Figura 1 Frame do filme que compõe o espetáculo A Sagração da Primavera – Quadros de uma Dívida não Paga
“Há no espetáculo um devir-criança, uma memória de quando a gente brincava de cabaninha e essa ‘obscuridade’ gerava um corpo que se permitia mais – mais exageros, mais deformidade, a possibilidade do grotesco, do inusual”. Bruno Moreno, um dos diretores do espetáculo
Fonte: Canal Aberto Assessoria de Imprensa
Márcia Marques
Dívida. Segundo o dicionário
Michaelis, o substantivo feminino DÍVIDA envolve alguns significados, dentre
eles o de culpa, pecado, a obrigação de pagar, dar ou fazer uma determinada
coisa a alguém. Uma condição forçada. A partir de um processo de pesquisa que chegou à
constatação de que estamos todos na condição de devedores (da dívida financeira
à amorosa, passando pelas morais e subjetivas), o [pH2]: estado
de teatro montou A
Sagração da Primavera: Quadros de uma Dívida não Paga, e faz sua estreia
dia 14 de maio na Oficina Oswald de Andrade (Rua Três Rios, 363, Bom Retiro,
São Paulo, SP). A temporada, gratuita, vai até o dia 04 de junho. Esse projeto
foi contemplado pela 26aedição do Programa Municipal de Fomento ao
Teatro para a Cidade de São Paulo.
A dívida que o grupo não paga - Ao chegar ao teatro, o
espectador vai se deparar com uma companhia que deseja inserir o cinema e a
dança como parte fundamental dessa nova montagem. O espetáculo A
Sagração da Primavera: Quadros de uma Dívida não Pagacomeça com o encontro
de seis pessoas dispostas a não pagarem suas dívidas e que, por isso, decidiram
tentar desaparecer. Os personagens Mônica, Lia, Lindenbergh, Tânio, Chiara e
David, que não são adultos, nem são crianças, inventam, cada um à sua maneira,
a forma de não pagar suas dívidas. Assim como em Os Idiotas, de
Lars von Triers, em que o diretor dinamarquês filma um grupo de amigos que
decide virar as costas para as regras e hipocrisias da sociedade, o grupo [pH2]: estado de teatro utiliza-se de um devir-criança
para o registro de interpretação dos atores em cena.
Os modos como esses amigos ensaiam
seus desaparecimentos incluem o planejamento da própria morte, passando pela
possibilidade de uma abdução por extraterrestres, e o desaparecimento pelo mar;
transmutando-se em sereia. O desenvolvimento das situações neste momento da
obra ocorre por meio de um filme rodado com uma câmera GoPro, dirigida por
Renato Sircilli e Rodrigo Batista. É através de uma projeção que a plateia verá
os corpos dos atores do [pH2] em cenas que dialogam com os movimentos da música
de Stravinsky.
Na segunda parte da música, esses
mesmos atores, agora ao vivo, dançam o momento do sacrifício da primavera.
Embora presentes, o público não verá os atores, mas assistirá o que resulta
dessa coreografia encoberta pela lona, quando a possibilidade do anonimato pode
conferir aos corpos, e quem sabe à própria vida, um estado de maior
permissividade.
PESQUISA E MONTAGEM
Para nortear uma das etapas dessa
criação, o grupo convidou o bailarino e coreógrafo Marcelo Evelin para fazer
uma proposição que pudesse agregar elementos ao tema da dívida. O mote do
endividamento nasceu no Projeto 85 – A dívida em 3 episódios, ainda
no ano de 2015, quando o [pH2] se
uniu às companhias Lagartijas Tiradas al Sol (Cidade do México) e ao grupo
colombiano La Maldita Vanidad (Bogotá) para refletir sobre a história recente
dos três países. Nesta ocasião, o endividamento
público apareceu como eixo central. Na sequência, ao dar prosseguimento à
pesquisa do [pH2], o grupo optou por investigar as reverberações da dívida na
subjetividade de homens e mulheres que apresentam em seus corpos vestígios de
um endividamento que vai muito além do econômico.
Como entra A Sagração da
Primavera no contexto proposto pelo grupo? A obra, do
compositor erudito russo Igor Stravinsky, conta a história de uma
jovem virgem que deve ser sacrificada, como uma oferenda ao deus da primavera,
para que, nessa estação que se inicia, as terras fossem férteis. Vale lembrar
que essa obra demorou cerca de 30 anos para ficar pronta, e hoje está
consagrada como uma das mais influentes músicas do início do período moderno.
O ponto de intersecção nasceu dos
encontros com Evelin, quando o coreógrafo propôs experiências relacionadas a um
corpo permissivo, um corpo sem dívidas. Como seria esse corpo liberto? Como
negar e não pagar todas as formas de dívida? “Desaparecer é uma forma de não pagar a
dívida”, foi uma das conclusões do grupo nas palavras de um dos diretores da
montagem, Rodrigo Batista, que complementa que “você tem que estar vivo para
ser devedor, se você desaparece não há mais possibilidade de cobrança de
dívidas”.
E assim foi feito. O grupo desaparece
em cena. Embaixo de uma lona preta, dessas de construção, com cerca de 100 m2,
os atores e atrizes do [pH2] dançam A
Sagração daPrimavera. Mas não pagam a dívida ao público
de exibir a coreografia mais montada ao redor do mundo, a obra considerada uma
antítese do ballet moderno, demarcadora de fases na dança mundial. É por baixo
da lona que aparece um corpo capaz de se libertar. Segundo outro diretor da
montagem, Bruno Moreno, “há no espetáculo um devir-criança, uma memória de
quando a gente brincava de cabaninha e essa ‘obscuridade’ gerava um corpo que
se permitia mais – mais exageros, mais deformidade, a possibilidade do
grotesco, do inusual”.
SOBRE A ENCENAÇÃO
Desde a sua fundação, o grupo
interessou-se por trazer - conceitualmente - outras linguagens para a criação
de suas obras. Na intenção de radicalizar essa pesquisa audiovisual do grupo, Rodrigo
Batista encontrou na parceria com Renato Sircilli - cineasta que dirigiu curtas metragens
que circulam por diversos festivais nacionais e internacionais - a chance de
juntos produzirem um filme dentro do contexto do Projeto 85 - A dívida
em 3 episódios, contemplado pelo Programa Rumos Itaú Cultural 2014. O
Rosto da Mulher Endividada, um dos episódios do Projeto 85, é um filme que
conseguiu seguir independente das peças e participar de importantes festivais de cinema, como a
Mostra Foco no Festival de Cinema de Tiradentes (2016), além de ganhar o prêmio
da Mostra do Filme Livre promovida pelo CCBB (2016).
Para a continuidade da pesquisa, o
grupo iniciou a construção do espetáculo A Sagração da Primavera: Quadros de
uma Dívida não Paga a
partir de um laboratório com o coreógrafo piauiense Marcelo Evelin,
que serviu como um gatilho para a encenação dessa nova montagem. A
ponte para a parceria entre o grupo e o coreógrafo se fez através de Bruno
Moreno, também integrante do [pH2] e que, paralelamente, realiza pesquisas
em dança por meio de parcerias com renomados coreógrafos da cena
contemporânea, entre eles, o colombiano Luis Garay e o próprio Marcelo Evelin.
Para a montagem desta célebre obra, a parceria entre Renato e Rodrigo
se mantém para criarem uma leitura cinematográfica sobre a primeira parte da
obra. Para a segunda parte, o grupo opta por uma composição coreográfica que é
conduzida por Bruno Moreno em parceria com a dançarina convidada Isabella Gonçalves.
Assim, a obra teatral A Sagração da Primavera: Quadros de
uma Dívida não Paga é
assinada pelos três integrantes (Rodrigo Batista, Renato Sircilli e Bruno Moreno) que radicalizam a
utilização do cinema e da dança para construírem a versão do [pH2] sobre A
Sagração da Primavera.
[PH2]: ESTADO DE TEATRO - HISTÓRICO
O [pH2]: estado de teatro foi criado
em 2007 no Departamento de Artes Cênicas da Universidade de São Paulo e ao
longo de oito anos de existência integra artistas
que apresentam formações nas áreas teatral, pedagógica, das artes visuais, da
dança e do cinema.
Em 2015, apoiados pela 26ª Edição do
Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo, para o
projeto Endividado, o grupo estreia o espetáculo A Sagração
da Primavera: Quadros de uma Dívida não Paga .
Em 2014 o grupo foi contemplado pelo
prêmio Rumos Itaú Cultural para desenvolver o projeto: ¿Qué hacíamos en 1985?:
caminos de jovenes creadores latino-americanos. O projeto contou com ações de
intercâmbio com os grupos La Maldita Vanidad (Colômbia) e Lagartijas Tiradas al
Sol (México) e criação da obra Projeto 85: a dívida em três episódios.
Com o espetáculo Stereo
Franz, estreou internacionalmente em junho de 2013 no Büchner
International Festival, na Alemanha, e nacionalmente no Festival
Ibero-Americano de Artes Cênicas de Santos – MIRADA, em setembro de
2014.
Em 2011, pela 18ª edição da Lei de
Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo, realizou o projeto Diálogos
com o Trágico: perspectivas contemporâneas que compreendeu os dois
espetáculos criados pelo grupo em seus primeiros cinco anos de existência (Manter
Em Local Seco e Arejado e Mantenha Fora do Alcance de Crianças),
a estreia do espetáculo inédito Átridas em novembro de 2012 e
a publicação de um Dossiê Filosófico. Entre 2012 e 2013, o grupo,
também, circulou nacionalmente através do prêmio ProCultura, com o espetáculo Mantenha
Fora do Alcance de Crianças, apresentando nas cidades de Belo Horizonte,
Salvador, Florianópolis, Londrina, Uberlândia e Santos.
FICHA TÉCNICA
ATORES e (PERSONAGENS)
Beatriz Id Limongelli (Mônica), Bruno
Moreno (David), Cainã Vidor (Tânio), Luiz Pimentel (Lindenbergh), Maria Emília
Faganello (Chiara) e Paola Lopes (Lia)
LUZ Luana Gouveia
DESENHO DE SOM E MIXAGEM Cainã Vidor
DIREÇÃO DE ARTE Elton Almeida
CONTRARREGRA Daniela Colazante
MAQUIAGEM Felipe Ramirez
ARTISTA COLABORADOR Marcelo Evelin
MONTAGEM DO FIME Renato Sircilli
DIREÇÃO CINEMATOGRÁFICA Renato Sircilli e Rodrigo
Batista
DIREÇÃO COREOGRÁFICA Bruno Moreno e Isabella
Gonçalves
ENCENAÇÃO Bruno Moreno, Renato Sircilli e
Rodrigo Batista
PRODUÇÃO Palipalan Arte e Cultura
REALIZAÇÃO [pH2]: estado de teatro com
apoio da Lei de Fomento ao Teatro do Município de São Paulo
PARA ROTEIRO
Seis amigos decidem desaparecer para
não serem cobrados por suas dívidas morais, financeiras e afetuosas e para
tanto inventam modos de serem e estarem invisíveis. Os atores encontram-se
embaixo de uma lona preta, deixando seus corpos submersos na permissividade do
escuro e do não aparente. Calcados na obra A Sagração da Primavera,
de Igor Stravinsky, o grupo [pH2]: estado de teatro propõe uma
obra teatral baseada no cinema e na dança.
SERVIÇO
A Sagração da Primavera: Quadros de uma
Dívida não Paga
Oficina Oswald de Andrade - Rua Três Rios, 363 Bom Retiro – São
Paulo – SP
Temporada: de 14 de maio a 4 de junho de 2016
Às quintas, sextas, sábados e
segundas, às 20h
Telefone: 11 3221 5558
Duração: 90 minutos Lotação: 40
pessoas Ingresso: Grátis, ingresso uma hora antes
VIRADA CULTURAL - Dia 21 de maio - Sábado
SESC BELENZINHO - R. Padre Adelino,
1000 - Belenzinho, São Paulo - SP, 03303-000
Sala de Espetáculo 1
Telefone: (11) 2076-9700 - Grátis
21h – Espetáculo A Sagração da Primavera: Quadros de
uma Dívida não Paga
23h – Curta metragem O
Rosto da Mulher Endividada
23h59 – Espetáculo A
Sagração da Primavera: Quadros de uma Dívida não Paga
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