como metáfora dos 100 mil mortos pela pandemia. Foram milhares de bexigas
cheias de ar dos pulmões, ícone de órgão humano que a pandemia debilitou. Essa
performance deu origem a um vídeo de cerca de 10 minutos, que vai ocupar também
as empenas do entorno do Minhocão na Virada Cultural. Este projeto tem concepção
de Bruna Lessa.
Durante a pandemia - e o consequente isolamento social -
todos fomos colocados em estado de “suspensão social”, o que trouxe
transformações domésticas e profissionais. Parcelas da população já vulneráveis
ficaram ainda mais expostas. As restrições atingiram ainda mais as mulheres,
responsáveis quase que em sua totalidade pelos cuidados da casa e dos
familiares, e, muitas vezes também, pelo provento financeiro do lar.
E o que Restou do Barro Silenciou a Mulher reúne
seis artistas com seus rostos silenciados pelo barro, que vão se ‘decompor’ por
pingos de água, durante as 24 horas da Virada Cultural.
Mais sobre a performance “E o que Restou do
Barro Silenciou a Mulher”
As seis artistas atuarão uma em seguida da outra,
totalizando 24 horas de ação, que será acompanhada pelo som de uma espécie de
rádio especialmente criada, com matérias, artigos, áreas de óperas cujas
personagens femininas morrem no final, poemas e spoken word, notícias e outros
materiais sonoros que tratarão do mesmo tema, oferecendo um panorama histórico
amplo do silêncio imposto e da violência cometida contra as mulheres.
Ao final das quatro horas de performance, já com a argila
desmanchada, as integrantes começarão a falar, individualmente, sobre vários
assuntos que foram calados em suas vidas pessoais e também de pessoas próximas
e conhecidas, desmanchando o barro de seus rostos.
A performance traz à tona uma resposta ao silêncio imposto
às mulheres, seja no âmbito público e regulamentado ou mesmo nos ambientes mais
privados como os das relações familiares. Houve um aumento considerável nos
casos de violência doméstica e abuso sexual nos últimos meses, revelando que
para muitas mulheres o perigo está dentro de suas próprias casas.
Segundo Eliana, o objetivo da performance é “construir
paisagens onde possamos compartilhar sentimentos através da arte de maneira
performática. A arte em todas as suas formas amplifica o ativismo e facilita a
transmissão de mensagens e informações importantes, o que pode compensar a
falta ou manipulação de narrativas oficiais. Nesse momento onde os espaços
cívicos diminuíram, a arte pode oferecer um local para que as artistas ampliem
seus movimentos e apoiem seus trabalhos. Os espaços imaginativos que a arte
oferece podem ultrapassar as barreiras tradicionais que os governos podem
erguer na tentativa de impedir o ativismo da sociedade civil”.
Minibios
Eliana Monteiro
Mestranda em artes cênicas na ECA - USP. Formada em artes
cênicas pela Universidade São Judas, em interpretação pela Escola Superior de
Teatro Célia Helena, e em direção pela Escola Livre de Santo André. Encenadora
e orientadora artístico-pedagógica de escolas e grupos de teatro. Integra o
grupo Teatro da Vertigem desde 1998.
Bruna Lessa
Graduada em cinema com Pós-Graduação em Roteiro
cinematográfico pelo SENAC São Paulo, trabalha como diretora, roteirista,
montadora e produtora audiovisual para cinema.Em 2012 fundou a BRUTA FLOR
FILMES, produtora independente que trabalha na produção de filmes e atua na
cena cultural de são Paulo com grupos de teatro, música e artistas visuais.
Lucienne Guedes Fahrer
Dramaturga, atriz, diretora, professora e pesquisadora. É
graduada e doutora pela USP, atriz fundadora do Teatro da Vertigem, grupo com o
qual realizou os espetáculos O Paraíso Perdido (1992), Apocalipse 1,11 (2000),
A Última Palavra é a Penúltima 2.0 (2014), Enquanto Ela Dormia (2017), entre
outras colaborações.
Danielle Meireles
Natural de Osasco, SP, possui múltiplas vivências no meio artístico
que se iniciaram ainda na infância. Frequentou instituições como EMESP (Escola
de Música do Estado de São Paulo), lugar que propiciou os primeiros contatos
com os palcos da cidade, graduou-se em Comunicação Social- Rádio e Televisão
com especialização em Roteiro pela Universidade Anhembi Morumbi, Fotografia no
Centro Paula Souza e iluminação cênica pela SP Escola de Teatro.
Bruna Menezes
Graduada no curso de Letras pela Universidade Federal de São
Paulo, formada em dramaturgia pela Sp escola de Teatro e residência artística
no Núcleo de Dramaturgia do Sesi. É dramaturga e dramaturgista. Atuou como
assistente de dramaturgismo na peça “O Filho” - Teatro da Vertigem com direção
de Eliana Monteiro.
Serviço
Empenas Femininas na 16ª Virada Cultural
Projeções a partir das 18 horas do dia 12 de dezembro até
18h do dia 13 de dezembro
Local: fachadas de prédios no entorno do Elevado Presidente
João Goulart (antigo Elevado Costa e Silva). Grátis
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