No mês da luta da pessoa com deficiência, museus cariocas ampliam programas de acessibilidade e inclusão

  

No mês da luta da pessoa com deficiência, museus cariocas ampliam programas de acessibilidade e inclusão

Em setembro, Museu do Amanhã inaugura sala de autorregulação, enquanto Museu do Jardim Botânico prepara domingo especial dedicado à acessibilidade




 

Rio de Janeiro, 16 de setembro de 2025 —Setembro é marcado pela força das mobilizações em torno do Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência (21) e do Dia Nacional da Pessoa Surda (26). Nesse contexto, museus como o Museu do Amanhã e o Museu do Jardim Botânico têm buscado construir práticas que dialoguem com essas lutas, ampliando as possibilidades de acesso e de produção de experiências plurais.

 

O Museu do Amanhã já conta com diretrizes robustas relacionadas à práticas acessíveis junto à pessoas com deficiência e, este mês, inaugura a Sala de autorregulação. Disponível para qualquer pessoa sem agendamento prévio, o espaço foi desenvolvido pelo museu a partir de pesquisas voltadas à criação de condições de acolhimento e participação de diferentes modos de existência, incluindo o público neurodivergente. A sala conta com recursos como regulação da luz e variação de cores, piscina de bolinhas, pufe, poltrona e objetos de exploração tátil, além de kits de autorregulação com itens como abafadores de ruído e óculos escuros.

 

O vice-presidente da Autistas do Brasil, Arthur Ataide Ferreira Garcia, reforça a importância de iniciativas como essa diante dos desafios que neurodivergentes enfrentam para frequentar espaços de cultura: “Prover acessibilidade não é só garantir que os nossos direitos sejam respeitados, mas também é entregar acolhimento, validação e respeito à nossa existência como um todo. É compreender que um processo sensorial diferente também constitui a totalidade do que nos torna pessoas autistas e do que nos torna quem somos”, afirma.

 

A iniciativa veio após a inauguração de outros dois projetos de acessibilidade e inclusão do Museu do Amanhã: a Narrativa Descritiva Visual e o Mapa Sensorial, voltados à ampliação das formas de participação de pessoas neurodivergentes e com deficiência visual. Para além das novidades, ainda há recursos como a robô Ma.IA, que possui a finalidade de guiar pessoas com mobilidade reduzida ou deficiência visual para os principais pontos do museu.

 

Para reafirmar a centralidade das lutas políticas desses movimentos sociais, o Museu do Amanhã acredita que é preciso ir além do discurso sobre inclusão, reconhecendo e fortalecendo as reivindicações históricas por acessibilidade, participação e transformação das instituições culturais. “O Museu do Amanhã tem o compromisso de construir experiências que reconheçam e acolham a diversidade das formas de existência. Por isso, nossos trabalhos não param: dedicamo-nos a cada detalhe, desde as pesquisas que dão início aos projetos até a consolidação da experiência do visitante, sempre atentos à produção de acessibilidades que ampliem modos de participação”, explica Camila Oliveira, gerente geral de conteúdo.

 

Já o Museu do Jardim Botânico promove, no próprio dia 21, uma edição especial do Domingo Acessível, além da já tradicional no último domingo do mês (28). A iniciativa busca oferecer experiências que contemplem diferentes formas de percepção, mobilidade e comunicação, acolhendo pessoas com deficiência visual, auditiva, intelectual, motora e neurodivergente. As atividades incluem recursos como interpretação em Libras, materiais táteis, mediações sensoriais e estratégias que estimulam a autonomia e o protagonismo dos participantes.

 

“O Museu do Jardim Botânico já dispõe de recursos que tornam a visita acessível a diversos públicos. O Domingo Acessível amplia essa vivência, que é educativa para todos, não apenas para pessoas com deficiência. Quanto mais diversidade, maior é a aprendizagem”, destaca Daniela Alfonsi, diretora do Museu.

 

O Museu do Jardim Botânico dispõe de piso podotátil, que orienta o percurso de pessoas com deficiência visual, além de mapa tátil de cada pavimento e uma maquete tátil do edifício. Complementando os recursos, o espaço oferece um WebApp com conteúdos acessíveis, incluindo textos em português, inglês e espanhol, vídeos em Libras e recursos de audiodescrição. É também um dos primeiros museus a ter todos os textos expositivos adaptados à linguagem simples.

 

Apenas no estado do Rio de Janeiro, há cerca de 89 mil pessoas com deficiência registradas na Carteira de Identidade Nacional (CIN) até julho de 2025. Além disso, seus rendimentos são significativamente menores do que os das pessoas sem deficiência, e iniciativas como redução do preço das entradas tanto para elas como para seus acompanhantes também colaboram para o acesso – no Museu do Amanhã, PcDs pagam meia e seus acompanhantes não pagam; no Museu do Jardim Botânico, a entrada é liberada para todos. Assim, ações como essas posicionam os museus como garantistas da execução do Estatuto da Pessoa Com Deficiência, que estabelece o direito ao acesso a bens culturais em formatos acessíveis e a serviços culturais adaptados.

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