Musical ‘Bertoleza’ dá voz a mulheres negras silenciadas no Brasil


Crédito: Marcelo MartinA atriz Lu Campos interpreta a protagonista da peça e o ator Bruno Silvério, o ganancioso João Romão

 Sucesso de crítica e de público, musical "Bertoleza", inspirado em "O Cortiço", faz temporada presencial e online no Teatro Arthur Azevedo em novembro. Com direção de Anderson Claudir, adaptação inverte o protagonismo na obra de Aluísio Azevedo e é estrelado por Lu Campos. Fotos: Marcelo Martin

Após uma temporada de sucesso no Sesc Belenzinho, o musical "Bertoleza", da Gargarejo Cia Teatral, faz três apresentações presenciais no Teatro Arthur Azevedo nos dias 13, 20 e 27 de novembro, às sextas-feiras, às 21h, celebrando o Mês da Consciência Negra. A peça também será transmitida online por meio das redes sociais do grupo (Facebook @gargarejociateatral e Instagram @gargarejocia).

Para garantir a segurança da equipe e dos espectadores, o teatro vai seguir as orientações das autoridades sanitárias. Por isso, a capacidade de público foi reduzida para 50 pessoas. Além disso, o uso de máscara é obrigatório durante todo o período de permanência no espaço. Os ingressos são gratuitos e para reserva-los é preciso preencher um formulário disponível sempre nas segundas-feiras anteriores às apresentações nas redes sociais do grupo (Facebook @gargarejociateatral e Instagram @gargarejocia).



A montagem, com adaptação, direção e músicas de Anderson Claudir, que também assina a dramaturgia ao lado de Le Tícia Conde, é inspirada no livro "O Cortiço", clássico naturalista de Aluísio Azevedo. Mas, desta vez, o público conhece a história sob ponto de vista da Bertoleza, uma mulher negra que é tão importante para a construção do romance quanto o próprio João Romão, o protagonista original. 

Na trama, o oportunista Romão propõe uma sociedade à escrava Bertoleza, prometendo comprar a alforria dela. Eles começam uma nova vida juntos e constroem um pequeno patrimônio formado por um enorme cortiço, um armazém e uma pedreira. Depois de acumular capital considerável, o ambicioso João Romão já não sabe mais como se tornar mais rico e poderoso. Envenenado pelo invejoso Botelho, ele decide se casar com Zulmira, a filha de Miranda, um negociante português recentemente agraciado com o título de barão. Mas, para isso, precisa se livrar da amante Bertoleza, que trabalha de sol a sol para lutar pelo patrimônio que eles construíram juntos.

Para a companhia, o grande desafio foi fazer com que uma narrativa do século 19 questionasse e problematizasse as relações criadas nos dias de hoje. Por isso, o projeto iniciado em 2015 foi ganhando novos contornos. “Quisemos investigar uma identidade brasileira que vem da diáspora africana e pensar em como isso nos afeta artisticamente. Assim, podemos criar novos signos para essa geração e dar uma voz para essa terra periférica”, conta Claudir. 




No processo, o coletivo procurou a força da figura de Bertoleza em outras mulheres negras brasileiras negligenciadas pela História. Durante a encenação, o elenco relembra as histórias dessas mulheres, como a vereadora Marielle Franco, militante da luta negra assassinada em março de 2018; a escritora Carolina Maria de Jesus, famosa pelo livro "Quarto de Despejo: Diário de Uma Favelada"; a jornalista e professora Antonieta de Barros, defensora da emancipação feminina que foi apagada dos livros de História; a escritora Maria Firmina dos Reis, considerada a primeira romancista brasileira; e a guerreira Dandara, que viveu e lutou no período colonial.

A protagonista do espetáculo é interpretada pela atriz Lu Campos. O elenco fica completo com Anderson Claudir (Botelho), Taciana Bastos (Zulmira), Bruno Silvério (João Romão) e com os integrantes do coro Ananza Macedo, Cainã Naira, Palomaris, David Santoza, Edson Teles, Gabriel Gameiro e Matheus França. A direção musical é assinada por Eric Jorge; a dramaturgia por Le Tícia Conde e Anderson Claudir; e a direção de movimento, por Emílio Rogê. 

Relação profunda entre vida e obra
Para Lu Campos, interpretar Bertoleza tem um significado ainda mais profundo. No processo desde 2015, ela conta que vivenciou um chamado ancestral em 2017: suas antepassadas maternas deram-lhe a missão de quebrar o ciclo de opressão vivenciado por sua família desde os tempos de escravidão. “Espero que as mulheres pretas se sintam bem representadas na peça e a partir disso, busquem seus lugares de protagonismo nos variados âmbitos da vida”, conta. 

Para a atriz, estar nesse processo contribui para a sua expansão de consciência. Em busca de mais respostas sobre sua ancestralidade, ela também cursou a pós-graduação em Matriz Africana pela Facibra/Casa de Cultura Fazenda Roseira. “As pessoas precisam perceber quão rica e diversificada é a matriz africana, por isso ela deve ser resgatada e valorizada. Afinal, a África é o ventre do mundo”, emociona-se.






Sobre a Gargarejo Cia Teatral
Formada por uma equipe focada na perspectiva étnico-racial para aquilombar e empretecer saberes, a Gargarejo Cia. Teatral conta com artistas de diversas áreas, como artes plásticas, dramaturgia, artes cênicas, direção, cenografia, musicalidade e produção. A companhia teve início em 2014, em Campinas, em parceria com renomadas instituições da região, como a Universidade de Campinas (Unicamp), o Conservatório Carlos Gomes, a Estação Cultura de Campinas, as Prefeituras de Campinas, Sumaré e Vinhedo e o Lar dos Velhinhos de Campinas.

O coletivo está interessado em produzir arte popular, focado em uma perspectiva étnico-racial e refletindo sobre colonização versus identidade. Articulando a vivência periférica na cena como protagonista. Em 2015, iniciou uma pesquisa sobre "O Cortiço", que resultou na microcena Bertoleza - uma pequena tragédia: ponto de partida para o processo de investigação que, em 2019, completa quatro anos. Em 2017, o grupo se estabelece na cidade de São Paulo e, durante esse período, realiza diversas experimentações cênicas e musicais, propõe leituras, debates, rodas de conversa e apresentações das canções.




Sinopse
Adaptação musical de "O Cortiço", de Aluísio Azevedo, obra clássica da literatura naturalista brasileira, em que o protagonismo é invertido. A voz agora é de Bertoleza: mulher, negra e escravizada que se relaciona com João Romão, um português ambicioso e oportunista. Bertoleza é o dedo na ferida, é o nó expulso da garganta, a voz que pergunta: e a Bertoleza?

Ficha técnica
"Bertoleza", da Gargarejo Cia. Teatral  
Direção e adaptação: Anderson Claudir.
Dramaturgia: Le Tícia Conde e Anderson Claudir.
Direção musical: Eric Jorge.
Elenco: Lu Campos, Anderson Claudir, Ananza Macedo, Cainã Naira, Palomaris, Taciana Bastos, Bruno Silvério, David Santoza, Edson Teles, Gabriel Gameiro e Matheus França.
Diretor de movimento: Emílio Rogê.
Assistente coreográfica: Taciana Bastos.
Preparação vocal e assistência de direção musical: Juliana Manczyk.
Coordenadora de produção: Cláudia Miranda.
Produção executiva: Andréia Manczyk.
Cenografia e figurino: Dan Oliveira.
Assistente de cenário e figurino: Gabriela Moreira.
Produção de figurino: Victor Paula & Rangeu.
Visagismo: Victor Paula.
Iluminação: Andressa Pacheco.
Assistente iluminação: Stella Pollitti.
Vídeo: Aline Almeida.
Técnico de palco: Maria Clara Venna.
Assessoria de imprensa: Agência Fática.

Serviço
"Bertoleza", da Gargarejo Cia. Teatral
Teatro Arthur Azevedo - Avenida Paes de Barros, 955 - Mooca.
Temporada: dias 13, 20 e 17 de novembro, às sextas, às 21h.
Transmissão onlinepelo Facebook @gargarejociateatral e Instagram @gargarejocia.
Ingressos para assistir presencialmente: grátis (limitados à 50 lugares)| Faça a reserva por meio de um formulário disponível todas às segundas anteriores às apresentações nas redes sociais do grupo Facebook @gargarejociateatral e Instagram @gargarejocia.
Duração: 90 minutos.
Recomendação etária: 12 anos.
Capacidade: 50 lugares.

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