Monteiro Lopes - o deputado negro que lutou em prol trabalhadores



Por Profº. Drº Babalawô Ivanir dos Santos 

O silenciamento sobre o protagonismo de homens e mulheres negras, nas construções social e política do Brasil, está ligado não só ao desconhecimento das fontes, mas também nos processos de invisibilidade socais cotidianas a qual todos e todas nós passamos. Na data de hoje, antes de pensar em sua instituição no calendário oficial do Estado brasileiro, quero pedir a você que dediquei alguns minutos sobre os brevíssimos apontamos históricos que irei fazer sobre um personagem negro. Bom, se comemoramos o 1 º de maio, voltando os nossos olhos para a luta coletiva em prol da garantia dos direitos trabalhistas é porque "alguém" ou "um grupo" que ousou a olhar para a situação dos trabalhadores e se propôs a estar lado a lado nesta longeva luta social e política. 

Babalawo Ivanir dos Santos 

E aqui no Brasil esse "alguém", ainda no século XIX, era Manoel da Motta Monteiro Lopes, o primeiro deputado federal, que se autodeclarava negro e socialista, sempre se manteve um voltado para as políticas discurso afirmativo do país. Monteiro Lopes, que nasceu na cidade de Recife, capital de Pernambuco, em 1867, filho de um casal negro livre ou liberto. De acordo com o historiador Petrônio Domingues, o nome de seus pais seriam Jerônimo da Motta Monteiro Lopes e Maria Egiphicíaca de Paula Lopes. Formado pela Faculdade de Direito do Recife, Lopes atuou, em 1892, como Promotor Público, no Amazonas. Segundo o pesquisador Juarez Silva Jr "Monteiro, Lopes foi precursor nas proposituras de legislação trabalhista brasileira, como a jornada de oito horas, seguros e pensões por acidentes trabalhistas e o 1° de maio como Dia do Trabalhador, daí boa parte de sua popularidade. 
Antes disso, ainda segundo Juarez, o deputado negro ganhou celebridade pelas resistências impostas às suas candidaturas e principalmente posse (mesmo tendo recebido os votos necessários), já que era negro, não um “mulato esmaecido”, mas um “ preto retinto”. Diante da recusa da sua candidatura, por ser "um homem de cor", em 15 de fevereiro de 1909, Lopes se reuniu com um grande grupo de homens negros no Centro Internacional Operário para tratar da sua possível exclusão da Câmara de Deputados. Entretanto, os presentes na reunião deliberaram a solicitação de apoio às corporações, aos sindicatos, à imprensa da cidade, às organizações compostas por homens negros em todo o país, e convocar um “estrondoso comício”. 
Dando início a uma grande mobilização de entidades formadas por homens negros na cidade do Rio, em Campinas (SP) e arredores, em várias cidades do Sul do país, na Bahia e em Pernambuco. Já a historiadora Carolina Dantas, ponta que o referido político "manteve contato com associações negras fora do Rio, como a Federação Paulista dos Homens de Cor, o Colégio São Benedito, e com lideranças negras e operárias". Formando assim uma rede de sociabilidades dialogando com intelectuais, políticos, operários e associativistas, exercendo assim uma dupla militância. Ainda segundo Dantas, "essa pista nos indica que muitos trabalhadores se identificaram com Monteiro Lopes em função de afinidades étnico-raciais, até porque muitos desses ofícios e associações reuniram grande contingente de trabalhadores negros". Enfim, no dia 1° de maio de 1909, após as reverberações da campanha, Monteiro Lopes foi empossado. Assim, Monteiro Lopes, o deputado negro, rompe com os processos e tentativas de invisibilidades históricas e torna-se de forma coletiva, protagonista de sua própria história.

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