Fonte: Marcelo Pria /Fotos Raphael Poesia
Espetáculo é fruto de dois anos de
pesquisa sobre a loucura e contrapõe o corpo que é socialmente invalidado ao
corpo que é socialmente produtivo
Dia 12 de dezembro, na Casa de Cultura de
Santo Amaro, o espetáculo Sociedade dos Improdutivos, da Cia. Sansacroma tem
direção de Gal Martins e é o resultado de dois anos de pesquisa teórica e de
campo sobre a loucura.
O questionamento central do
espetáculo contrapõe o corpo que é socialmente invalidado ao corpo que é
socialmente produtivo. O primeiro é marginal portador de algum tipo de loucura.
O segundo é medicado, incluído e sujeitado ao modo de vida capitalístico –
corpo explorado até o esgotamento das suas capacidades produtivas.
Trata-se da invalidez da reprodução.
Força invisível chamada de loucura, transcender coletivo. A não-adequação
social produtiva. É solidão. É a história, um itinerário da loucura em fusão
para um embate contra o capital. O controle ocidental contrapondo a
corporeidade do imaginário africano. São vozes potentes, negras, de territórios
e seus povoamentos. Um cotidiano dos que estão à margem e dos que não
estão. São vozes da "Sociedade dos Improdutivos".
A pesquisa
O trabalho de pesquisa teórica da
companhia foi um consistente estudo sobre a história da loucura no ocidente. De
Hieronymus Bosch, Pieter Bruegel, Erasmo de Roterdã, passando pela Nau dos
Insensatos, de Sebastian Brant, até o conceito de Biopoder de Michel Foucault,
pelo pensamento junguiano que inspira o trabalho da psiquiatra Nise da Silveira
e pelos paradigmas que norteiam a Reforma Psiquiátrica e Luta Antimanicomial no
Brasil.
A pesquisa de campo foi realizada
inicialmente através de 12 intervenções artísticas junto aos usuários do Caps
(Centro de Atenção Psicossocial) Jardim Lídia, que fica no Capão Redondo. E se
estendeu por meio de um vínculo entre a companhia, os profissionais de saúde e
os usuários deste Caps, direcionado a outras atividades artísticas na Fábrica
de Cultura Capão Redondo.
Essencialmente implicada com as
questões políticas e minoritárias, a companhia observou a maioria de corpos
negros e periféricos presentes tanto nos manicômios do passado, quanto nas
atuais unidades dos Caps.
Não por acaso, no momento em que a
Sansacroma decide imprimir a força de sua negritude e ultrapassar a concepção
dominante ocidental sobre a loucura, o encontro com o continente africano
acontece pela narrativa da pesquisadora Denise Dias Barros e sua publicação
“Itinerários da Loucura em Territórios Dogon” (Casa das Áfricas, 2004). Nesta
região do Mali, a vida de cada um se dá na continuidade ancestral e se produz
na malha social, constituindo redes de convívio na intersecção entre o mundo
invisível e visível.
O recorte coreográfico da
etnomedicina Dogon, desconstrói o olhar eurocêntrico da loucura e redimensiona
o espetáculo. Um novo panorama se abre aos saberes ancestrais. Tradições que
interferem diretamente nos procedimentos terapêuticos, criando uma tessitura
complexa, onde a figura dos adivinhos, ou marabus, são elementos principais no
processo de cura, na reapropriação do si, da saúde, da autonomia e da
liberdade.
Do encontro com estes pensamentos e
experiências, Gal Martins expõe um dos argumentos que compõem o espetáculo:
“É conveniente manter a sombra oculta
e invisível aos olhos de uma sociedade sujeitada a valores de consumo, que
legitima enunciados científicos em torno de uma idealização de saúde. Essa
perspectiva ocidental, forjada histórica e linguisticamente, extrai a
singularidade expressiva e a potência de produção do ‘louco’. O inscreve na
vulnerabilidade, no abandono, na miséria e na subjetividade-lixo, que impõem
sua dependência aos tratamentos de contenção, ao consumo de medicamentos,
substituindo o confinamento do passado, pelos controles farmacológicos e
institucionais do presente”.
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justify;line-height:normal;background:white'>O trabalho de pesquisa teórica da
companhia foi um consistente estudo sobre a história da loucura no ocidente. De
Hieronymus Bosch, Pieter Bruegel, Erasmo de Roterdã, passando pela Nau dos
Insensatos, de Sebastian Brant, até o conceito de Biopoder de Michel Foucault,
pelo pensamento junguiano que inspira o trabalho da psiquiatra Nise da Silveira
e pelos paradigmas que norteiam a Reforma Psiquiátrica e Luta Antimanicomial no
Brasil.
A pesquisa de campo foi realizada
inicialmente através de 12 intervenções artísticas junto aos usuários do Caps
(Centro de Atenção Psicossocial) Jardim Lídia, que fica no Capão Redondo. E se
estendeu por meio de um vínculo entre a companhia, os profissionais de saúde e
os usuários deste Caps, direcionado a outras atividades artísticas na Fábrica
de Cultura Capão Redondo.
Essencialmente implicada com as
questões políticas e minoritárias, a companhia observou a maioria de corpos
negros e periféricos presentes tanto nos manicômios do passado, quanto nas
atuais unidades dos Caps.
Deste modo, a poética do espetáculo
pretende ultrapassar a mera denúncia ao capitalismo para fomentar empatias
marginais e produzir percepções que levam o espectador a vivenciar processos
que são humanos, mas que o sistema segregador institui como desvio, sintoma e
doença indesejada. Nesta poética, a loucura das pessoas se afirma como potência
singular que cria possíveis comuns, as situa num mundo e legitima uma vida.
Estrutura cênica
O espetáculo tem uma estrutura cênica
alternativa e sensorial. A música ao vivo e a ocupação numa instalação
coreográfica deslocam o público para uma lógica dos sentidos e o retira da
lógica do consumo que organiza a vida contemporânea. As sensações e reações
motoras dos que assistem, vão compor a dramaturgia do espetáculo.
As estações coreográficas do
espetáculo delineiam e revelam o quanto pode ser poderoso o ato de narrar e
expressar um sofrimento. Narrativa gestual que se torna um ato de resistência
política, afecção sensível e transformação de realidade social.
Sobre a Cia. Sansacroma – Criada em
2002 pela atriz, dançarina e coreógrafa Gal Martins, a Cia. Sansacroma tem se
dedicado a desenvolver trabalhos baseados no hibridismo característico às
criações coreográficas na contemporaneidade. Sua produção artística focaliza
temas pertinentes à sociedade atual, no modo em que chegam e afetam a todos
diretamente, seja no cotidiano das ruas, nas relações sociais e interpessoais,
na mídia ou na própria arte. A Dança da Indignação, conceito criado pela
artista, norteia a pesquisa de linguagem estética da companhia, que pretende
reverberar no ato dançante as indignações coletivas, numa abordagem
política-poética que aponta para as intersecções entre arte e vida. Tendo feito
uma escolha singular ao atuar diretamente na periferia sul de São Paulo, este
território influencia diretamente o seu processo artístico. O ponto de partida
das criações são as poéticas do corpo negro, que circulam na população dessa
região, a qual a companhia chama de indigenordestinafricana.
east-language:PT-BR'>A pesquisa de campo foi realizada
inicialmente através de 12 intervenções artísticas junto aos usuários do Caps
(Centro de Atenção Psicossocial) Jardim Lídia, que fica no Capão Redondo. E se
estendeu por meio de um vínculo entre a companhia, os profissionais de saúde e
os usuários deste Caps, direcionado a outras atividades artísticas na Fábrica
de Cultura Capão Redondo.
Essencialmente implicada com as
questões políticas e minoritárias, a companhia observou a maioria de corpos
negros e periféricos presentes tanto nos manicômios do passado, quanto nas
atuais unidades dos Caps.
SERVIÇO:
Espetáculo Sociedade dos Improdutivos
Cia. Sansacroma
Direção: Gal Martins
Espetáculos dias 11 e 12 de dezembro,
sexta e sábado, às 20h, na Casa de Cultura de Santo Amaro - Manoel Cardoso de
Mendonça, à Praça Doutor Francisco Ferreira Lopes, 434, São Paulo, Telefone: 11
5522-8897
Entrada franca
Duração: 50 minutos
Classificação etária: 14 anos
Capacidade: 40 lugares
FICHA TÉCNICA
Direção e Concepção: Gal Martins
Intérpretes Criadores: Djalma Moura,
Verônica Santos, Ciça Coutinho, Lucas Lopes, Érico Santos e Mônica Teodosio
Orientador de Pesquisa e Provocação
Cênica: Rodrigo Reis
Direção Musical: Cláudio Miranda
Músicos: Claudio Miranda, Alessandro
Neres, Luís Henrique, Paulinho Torres e Fábio Miranda
Figurinos e Adereços: Mariana
Farcetta
Concepção e Operação de Luz: Almir
Rosa
Preparação Corporal: Luciane Ramos,
Edson Fernandes, Francisco Silvino e Mariama Camara
Orientação de Pesquisa de Campo:
Rodrigo Dias
Cenotécnico e Técnico de Áudio: Fábio
Miranda
Ensaiador: Djalma Moura
Direção de Produção: Selene Marinho
Assistente de Produção: Dandara Gomes
e Lucas Bernardo
Assessoria de Imprensa: Marcelo Dalla
Pria
Aproximação com o Público: Ciça
Coutinho e Dandara Gomes
Fotografia: Raphael Poesia
Designer Gráfico: Hellem Fernandes
Colaboradores: Denise Dias Barros e
Priscila Paciência
Agradecimentos: Caps Jd.Lídia,
Secretária Municipal de Saúde e Valéria Ribeiro
Informações para a Imprensa – Cia
Sansacroma:
Marcelo Pria
MTB # 027461
Pollux Comunicações
11 98739-6179
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