Espetáculo de dança 'Dos Prazeres' em curta temporada no CRD

Espetáculo de dança Dos Prazeres propõe afirmação da cultura brasileira a partir da obra do artista plástico Heitor dos Prazeres

Sete intérpretes dançam coreografia minimalista que parte da obra de Heitor dos Prazeres para pensar questões sociais e políticas do país. O trabalho ganha camadas ao unir no elenco intérpretes originais da companhia a novos bailarinos

Dos Prazeres. Foto de Hernandes de Oliveira

A condição dos povos excluídos, a investigação do sujeito anônimo e a possibilidade de levá-lo a um nível visível são propostas do E² Cia de Teatro e Dança que estão presentes no espetáculo Dos Prazeres, dança criada a partir de referências do artista plástico e sambista Heitor dos Prazeres (1898 —1966) que faz temporada no Centro de Referência da Dança entre 11 e 19 de setembro de 2019. A direção de arte é de Hernandes de Oliveira e a coreografia e direção geral são de Eliana de Santana.
Em cena, o público se depara com um chão repleto do brilho e da fragilidade de confetes de papel, indicando um período pós-carnaval. Há um contraste com a parede escura e com uma luz branda. Os figurinos são brilhantes, compondo junto com o confete uma espécie de memória do carnaval clássico. A referência, que situa também o período de atividade artística de Heitor dos Prazeres, é o carnaval de salão. A trilha sonora se alterna entre sambas de Heitor, marchinhas, trilhas incidentais de pessoas conversando e até mesmo um espaço para o diálogo com Heitor Villa-Lobos,  cânone da música erudita brasileira que tem lugar à cena por partilhar do mesmo nome que Heitor dos Prazeres.
No processo de criação das obras do núcleo, os elementos cênicos nascem junto da coreografia, em uma composição que caminha lado a lado e se desdobra em todas as etapas. Sobre essa escolha, Eliana de Santana comenta: “Tudo que está em cena tem sua própria corporeidade, é um espaço, uma camada para ser observada”. Para a artista, Dos Prazeres não é uma dança biográfica ou restrita ao conteúdo da obra de Heitor dos Prazeres – trata-se de uma obra a partir de suas temáticas e de diversas referências que se desdobraram a partir delas, sejam objetivas ou abstratas.
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“Eu sou o povo, eu sou um homem do povo. Vejo esse povo que transporto pros meus quadros como sinto. Não há nada mais sublime que viver na massa do povo” – Heitor dos Prazeres.
 Em suas obras, Heitor pintou homens e mulheres com o rosto de lado, os olhos levemente voltados ao céu, como se esperassem ver algo novo e radiante. Esse contraste entre festa e dor, divino e corpóreo, propõe ao núcleo uma reflexão sobre a condição de seres excluídos e anônimos.
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O trabalho é um desdobramento de uma obra que a companhia dançou em 2010. A remontagem chega modificada por atualizações nos elementos cênicos e no elenco. Da formação original, estão Eliana, Hernandes, Daniel Kairoz (trilha sonora) e Lilian Wiziack (intérprete). Os intérpretes novos são Suiá Burger Ferlauto, Ana Musidora, Odete Machado, Thais Elvira e Thiago Soares.  “Mais do que uma remontagem, é uma sequência da nossa obra, um desenvolvimento de linguagem”, conta Hernandes de Oliveira, diretor de arte.
“O trabalho, pensado para os dias que vivemos hoje, afirma positivamente o Brasil e a nossa cultura, mesmo que de uma maneira abstrata e contemporânea”, diz Eliana. A coreografia de Dos Prazeres, segundo a artista, é vigorosa, mas também mínima. Eliana trabalha no corpo dos intérpretes uma dança de suspensão, sem se preocupar com a virtuose. “Trabalhei muito tempo com o expressionismo e agora estou em um lugar de trabalhar com menos, o que não torna essa dança fácil”, comenta.
Eliana ressalta que interessa ao núcleo trazer a memória de outros tempos para os dias de hoje, compreendendo quais são as leituras possíveis que podem ser feitas a partir dela, como essa memória nos afeta e o que fazemos quando afetados por ela. “Trabalhamos com o conceito de um tempo esgarçado, diluído, que exige muita maturidade na interpretação para poder acontecer na cena, o que tem gerado uma interação muito peculiar entre nós, do núcleo, e os novos intérpretes”, complementa a artista.
O E² Cia de Teatro e Dança atua desde 1996 na cidade de São Paulo e, sob direção de Eliana de Santana, tem como base da pesquisa a investigação no corpo e na cena das poéticas ligadas à temática do sujeito anônimo. O ponto de partida para diversas ações são as referências/inspirações na literatura brasileira e obra de diversos artistas visuais. Em 2011, com o espetáculo ...e das outras doçuras de deus, Eliana de Santana recebeu o Prêmio APCA na categoria Intérprete Criador em Dança.
 
SINOPSE
A peça de dança Dos Prazeres busca referência na obra de Heitor dos Prazeres, artista do samba e pintor que adotou o anônimo como temática para suas pinturas – pesquisa que vem ao encontro dos anseios do E² Cia de Teatro e Dança. O núcleo se debruça sobre a obra de artistas que têm como temática uma visível complexidade estrutural e poética. Nesta obra, os artistas buscaram ressaltar a compreensão de Heitor dos Prazeres sobre a história do povo brasileiro, da mistura de raças e da complexidade étnica.

FICHA TÉCNICA
Direção geral: Eliana de Santana
Intérpretes: Eliana de Santana, Lilian Wiziack, Suiá Burger Ferlauto, Ana Musidora, Odete Machado, Thais Elvira e Thiago Soares.
Direção de arte, iluminação e cenografia: Hernandes de Oliveira
Trilha sonora: Daniel Kairoz
Produção: Corpo Rastreado / E² Cia de Teatro e Dança

SERVIÇO
Dos Prazeres

Dias 11, 12, 13 (quarta, quinta e sexta-feira), 14, 18 e 19 (sábado, quarta e quinta) de setembro de 2019, às 19h
CRD – Centro de Referência da Dança
Galeria Formosa Baixos do Viaduto do Chá s/n
Capacidade: 50 lugares (Sala Cênica)
Duração: 45 minutos
Ingressos: Grátis
Classificação indicativa: 14 anos

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