11ª Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa, acontece em clima de paz e respeito







A orla de Copacabana foi mais uma vez palco para a Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa, que em sua 11ª edição reuniu candomblecistas, umbandistas, evangélicos, budistas, católicos e pela primeira vez puderam contar com a presença do Padre Fábio de Melo, do Pastor Kleber Lucas e do rabino Nilton Bonder.

O evento começou com um café da manhã, no Clube Israelita Brasileiro, oferecido à imprensa e aos líderes religiosos que puderam falar um pouco sobre a atual situação de cada segmento e seus desejos futuros.

Como anfitrião do evento, o Babalawô Ivanir dos Santos abriu o encontro falando sobre os casos de intolerância religiosa e da luta que alguns grupos religiosos continuam enfrentando por conta de diferenças religiosas e ideológicas. “Ninguém precisa querer matar ninguém porque um é diferente do outro”, argumentou. Em tempo, ele lembrou também que essa caminhada é crucial para o momento político que o país está passando.



Com a chegada da família de Marielle Franco, Ivanir dos Santos fugiu do protocolo e pediu para todos os representantes religiosos que dessem um abraço, literalmente, nos familiares, para que a família se sentisse realmente acolhida, e foi uma comoçãodiante da mãe Marinetedo pai Antônioda irmã Anielle da filha Luyana. Marielle Franco, assassinada em 14 de março, e o caso continua sem resposta até hoje. 

Para o rabino Nilton Bonder, o Brasil está num momento radicalmente dividido e o mundo segue cada vez mais intolerante. “Os religiosos estão sempre em discórdia uns com os outros. Estarmos juntos é sempre muito importante.”, ressaltou Nilton. 




O pastor Kleber Lucas parabenizou Ivanir por mais um ano da Caminhada e os dois falaram sobre suas origens pobre onde muitas vezes não tinham o que comer, porém sobrava honestidade e respeito às diversidades. “Eu aprendi a tolerância dentro de casa. Eu sou filho da favela, filho de mãe solteira e quando se tem fome você não quer saber de onde vem a comida”, relembrou Kleber Lucas, que muitas vezes recebeu comida através de doações de igrejas ou de terreiros. Em seguida o pastor convidou todos para cantar com ele a música “O que é o que é”, de Gonzaguinha, a qual chamou de “hino”.



O também estreante na Caminhada, Padre Fábio de Melo, aproveitou a oportunidade para esclarecer o mal entendido ocorrido em maio deste ano, quando fez o que chamou de “piada de mau gosto”, em relação às práticas religiosas da Umbanda e do Candomblé. Ao citar o caso de Marielle, Padre Fábio disse “A dor não tem religião”.

Fátima Damas, do CEUB, falou em nome de todos os Umbandistas e comentou mais um caso de intolerância religiosa sofrida agora pela Sociedade Espírita Ramatís, localizada na Tijuca, depredada no fim de semana. Fátima se diz responsável em auxiliar as casas que sofrem esse tipo de ataques e buscam nela uma ajuda. Ela reforçou que ainda falta união entre os líderes religiosos e consequentemente todo o povo. “Os religiosos que fazem seus trabalhos de caridade devem por obrigação buscar entender e respeitar o outro, pois só assim você passa a respeitá-lo.”




A irmã de Marielle Franco, Anielle Silva fez um breve agradecimento ao convite para participar da caminha, disse que a vida de cada um deles ficou marcada com o acontecimento mas que estão seguindo em frente. “Transformamos o nosso luto em luta”, disse Anielle.

Ao fim do café da manhã no CIB, todos seguiram caminhando até a orla de Copacabana e ao som das palavras de ordem “Marielle? Vive! Marielle? Vive! Marielle? Vive!”, o Babalorixá Renato de Obaluayê e a Yalorixá Miriam de Oyá, deram início à 11ª Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa. O Babalawô Ivanir dos Santos citou alguns casos de intolerância religiosa ocorridos recentemente no Rio de Janeiro e lembrou que em uma dessas ocasiões o Pastor Kleber Lucas foi duramente criticado e ofendido por estar apoiando o ato de solidariedade a um terreiro depredado em Nova Iguaçu.  

Em resposta, o pastor disse já ter superado o ocorrido e foi categórico em seu posicionamento, “Eu sou pastor evangélico e não represento o movimento evangélico de ódio que existe por aí”.

Momento de grande comoção foi quando Fábio de Melo convida Kleber Lucas e os presentes para cantar à capela a música de Milton Nascimento, “Maria, Maria”, simbolizando a luta e a fé de tantas Marias espalhadas por aí.

Ao longo da caminhada os líderes religiosos tiveram oportunidade de mandar mensagens ao público presente, exaltando a tolerância e o respeito às diferenças. "Não podemos jamais permitir que a intolerância religiosa nos faça reféns das falsas sensações de "liberdade de expressão" ou "opinião pessoal". Precisamos compreender que as nossas diferenças religiosas são as bases de sustentação das nossas diversidades enquanto seres humanos aqui na terra", afirmou o Bispo licenciado da Igreja Mundial Renovada e Subsecretário de Direitos Humanos de São João de Meriti, Marcelo Rosa.  

Os Filhos de Gandhi se apresentaram ao lado de Ogan Kotoquinho e, a pedidos, Genaro de Xangô cantou o Hino da Umbanda e diversos pontos de Umbanda acompanhado pelo grupo Zoa Atabaque.

Embalados pela canção “Andar com fé”, de Gilberto Gil, a caminhada seguiu pela orla de Copacabana comandada pelos organizadores que, entre uma benção e outra, entoavam gritos de guerra como “Eu tenho? Fé! Nós temos? Fé!”, que animavam o público presente. Estima-se que 70 mil pessoas participaram do evento, dentre eles terreiros de Umbanda e de Candomblé, grupos denominados pagãos como Wicca, Jongo, 16 artistas perna de pau e grupos culturais, dentre eles : Padê, Cordão do Boitatá, As de Paus, Terreirada Cearense, Amigos da Onça, Rio Maracatu, Multibloco, Cia Folclórica do Rio – UFRJ, Coletivo Pernalta, Cultura Zona Oeste e outros.

Ivanir encerrou a fala da Caminhada alertando a todos para o cenário político do Brasil. Pediu atenção de todos no momento do voto. O Babalawô reforçou que mais uma vez não recebeu qualquer tipo de ajuda de nenhum órgão público para a realização da Caminhada e que já está pronto para a 12ª edição no ano que vem.

Convidado por Ivanir para participar da Caminhada, o Padre Marcos Miranda - que veio especialmente de São Paulo para o evento - sacerdote católico, cantor e compositor, falou sobre o poder que cada um tem de escolher o caminho religioso a seguir e cantou canções do seu primeiro CD “Quando o impossível acontece”.


Ao final, Ogan Kotoquinho transformou a orla de Copacabana num verdadeiro Xirê, onde todos puderam confraternizar o sucesso de mais uma caminhada. A caminhada registrou em torno de 70 mil pessoas nessa edição. 

Comentários