Terrenal - Pequeno Mistério Ácrata reestreou no CCSP

TERRENAL - PEQUENO MISTÉRIO ÁCRATA
REESTREIA NO CCSP
 
História de Caim e Abel é mote do texto do dramaturgo argentino Mauricio Kartun; montagem brasileira tem direção de Marco Antonio Rodrigues

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Com direção de Marco Antonio Rodrigues e texto do argentino Mauricio Kartun, a tragicomédia conta com Danilo Grangheia, Dagoberto Feliz, Celso Frateschi e Demian Pinto no elenco.

Em cartaz em Buenos Aires há quatro anos, peça que traz o mito bíblico de Caim e Abel aos dias atuais, já foi assistida por mais de 65 mil espectadores.

Baseado na história bíblica de Caim e Abel, dois irmãos que vivem às brigas competindo tanto pela atenção do “pai” quanto pela propriedade, é o argumento de Terrenal - Pequeno Mistério Ácrata, sucesso de público e críticas, que reestreou em 11 de janeiro, na sala Jardel Filho, no Centro Cultural São Paulo e fica em cartaz até 24 de fevereiro. A direção é de Marco Antonio Rodrigues, com tradução de Cecília Boal e um elenco composto por Celso Frateschi, Danilo Grangheia, Dagoberto Feliz e Demian Pinto, que faz a trilha ao vivo no espetáculo.
Por meio de uma linguagem cênica que prioriza a comicidade, a tragicomédia e a metateatralidade, Terrenal poetiza sobre a história de ódio entre dois irmãos, e aponta, em um pano de fundo, conflitos sociais. O texto bíblico do livro de Gênesis narra o que é considerado o primeiro assassinato do mundo, mas Kartun aproveita este mito e vai além – usa esta potência do conflito para falar de assuntos contemporâneos que envolvem justiça, riquezas e visão de mundo. Aliás, com muito merecimento, a questão tem aparecido em outras searas artísticas, como o emblemático livro “Caim”, de José Saramago, da Companhia das Letras, que nas palavras de Juan Arias, jornalista e escritor, “(...) é também um grito contra todos os deuses falsos e ditadores criados para amordaçar o homem, impedindo-o de viver, em total liberdade, sua vida e seu destino”.




Na montagem dirigida por Marco Antonio Rodrigues, os atores são artistas populares que encenam um espetáculo sobre Caim e Abel. Com recursos circenses, essa metateatralidade aponta para metáforas contemporâneas de nossa sociedade, como um Caim (interpretado por Eiras na versão brasileira) fixado em sua terra, acumulador de bens e moral. Já Abel (Grangheia) é o nômade, sem muitas ambições além de ‘pastorear’ suas minhocas, é o paradoxo do irmão. Tata (Frateschi) é o pai de ambos, dual, carrega em si o caráter libertário e opressor, é aquele que os abandonou por 20 anos, mas também é aquele que volta e festeja.
O texto original é de Mauricio Kartun - considerado um dos mais importantes dramaturgos da Argentina e uma referência no teatro latino-americano. Com mais de quatro décadas de carreira, desde sua estreia, com Civilización… ¿o barbarie? (1973), o artista tem realizado trabalhos marcados pelo compromisso com a atualidade política de seu país, além de um texto que flerta com a mitologia clássica. Terrenal foi traduzido para o português por Cecília Boal, viúva de Augusto Boal, principal liderança do Teatro de Arena (SP) na década de 1960, criador do teatro do oprimido, metodologia internacionalmente conhecida que alia teatro e ação social.


Desde a sua estreia em terras portenhas em 2014, Terrenal tem se mostrado um fenômeno da cena teatral independente da argentina. São mais de 65 mil espectadores e dezenas de premiações, como os argentinos Prêmio de Crítica da Feira do Livro, pelo texto, e o Prêmio da Associação de Cronistas de Espetáculos (melhor obra). O Instituto Augusto Boal é o idealizador e a Associação Cultural Corpo Rastreado e a DCARTE são coprodutoras do espetáculo.

Conflitos em cena
O enredo desta tragicomédia parte da história de dois irmãos que habitam o mesmo terreno, comprado pelo pai. A princípio considerado um ‘paraíso’, o pedaço de terra está situado em uma conurbação urbana. A história se passa em um domingo (dia santo), que marca também vinte anos de sumiço de Tata, o pai, que os abandonou ainda pequenos. O dia começa com os irmãos em conflito: Caim cumpre o mandamento de descansar, enquanto Abel só trabalha justamente aos domingos, vendendo iscas, besouros e minhocas para os vizinhos irem à pesca.
Caim produz pimentões, dedica-se à produção e ao comércio e usa isso como motivo de orgulho para tripudiar sobre o irmão - ele é aquele que em um futuro próximo erguerá cidades cheia de muros para defender o patrimônio. Abel não tem apego à terra, é um nômade sonhador, cultiva o ócio e usufrui das delícias da vida.
 
Primeiras leituras
As ações deste projeto foram iniciadas em maio de 2016 com a leitura de Terrenal, um estudo em torno da tradução. Marco Antonio também dirigiu (em projeto idealizado pelo Instituto Augusto Boal) outra peça, de cunho político-social, de Mauricio Kartun - Ala de Criados - em setembro de 2017.
Quase dois anos depois, foi realizada no Ágora Teatro, uma leitura pública do texto Terrenal, com Celso Frateschi, Danilo Grangheia e Fernando Eiras.





Trocas e somas
Muitos confiam na força do intercâmbio das obras entre os países latino-americanos para a recriação de um campo reflexivo sobre em quais cenários as fronteiras realmente estabelecem muros divisores e em quais são meros traços imaginários. Sendo assim, Terrenal nasce do desejo de contribuir para uma efetiva identificação do Brasil como parte da terra latino-americana, já que os brasileiros, na maioria dos casos, não apresentam uma identidade cultural comum com o resto do continente.
Kartun desenvolve textos que promovem, com latinidade fantástica, debates sociais dos mais intensos. Reconhecido em toda a América Latina como artista singular e exponencial, lançou mais de trinta obras teatrais encenadas em diferentes países, dentre elas El niño argentinoChau MisterixEl partener La casita de los viejos. Entre premiações e menções de honra na carreira ele conta com mais de quarenta citações. Com Terrenal – Pequeno Mistério Ácrata, Kartun permanece em cartaz com casas lotadas há mais de cinco anos na cidade de Buenos Aires (Argentina), cumprindo temporadas de sucesso também na Espanha, Chile e Porto Rico.
O dramaturgo fez parte do grupo teatral argentino El Machete, que encenou em 1973 na extinta Sala Planeta em Buenos Aires a peça Ay, Ay! No hay Cristo que aguante, no hay! adaptação de “Revolução na América do Sul”, com a direção de Augusto Boal.
 
SINOPSE
Em um fracassado loteamento, Caim e seu irmão Abel desenvolvem uma versão conturbada do mito bíblico: a dialética história entre o sedentário e o nômade. Entre um Caim dono de um sítio, produtor de pimentões reputados e um Abel vagabundo, que fora de toda cadeia de produção sobrevive vendendo isca viva aos pescadores da região. Dois irmãos sempre em peleja que compartilham um mesmo terreno baldio dividido e que jamais poderão construir uma morada comum.

FICHA TÉCNICA
Texto | Mauricio Kartun
Tradução | Cecília Boal
Direção | Marco Antonio Rodrigues
Elenco | Celso Frateschi, Danilo Grangheia, Dagoberto Feliz e Demian Pinto
Direção musical | Demian Pinto
Assistente de direção | Thiago Cruz
Direção de produção | Ricardo Grasson
Cenário, figurinos e adereços | Sylvia Moreira
Preparação musical | Marcelo Zurawski
Preparação Corporal | Esio Magalhães
Assessoria de mágicas | Rudifran Pompeu
Visagismo | Kleber Montanheiro
Design de luz e operação| Túlio Pezzoni
Design de Som |Gabriel Hernardes
Operadora de som | Monique Carvalho
Fotografias | Leekyung Kim
Assessoria de imprensa | Márcia Marques
Mídias Sociais | Menu da Música
Design Gráfico | Zeca Rodrigues
Cenotécnicos | Zé Valdir e Marcelo Andrade
Gestão de Projetos | DCARTE e Corpo Rastreado
Administração | Corpo Rastreado e DCARTE
Produção executiva | Corpo Rastreado
Idealização | Instituto Boal

SERVIÇO
Quando: 11/01 a 24/02

Horário: Sexta e sábado, 21h. Domingos, 20h.
Centro Cultural São Paulo – Sala Jardel Filho
R. Vergueiro, 1000 – Vergueiro/ SP
Local: Sala Jardel Filho | Capacidade: 321 lugares
Classificação: 16 anos | Duração: 100 min
Ingressos: R$ 20,00 (inteira). R$ 10,00 (meia)


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