Zé Guilherme, cantor e
compositor cearense radicado em São Paulo, está de trabalho novo, comemorando
seus 20 anos de carreira. Após lançar, em 2015, um disco em
homenagem ao “cantor das multidões”, o artista deixa de lado o viés confortável
de ser apenas intérprete e lança o quarto disco, Alumia, com
repertório de músicas autorais, em sua maioria.
“Nunca tive pretensão de ser um
compositor, pois meu ofício maior é o de cantor. A poesia é um exercício que me
acompanha desde a adolescência, mas só agora, depois de 20 anos de dedicação à
música, eu me sinto mais à vontade para mostrar também o meu lado autoral”,
comenta.
Zé Guilherme assina letra e melodia
das composições “Alumia”, “Teus Passos” e “Canção de Você”. As letras são
frutos de seus poemas. E “as melodias nasceram intuitivamente, pois não sou
instrumentista”, afirma. Ele ainda divide a autoria de “Espelho” com Luis
Felipe Gama, de “Ave Solitária” e “Teu Cheiro” com Cris Aflalo, de “Laço” com
Marcelo Quintanilha e de “Oferendas” com Cezinha Oliveira, que é o produtor
musical e arranjador do álbum. Completando o repertório, Luis Felipe,
Quintanilha e Cezinha aparecem novamente como autores de “Franqueza”, “A Voz do
Rio” e “Cesta Básica”, respectivamente, ao lado do baiano Péri, compositor de
“Clarão” e “Paixão Elétrica”.
Alumia registra o
momento de amadurecimento artístico de Zé Guilherme. Não só pelo fato de ele se
mostrar também como compositor, mas pela própria trajetória musical. O primeiro
CD, Recipiente (Lua Discos, 2000), com arranjos de Swami Jr.,
apresentava sua origem nordestina e sua música universal brasileira em um trabalho
com a força da raiz e do pop brasileiro. Seis anos depois, o disco Tempo
ao Tempo chega com uma linguagem pop mais contemporânea nos arranjos
de Serginho R. O terceiro CD viaja no tempo e o artista faz um pouso na época
mais romântica da música brasileira com Abre a Janela – Zé Guilherme
Canta Orlando Silva, trabalho que também tem produção musical e arranjos de
Cezinha Oliveira.
O novo CD faz um sobrevoo por todos
esses caminhos para apresentar a MPB de Zé Guilherme, agora mais romântica, que
envereda por uma sonoridade acústica mais jazzística. “Os arranjos trazem como
unidade estética a sonoridade característica do piano, executado de forma
primorosa por Jonas Dantas (também no acordeon), e do baixo acústico, tocado
por Johnny Frateschi”, justifica o produtor musical. É possível perceber que
todas as músicas se harmonizam como células sonoras dentro da estrutura musical
do disco. Os demais instrumentos que aparecem são: bateria e percussão (por
Adriano Busko), violão e
guitarra (por Cezinha Oliveira) e sopros (por Walter Pinheiro). “Esse
trabalho pode ser considerado uma declaração de amor, amor a outras pessoas e à
minha própria vida”, confessa o intérprete.
As canções de Alumia
A faixa “Oferendas” (Cezinha
Oliveira e Zé Guilherme) tem arranjo elaborado para essa letra que fala do
encontro carnal, da viagem pelo corpo da pessoa amada. “Espelho” (Luis
Felipe Gama e Zé Guilherme) é uma composição que se assemelha à “lide” alemã.
Composta para voz e piano, o lirismo nasce da tensão entre a execução do
instrumento e a voz do intérprete. Fala do encantamento sentido na manhã
seguinte à noite de amor. “Ave Solitária” (Cris Aflalo e Zé
Guilherme) tem o sotaque nordestino do baião. Essa canção brejeira canta a alma
solitária que, como uma ave, busca um lugar para pousar. A romântica “Canção
de Você” (Zé Guilherme) é um poema sobre a saudade e as ilusões do
amor. “Teu Cheiro” (Cris Aflalo e Zé Guilherme) é também uma
canção de amor, em ritmo de bossa nova, que fala sobre a espera pela pessoa
amada.
A música “Alumia” (Zé
Guilherme), que dá nome ao CD, remete à origem nordestina do autor. Concebida
originalmente como coco com toques de carimbó, ela ganhou arranjo elaborado com
destaque para o piano de Jonas Dantas. A faixa “Teus Passos” também
fala de amor, de sedução, de conquista. O samba-choro “Franqueza” (Luis
Felipe Gama e João P. de Souza) traz na letra um soneto escrito, em 1918, por
João Pinto (avô das cantoras Ana Luiza e Juliana Amaral) e registrado em um
livreto artesanal. “A Voz do Rio” (Marcelo Quintanilha) é uma
homenagem a Oxum (orixá das águas doces, das cachoeiras; protetor da voz, do
amor). “Escolhi esta música porque também sou filho de Oxum”, comenta Zé
Guilherme.
Com uma pegada mais pop, vem “Laço” (Marcelo
Quintanilha e Zé Guilherme), outra canção romântica, cuja letra discorre sobre
as possibilidades e impossibilidades do amor. “Clarão”(Péri) é uma
homenagem a Oxalufan pela suprema criação (no candomblé ele é Deus, um Oxalá
velho e sábio). “Com esta música agradeço por estar vivo, pela proteção nos
momentos difíceis e por estar completando 20 anos de carreira artística”,
confessa o cantor. “Paixão Elétrica” (Péri), como o próprio nome
sugere, canta a paixão e as armadilhas do amor. Estava na seleção de músicas do
segundo CD de Zé Guilherme, mas só agora a ideia de gravá-la se concretizou. E “Cesta
Básica” (Cezinha Oliveira) é a faixa mais pop de Alumia. A
letra fala de sentimentos, sensações da vida, da busca pela felicidade. “Esta
composição faz uma síntese do que repertório do disco aborta. Tinha que estar
nesse roteiro, para amarrá-lo”, finaliza Zé Guilherme.
Lançamento/CD: Alumia
Artista: Zé Guilherme
Selo: Independente / Distribuição: Tratore
Preço sugerido: R$ 25,00
Comentários
Postar um comentário