Figura 1 Cena do espetáculo - Foto Isabel Praxedes
Após uma temporada curta e com casa cheia no TUSP,
espetáculo faz nova temporada no CCSP, na sala Jardel Filho
“Essa
montagem pretende friccionar o texto Navalha na Carne contra a própria
pele a partir da realidade, experiência e pesquisa de artistas, que, por meio
de suas trajetórias, articulam a presença negra na cena e na sociedade
contemporâneas”. Rodrigo dos Santos, ator
Reestreia dia 19 de outubro, às 21h,
na Sala Jardel Filho no Centro Cultural São Paulo, o espetáculo NAVALHA
NA CARNE NEGRA, com direção e dispositivo cênico de José Fernando
Peixoto de Azevedo. No elenco os atores Lucelia Sergio, Raphael Garcia e
Rodrigo dos Santos.
A peça de Plínio
Marcos, que no ano passado completou 50 anos, é tida como um clássico do
“teatro marginal”: aquela cena que fazia ver a “escória da sociedade”. No caso
de Navalha na Carne, figuram três personagens, Neusa Sueli, Vado e
Veludo, respectivamente, uma prostituta, um cafetão e um camareiro gay, que,
nas palavras do crítico teatral Décio de Almeida Prado, fazem parte de um
“subproletariado” – “uma escória que não alcançara sequer os degraus mais
ínfimos da hierarquia capitalista”.
Foto : Isabel Praxedes |
Se muitos a
consideram uma obra “datada” sob alguns aspectos, essa nova montagem pretende
friccionar Navalha na carne contra a própria pele – a
realidade, a experiência e a pesquisa de uma atriz, dois atores e um diretor
negros, que vêm construindo suas trajetórias através de uma proposta estética
que articule a presença preta na cena e na sociedade contemporâneas: José
Fernando Peixoto de Azevedo, dramaturgo, diretor teatral e professor da Escola
de Arte Dramática da USP, foi diretor e fundador do Teatro de Narradores
(1997-2017) e colaborador do grupos Os Crespos, além de dramaturgo do
espetáculo “Isto é um negro?”; Lucelia Sergio, da Cia Os Crespos (SP); Raphael
Garcia, do Coletivo Negro (SP); e Rodrigo dos Santos, da Cia dos Comuns (RJ),
grupos que tem extensa pesquisa teatral sobre o tema.
Foto : Fábio Burtin |
DO CORPO NEGRO, por José Fernando
Peixoto de Azevedo
A problemática do
corpo preto e seus históricos processos de marginalização social servem de mote
central para nossa montagem, que pretende lançar luzes sobre algumas questões
relativas à hierarquização social vigente nas sociedades contemporâneas. Essas
questões atravessam o texto de Plínio Marcos e reverberam na própria produção
teatral hegemônica em nosso país. Quem são esses “marginais” de Plínio Marcos
hoje em dia? Onde se encontram? Como vivem? Como lidam com seus desejos e
necessidades? Qual sua expectativa de vida? Será que se reconhecem como parte
da “escória”? O que esperam da sociedade – se é que ainda esperam alguma
coisa?
Foto : Fábio Burtin |
Do corpo-mercadoria –
essa redução perversa da imagem do corpo preto produzida pela história da
escravidão – à mercadoria-corpo que é a prostituta Neusa Sueli estancando a
fome com seu sanduíche de mortadela; da sexualidade excessiva da “bicha” Veludo
à sexualização do corpo negro, esse corpo-objeto, ao qual não se
concede o direito ao desejo; e, a partir daí, até a fantasmagoria viril chamada
Vado, cuja expressão é a imitação de uma violência cuja gramática constitui uma
gestualidade macaqueada da violência naturalizada na figura do macho nacional.
DO EXCESSO E DA EXCEÇÃO
São excessos de vida e de morte, de potência e impotência, de grandeza e
insignificância, são vestígios de uma história marcada no corpo preto, feita de
gritos e de silêncios. Imaginar um futuro implica, para nós, lançar o olhar às
cicatrizes e permitir-nos a escuta de uma potência inaudita – provavelmente, a
voz de um anseio oprimido que jamais desistiu da vida.
Foto : Isabel Praxedes |
Nessa NAVALHA NA CARNE NEGRA, as figuras em jogo não são apenas vítimas
ou imagens de uma destituição absoluta. Elas são sobretudo figuras em
luta: em cena como na vida, a luta pela vida revela o quão portadoras de
vida ainda são. Na resiliência desses corpos adoecidos de sua negação,
revela-se uma intuição silenciosa, de que os atravessamentos produzem
diferença, permitem que saibam ainda o que são; como qualquer corpo doente, são
corpos que imaginam cura.
DA CENA
A cena se constitui como um dispositivo-estúdio, em que as imagens são
captadas e transmitidas ao vivo, elaborando uma espécie de adesão: o ponto de
vista da câmera adere a Neusa Sueli. Presente o tempo todo em cena, a câmera,
esse dispositivo de olhar, de enquadramento, força a construção. O espectador
vê o jogo em cena e compara com o corte que assiste na tela. Os monitores
revelam a dimensão do corte, emoldurando o jogo e sua teatralidade. É preciso
atravessar essa saturação da imagem, do corte, do enquadramento, para conferir
a suposta totalidade da cena, já saturada de presenças, transitando entre o
jogo ficcional do texto e o jogo estrutural da captação de imagem. A luta entre
as personagens é duplicada pela tensão gerada por esse trabalho de captura da
imagem.
O olhar dessa puta – essa Neusa Sueli preta,
mulher, corpo-mercadoria – contempla, porque precisa
contemplar, a imagem de um futuro. Ela se mantém atenta, examinando a miséria,
o desespero e a desesperança, em busca de uma pista – o mais sutil laivo de
vida. Seu olhar há de nos indicar a direção do grande salto.
FICHA TÉCNICA
Direção
Geral e Dispositivo Cênico
José
Fernando Peixoto de Azevedo
Atores
Lucelia
Sergio
Raphael
Garcia
Rodrigo
dos Santos
Vídeo
Isabel
Praxedes
Flávio
Moraes
Iluminação
Denilson
Marques
Direção
de Arte
Criação
Coletiva
Assessoria
para o Trabalho Corporal
Tarina
Quelho
Programação
Visual
Rodrigo
Kenan
Produção
corpo
rastreado
SERVIÇO
NAVALHA
NA CARNE NEGRA
Local: CCSP – Sala Jardel Filho
De
19 de outubro a 11 de novembro de 2018
*Não
haverá espetáculo nos dias 27 e 28/10, devido ao período eleitoral.
Temporada: sexta e sábado, 21h; domingos 20h
Endereço: Rua Vergueiro, 1000 | São Paulo |
SP
Telefone: (11) 3397-4002
Ingressos: R$ 20,00 inteira e R$ 10,00 meia.
Horário
de funcionamento da bilheteria: De terça a sábado, das 13h às 21h30. Domingos,
das 13h às 20h30 ou no site da Ingresso Rápido https://www.ingressorapido.com.br/event/10150/d/44525/s/221236
Classificação 16 anos | Duração 60
minutos | Capacidade: 321 lugares
ASSESSORIA
DE IMPRENSA:
Com Canal Aberto | Márcia Marques | Daniele Valério
Contatos: (11) 2914 0770 / 9 9126 0425
marcia@canalaberto.com.br| daniele@canalaberto.com.br
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